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RCP apenas com Compressões Torácicas e Sobrevida Hospitalar

Autor:

Antonio Paulo Nassar Junior

Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.

Última revisão: 03/02/2011

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Reanimação Cardiopulmonar apenas com Compressões Torácicas e Sobrevida Hospitalar1 [link para o artigo original]

 

Fator de Impacto da Revista: (JAMA): 31.718

 

Contexto Clínico

A parada cardiorrespiratória (PCR) é um evento gravíssimo, com uma sobrevida de cerca de 10% naqueles em que se realizam manobras de reanimação cardiopulmonar (PCR). No entanto, estas manobras são realizadas em apenas cerca de um terço dos casos. Diversos motivos são discutidos do porque poucas pessoas realizam a RCP e, dentre estes, está o receio de adquirir alguma doença infecto-contagiosa durante as ventilações (“boca-a-boca”). Alguns estudos têm sugerido que a RCP apenas com compressões torácicas é tão ou mais eficaz que a RCP convencional2-4, o que traz a chance de aumentar-se a porcentagem de PCR adequadamente assistidas e, consequentemente, a sobrevida dos pacientes. Este estudo é o resultado de um programa de 5 anos realizado no estado americano do Arizona que consistiu na educação da população sobre a necessidade de realizar-se a RCP e enfatizou a RCP apenas com compressões torácicas.

 

O Estudo

Foi um estudo prospectivo, observacional, de coorte que incluiu todos os pacientes maiores de 18 anos que tiveram uma PCR não-assistida por equipes de resgate fora do hospital. Foram excluídos casos em que a RCP foi realizada por profissionais da saúde e casos de trauma, afogamento, overdose ou asfixia.

O desfecho primário foi a sobrevida hospitalar. Avaliou-se também o estado neurológico da alta (boa performance cerebral, incapacidade moderada, incapacidade grave, coma ou estado vegetativo e morte), a frequência e o tipo de RCP realizada por leigos.

 

Resultados

Um total de 4415 casos foi incluído na análise final. Apenas 34,3% dos casos receberam RCP (15,1% convencional e 19,2% apenas com compressões torácicas). A sobrevida foi de 7,1% (5,2% no grupo sem RCP, 7,8% no grupo convencional e 13,3% no que recebeu apenas compressões torácicas). A realização de RCP aumentou de 28,2% em 2005 para 39,9% em 2009 (p<0,001). A proporção de RCP apenas com compressões torácicas teve um aumento bastante importante nestes 5 anos (19,6 vs. 75,9%; p<0,001). A sobrevida também cresceu neste período (3,7 vs. 9,8%; p<0,001).

O grupo que recebeu RCP apenas com compressões torácicas teve 7,6% de casos com bom prognóstico neurológico (boa performance ou incapacidade moderada), enquanto o grupo com RCP convencional teve 5,2% (p<0,001). O grupo sem RCP teve apenas 3% de pacientes com bom prognóstico neurológico. O prognóstico neurológico favorável também aumentou durante o período (2,4 vs. 4,2%).

A análise multivariada mostrou que a RCP apenas com compressões torácicas teve uma chance maior de sobrevida que a não realização da RCP (OR 1,59; IC 95% 1,18-2,13) e que a RCP convencional (OR 1,60; IC 95% 1,08-2,35).

 

Aplicações para a Prática Clínica

Este estudo, ao abordar uma população ao longo de um período em que se implantou um projeto de mudança de atitude quanto à RCP, sugere uma grande validade externa. Basicamente, ele mostrou três resultados importantes: o aumento da RCP realizada por leigos ao longo dos 5 anos, a melhora da sobrevida e do prognóstico neurológico. Ambos parecem associar-se a um maior uso da RCP apenas com compressões torácicas. Embora outros estudos já tenham sugerido um resultado melhor ou equivalente com a RCP apenas com compressões torácicas, este é o primeiro a mostrar a relação entre educação e resultados de longo prazo. A RCP apenas com compressões apresenta vantagens práticas (a não realização da ventilação facilita a aderência das pessoas) e fisiológicas (minimiza o tempo sem massagem, durante o qual o fluxo sanguíneo cai bruscamente) e parece ser o meio mais adequado de se melhorar o prognóstico de pacientes que têm PCR extra-hospitalar. Um programa educacional similar poderia trazer-nos resultados semelhantes também.

 

Referências

1.   Bobrow BJ, Spaite DW, Berg RA, Stolz U, Sanders AB, Kern KB, et al. Chest compression-only CPR by lay rescuers and survival from out-of-hospital cardiac arrest. JAMA. 2010 Oct 6;304(13):1447-54.

2.   Rea TD, Fahrenbruch C, Culley L, Donohoe RT, Hambly C, Innes J, et al. CPR with Chest Compression Alone or with Rescue Breathing. New England Journal of Medicine. 2010;363(5):423-33.

3.   Svensson L, Bohm K, Castrèn M, Pettersson H, Engerström L, Herlitz J, et al. Compression-Only CPR or Standard CPR in Out-of-Hospital Cardiac Arrest. New England Journal of Medicine. 2010;363(5):434-42.

4.   Cardiopulmonary resuscitation by bystanders with chest compression only (SOS-KANTO): an observational study. Lancet. 2007 Mar 17;369(9565):920-6.

 

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