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Consumo de sal ao redor do mundo

Autores:

Euclides F. de A. Cavalcanti

Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 29/11/2009

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Consumo de sal ao redor do mundo

 

Consumo de sal ao redor do mundo: implicações para saúde pública1 [Link para o Abstract]

 

Fator de impacto da revista (Internal Journal of Epidemiology): 5,838

 

Contexto Clínico

            Como pudemos revisar nos comentários dos estudos das últimas duas semanas (ver: Restrição de sal na hipertensão resistente e Estudo INTERSALT) o consumo excessivo de sal é um dos mecanismos na gênese e perpetuação da hipertensão arterial e aumenta diretamente o risco cardiovascular e a mortalidade. Apesar disso, os esforços dos órgãos de saúde pública para reduzir o consumo de sal se limitam a poucos países e, ao contrário do cigarro e do álcool, muitos indivíduos não conhecem os efeitos deletérios do consumo excessivo do sal. O presente estudo é uma revisão dos estudos que analisaram a ingestão de sal e suas conseqüências em diferentes localidades ao redor do mundo de forma a dar subsídio para que campanhas de saúde pública possam ser instituídas nos diversos países.

 

O Estudo

            Os estudos que verificaram a ingestão diária de sal nos diversos países foram analisados, tendo como destaque dois grandes estudos internacionais, o INTERSALT,2,3,4 publicado em 1988 e o INTERMAP,5,6 publicado em 2003. Diversos foram os métodos para estimar a ingestão diária de sal nos estudos, e o método considerado como ideal (gold standard) pelos autores foi a excreção urinária de sódio de 24 horas (como medida indireta da ingestão de sal), visto que questionários alimentares frequentemente subestimam o consumo diário de sal.  A revisão também tentou estabelecer as fontes de ingestão de sódio (p. ex., origem industrializada ou adição em casa) nos diversos países, para que as medidas de saúde pública para reduzir o consumo de sal pudessem ser individualizadas.

 

Nota: 1 grama de cloreto de sódio (sal) = 17,1 mmol sódio.

 

Resultados

            O consumo de sal nos diferentes países foi muito acima das necessidades fisiológicas (10 a 20 mmol/dia) e a maioria das populações adultas tem consumo de sal acima de 100 mmol/dia. Em muitos países o consumo médio é acima de 200 mmol/dia, principalmente os asiáticos. Dentre os vários estudos citados, 2 estudos merecem atenção por terem sido publicados em nosso país. Além disso, ambos utilizaram excreção de sódio no período noturno como estimativa do consumo em 24 horas, o que permite que os dados possam ser de alguma forma, comparados, embora a população estudada e o período tenham sido diferentes.

            O primeiro estudo, publicado por Moraes, Fuchs e colaboradores em 2000,6 analisou dados da cidade de Porto Alegre. Um total de 157 indivíduos entre 18 e 35 anos teve medida a excreção de sódio no período noturno (12 horas). Nos pacientes com história familiar de hipertensão a média da estimativa de excreção de sódio (24 horas) foi de 136,4 mmol/dia e, nos pacientes sem história familiar de hipertensão, a média foi de 135 mmol/dia. Este estudo mostrou relação positiva de consumo de sal e hipertensão arterial somente nos pacientes com histórico familiar de hipertensão arterial.

            O segundo estudo, publicado por Molina, Cunha e colaboradores em 2003,7 analisou dados da cidade de Vitória. Um total de 2268 indivíduos entre 25 e 64 anos teve medida a excreção de sódio no período noturno (12 horas). Em homens o consumo médio estimado de sódio (24 horas) foi de 214 mmol/dia e nas mulheres foi de 186 mmol/dia. Este estudo mostrou relação direta entre um maior consumo de sal e maiores níveis pressóricos, além de ter verificado que a ingestão de sal é maior nos indivíduos de menor nível socioeconômico e, consequentemente, a pressão arterial também é mais elevada neste grupo.

 

     O artigo de revisão traz ainda 2 dados interessantes.

