Autor:
Euclides F. de A. Cavalcanti
Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Última revisão: 11/07/2009
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Consequências no longo prazo da doação de rins.
Long-Term Consequences of Kidney Donation. N Engl J Med 2009;360:459-69. [Link para o abstract]
O transplante renal permanece como a terapêutica de escolha para o tratamento da insuficiência renal crônica dialítica, pois confere melhor qualidade de vida e sobrevida aos pacientes1,2. No entanto, não há órgãos suficientes advindos de cadáveres e as filas de espera podem ser longas, sendo uma opção muito utilizada o transplante inter-vivos. Logo, é de fundamental importância reconhecer a segurança no longo prazo deste procedimento para o doador e saber se estes apresentam maior incidência de insuficiência renal em acompanhamentos de longo prazo. Estudos anteriores mostraram que o procedimento aparentemente não leva a risco de insuficiência renal terminal nos doadores, mas foram estudos limitados pelo curto tempo de acompanhamento e poucos pacientes analisados1.
Entre novembro de 1963 e dezembro de 2007 foram realizadas 3.698 nefrectomias em doadores vivos na Universidade de Minnesota. Segundo os protocolos locais, os doadores tinham que ter clearance de creatinina acima de 80 ml/min e não serem portadores de diabetes ou hipertensão, assim como outras doenças crônicas. A sobrevida destes doadores foi comparada com a sobrevida estimada da população geral, através da utilização de um grande banco de dados dos Estados Unidos3.
Além desta análise de sobrevida e insuficiência renal terminal realizada em todo o grupo, entre 2003 e 2007 foram medidas as taxas de filtração glomerular, excreção urinária de albumina e observadas a prevalência de hipertensão, saúde geral dos indivíduos e qualidade de vida em 255 doadores representativos do grupo.
A sobrevida dos doadores foi similar a observada nos controles pareados para a idade, sexo, raça e grupo étnico. A incidência de insuficiência renal terminal ocorreu em 11 doadores ao longo do tempo, uma taxa de 180 casos por um milhão de pessoas/ano, ao passo que a incidência de insuficiência renal terminal na população geral foi de 268 casos por um milhão de pessoas/ano.
No grupo de 255 pessoas aleatoriamente selecionadas para avaliação mais aprofundada, verificou-se que as prevalências de hipertensão e albuminúria foram similares aos controles pareados para idade, sexo, raça e grupo étnico, mesmo 2 décadas após a doação. Além disso, a maior parte dos doadores apresentava qualidade de vida melhor do que a da população geral.
Os achados deste estudo devem ser interpretados com “otimismo cauteloso”, como bem ressaltaram os autores do editorial acompanhando o artigo. Existem inúmeras possibilidades de viés neste estudo, tais como indivíduos pré-selecionados para a doação com poucas comorbidades, predominantemente brancos, além de outras variáveis hipotéticas não mensuradas tais como possivelmente serem pertencentes a famílias mais bem estruturadas e terem um melhor cuidado com a saúde posteriormente a um procedimento como este.
De qualquer forma, os resultados são animadores, pois demonstram que a mortalidade dentre os doadores foi similar a de não doadores e que a incidência de insuficiência renal terminal foi menor no grupo de doadores, mas os resultados devem ser interpretados com cautela pelos motivos já apresentados.
O mesmo editorial conclui que, em linhas gerais, este estudo mostra que os riscos de longo prazo para doadores jovens, brancos (outros grupos podem ter incidência aumentada de hipertensão arterial e nefropatia) e sem comorbidades são baixos, mas ressalta que avaliações dos riscos em pessoas mais idosas e não brancas ainda precisam ser realizadas.
1. Long-Term Consequences of Kidney Donation. N Engl J Med 2009;360:459-69. [Link para o abstract]
2. Tan JC et al. Cautious Optimism Concerning Long-Term Safety of Kidney Donation N Engl J Med 2009;360:522-523
3. Human Mortality Database (HMD) home page. (Accessed January 5, 2009, at http://www.mortality.org.)
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