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Aspirina em pacientes com índice tíbio-braquial baixo

Autor:

Elisabetta Sachsida Colombo

Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP)

Última revisão: 27/06/2010

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Aspirina para prevenção primária de pacientes com ITB baixo

 

Uso de aspirina para prevenção de eventos cardiovasculares em população geral rastreada com baixo índice tornozelo-braquial – um ensaio clínico randomizado1

 

Fator impacto da revista (JAMA): 31.718

 

Contexto Clínico       

O índice tíbio-braquial ou índice tornozelo-braquial (ITB) é definido pela razão entre a pressão arterial sistólica medida no tornozelo (pulso tibial posterior ou pedioso) e a pressão arterial sistólica medida no braço (pulso braquial)2. Este índice é usado no diagnóstico de doença aterosclerótica periférica. Existe uma correlação direta entre baixo ITB e doença coronariana e cerebrovascular, sendo que um ITB inferior a 0,9 estaria relacionado a um risco maior de eventos cardiovasculares futuros, independentemente de outros fatores de risco estudados. Em uma meta-análise que avaliou 16 estudos de coorte, dos quais participaram indivíduos saudáveis, um ITB = 0,9 esteve relacionado a um risco de evento coronariano de 27% para indivíduos do sexo masculino e 19% para indivíduos do sexo feminino3. Assim, o ITB poderia identificar indivíduos de risco que se beneficiariam com a realização de profilaxia com AAS. Contudo, não havia até então informação na literatura sobre este tipo de intervenção.

 

O Estudo

Trata-se de um ensaio clínico duplo-cego, randomizado, placebo-controlado. Foram incluídos pacientes provenientes de três cidades escocesas, de ambos os sexos, entre 50 e 75 anos, sem antecedente de doença cardiovascular e sem uso prévio de AAS ou outros anti-agregantes ou anticoagulantes, de Abril de 1998 a Outubro de 2008. Os pacientes incluídos no estudo tinham seu ITB determinado por enfermeiras treinadas. Aqueles com ITB = 0,95 foram incluídos no estudo, salvo os critérios de exclusão. Para os pacientes incluídos ainda foram colhidos dados como antecedentes de saúde, medicações, hábito tabágico, pressão arterial, colesterolemia e condições sócio-econômicas. Os pacientes foram randomizados para receber AAS 100mg/dia ou placebo. O seguimento foi realizado após três meses, um ano e cinco anos em clínicas, e anualmente por telefone. O desfecho primário estudado foi evento coronariano (fatal ou não fatal), evento cerebrovascular ou revascularização do miocárdio. Os desfechos secundários estudados foram ocorrência de qualquer um dos eventos cardiovasculares incluídos no desfecho primário, além de angina, claudicação intermitente e ataque isquêmico transitório (AIT) e todas as causas de mortalidade.

 

Resultados

Excluídas as desistências e aqueles que preencheram os critérios de exclusão, permaneceram no estudo 3350 pacientes, que foram randomizados e seguidos em média por 8,2 anos. As características sócio-demográficas foram semelhantes nos grupos estudados. Setenta e dois por cento (72%) dos participantes eram do sexo feminino e 33% dos pacientes eram tabagistas. O ITB médio aferido foi de 0,86 (p=0,09). Foi observado desfecho primário em 357 pacientes (13,5%/1000 pessoas-ano) e foi observado desfecho secundário em 578 pacientes (22,8%/1000 pessoas-ano). Não houve diferença estatística para a ocorrência de evento cardiovascular ou mortalidade entre os indivíduos dos dois grupos. Não houve diferença na ocorrência de desfecho primário após ajuste para características sócio-demográficas e após exclusão dos pacientes diabéticos. Por fim, não houve diferença quanto à ocorrência do desfecho primário para os pacientes que estavam em uso da medicação após cinco anos ou para aqueles que a tinham interrompido (independente se placebo ou AAS). Eventos adversos: 34 pacientes (2%) do grupo AAS apresentaram evento hemorrágico contra 20 (1,2%) do grupo placebo. Três eventos fatais foram observados no grupo AAS.

 

Aplicações para a prática clínica

Segundo os autores este é o primeiro estudo que testou a eficácia do AAS para a prevenção de evento cardio e cerebrovascular em indivíduos sob risco. Os autores justificam que a predominância de mulheres na amostra não influenciou os resultados de modo que homens e mulheres foram equiparáveis para o corte de ITB, redução de risco e ocorrência de eventos. Os autores advogam que provavelmente este estudo não teve poder suficiente para detectar efeitos protetores de longo prazo do AAS, já que a aspirina teria efeito mais evidente em eventos tromboembólicos agudos. Apesar de os autores terem escolhido um corte para o ITB de 0,95 e não de 0,90, que é o cut off geralmente empregado para o rastreamento de doença aterosclerótica, isso também não afetou os resultados. Admitindo que o AAS não reduziria um risco maior do que 16% na população geral, seria necessário rastrear e tratar 500 a 600 pacientes para reduzir um único evento. Considerando a ocorrência de eventos adversos, caberia ao clínico ponderar se a administração da aspirina seria válida, assim como se o emprego do ITB seria um método realmente eficaz para rastreamento de pacientes sob risco. No entanto, parece que o ITB isoladamente não foi suficiente para selecionar pacientes de risco que se beneficiem de AAS profilático.

 

Bibliografia

1. Fowkes FGR, Price JF, Stewart MCW, Butcher I, Leng GC, Pell ACH, Sandercock PAG, Fox KAA, Lowe GDO, Murray GD; for the Aspirin for Asymptomatic Atherosclerosis Trialists. Aspirin for Prevention of Cardiovascular Events in a General Population Screened for a Low Ankle Brachial Index- A Randomized Controlled Trial. JAMA. 2010; 303(9):841-848.

2. Marte, AP; Santos RD (2009), “Fatores de risco para doença cardiovascular” in Clínica Médica, Volume 2. São Paulo: Ed Manole, 155-165.

3. Fowkes FG, Murray GD, Butvher I, et al; Ankle Brachial Index Collaboration with Framingham Risk Score to predict cardiovascular events and mortality: a meta-analysis. JAMA. 2008; 300(2):197-208.

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