 

            Primeiramente, verificou que em países europeus e na América do Norte a maior parte da ingestão de sódio vem através de produtos manufaturados. Já no Japão e na China a maior parte do sal é adicionada no domicílio (no preparo ou na hora da ingestão) e o molho de soja (shoyu) é a maior fonte.

            Outro dado interessante foi a queda no consumo de sal em alguns países que realizaram campanhas para redução no consumo de sal.

 

         No Japão houve queda no consumo de sal entre 1973 (248 mmol/dia) e 1987 (200 mmol/dia) devido a campanhas de saúde pública.

         Na Bélgica o consumo de sódio foi reduzido entre 1960 e 1980 devido a redução do sal no preparo de pão. Em homens acima de 65 anos o consumo médio foi de 265 para 188 mmol/dia e em mulheres acima de 60 anos o consumo médio foi de 208 para 160 mmol dia.

         Na Finlândia foi realizada uma vasta campanha de saúde pública que reduziu drasticamente o consumo de sal entre 1979 e 2002, com queda anual de 2,4 mmol/dia em homens e 1,9 mmol dia em mulheres.

 

Aplicação para prática clínica

            Esta revisão traz informações muito valiosas para que medidas de saúde pública para redução de sal possam ser implementadas de forma individualizada nos diferentes países. Por exemplo, através da constatação de que em países Europeus e Norte Americanos grande parte do consumo de sal vem através de produtos industrializados e pães, podemos inferir que estratégias de saúde pública para reduzir a ingestão de sal nestes países tem que contar com a redução de sal nestes produtos, que vem “escondidos” em alimentos já prontos. Tais medidas foram instituídas na Bélgica com sucesso. Já em países asiáticos, onde grande parte da ingestão de sal é adicionada no domicílio, provavelmente as medidas de saúde pública têm que partir de estratégias de educação da população.

            Os dados que o estudo traz de nosso país permitem poucas conclusões, pois se baseiam em poucos estudos e os hábitos alimentares de nossa população provavelmente são muito diversos. Embora os 2 estudos brasileiros citados tenham diferenças importantes, aparentemente o consumo de sal  em Porto Alegre é bastante inferior ao consumo em Vitória e, nesta última, populações de menor nível socioeconômico tem ingestão de sal ainda mais elevada.

            É de suma importância que novos dados sobre a ingestão de sal em nosso país sejam publicados para que intervenções possam diminuir a ingestão de forma mais efetiva nas diferentes localidades.

 

Bibliografia

1.     Brown IJ, Tzoulaki I et al. Salt intakes around the world: implications for public health. International Journal of Epidemiology 2009; 38:791–813.

2.     Intersalt Cooperative Research Group. Intersalt: an international study of electrolyte excretion and blood pressure. Results for 24 hour urinary sodium and potassium. BMJ 1988;297:319-28. [link para o abstract]

3.     Elliot P et al. Intersalt revisited: further analyses of 24 hour sodium excretion and blood pressure within and across populations BMJ 1996;312:1249-1253 [link para o artigo completo]

4.     Stamler J. The INTERSALT study: background, methods, findings, and implications. Am J Clin Nutr 1997; 65 (suppl): 626S-42S [link livre para o artigo completo]

5.     Stamler J, Elliott P, Dennis B et al. INTERMAP: background, aims, design, methods, and descriptive statistics (nondietary). J Hum Hypertens 2003;17:591–608. [link livre para o artigo completo]

6.     Dennis B, Stamler J, Buzzard M et al. INTERMAP: the dietary data – process and quality control. J Hum Hypertens 2003;17:609–22.

7.     Moraes RS, Fuchs FD et al. Familial predisposition to hypertension and the association between urinary sodium excretion and blood pressure in a population-based sample of young adults. Braz J Med Biol Res 33(7) 2000 [link livre para o artigo completo]

8.     Molina MCB, Cunha RS et al. Hipertensão arterial e consumo de sal em população urbana. Rev Saúde Pública 2003;37(6):743-50 [link livre para o artigo completo]

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