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Estilo de Vida das Mães e Risco de Obesidade nos Filhos

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 11/09/2018

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Contexto Clínico

 

Estudos mostraram que as escolhas de estilo de vida das crianças são amplamente influenciadas por suas mães. Além disso, comportamentos como tabagismo e consumo de álcool durante a gravidez também estão associados ao índice de massa corporal dos filhos. De modo geral, essas linhas de evidência implicam que as escolhas de estilo de vida materno poderiam exercer efeitos sobre a saúde entre os filhos, provavelmente através da modulação do ambiente de vida e do estilo de vida das crianças.

Apesar do fato de que essas escolhas de estilo de vida estão frequentemente interconectadas, nenhum estudo examinou ainda o efeito de um estilo de vida materno geral saudável caracterizado pelo consumo de uma dieta saudável, mantendo um peso saudável, atividade física regular, consumo leve a moderado de álcool e o não consumo de cigarro, influenciando o estilo de vida das crianças.

 

O Estudo

 

Este é um estudo de coorte feito nos EUA que contou com 24.289 participantes com idade entre 9 a 14 anos no início que estavam livres de obesidade e nasceram de 16.945 mulheres. O principal desfecho medido foi obesidade na infância e adolescência, definida por pontos de corte específicos para idade e sexo da Força-Tarefa Internacional sobre Obesidade. O risco de obesidade da prole foi avaliado por modelos de regressão multivariável com equações de estimativas generalizadas.

Quanto aos resultados, 1.282 (5,3%) filhos tornaram-se obesos durante uma média de cinco anos de seguimento. O risco de obesidade incidente foi menor entre os filhos cujas mães mantiveram um índice de massa corporal saudável de 18,5?24,9 (risco relativo [RR] 0,44; IC 95%, 0,39 a 0,50), exercendo pelo menos 150min/semana de atividades físicas moderadas/vigorosas (RR 0,79; IC 95%, 0,69 a 0,91), não fumaram (RR 0,69; IC 95%, 0,56 a 0,86) e consumiram álcool com moderação (1,0 a 14,9g/dia; RR 0,88; IC 95%, 0,79 a 0,99) em comparação com o restante.

A dieta materna de alta qualidade (top 40% do escore da dieta Alternate Healthy Eating Index 2010) não foi significativamente associada ao risco de obesidade na prole (RR 0,97; IC 95%, 0,83 a 1,12). Quando todos os fatores de estilo de vida saudáveis, foram considerados, simultaneamente, descendentes de mulheres que aderiram a todos os cinco fatores de risco de estilo de vida de baixo risco tiveram um risco 75% menor de obesidade do que filhos de mães que não aderiram a qualquer fator de risco baixo (RR 0,25; IC 95%, 0,14 a 0,47).

Essa associação foi semelhante entre os sexos e faixas etárias e persistiu em subgrupos de crianças com vários perfis de risco definidos por fatores como complicações na gravidez, peso ao nascer, idade gestacional e ganho de peso gestacional. O estilo de vida das crianças não foi responsável pela associação entre estilo de vida materno e risco de obesidade, mas quando as mães e os filhos aderiram a um estilo de vida saudável, o risco de desenvolver obesidade caiu mais (RR 0,18; IC 95%, 0,09 a 0,37). Essa associação foi semelhante entre os sexos e faixas etárias e persistiu em subgrupos de crianças com vários perfis de risco definidos por fatores como complicações na gravidez, peso ao nascer, idade gestacional e ganho de peso gestacional.

 

Aplicação Prática

 

Este grande estudo de coorte implica em grandes discussões diante de um cenário atual que é o aumento da obesidade na faixa pediátrica, o que tem sérias implicações populacionais do ponto de vista de doenças futuras. O estudo indica que a adesão a um estilo de vida saudável nas mães durante a infância e adolescência dos filhos está associada a um risco substancialmente reduzido de obesidade nas crianças. Itens isolados já sugerem efeito, mas eles se potencializam quando todos os itens são incluídos, gerando maiores impactos em termos de risco relativo.

Esses resultados indicam fortemente que devem ser analisados para uma validação final das evidências; estudos de intervenção focados no estilo de vida de mães, que além de impactarem obviamente as mulheres, devem ter potencial de impactar seus filhos quanto a doenças futuras. Uma vez que ensaios randomizados comprovem essa teoria, estratégias de saúde pública governamentais deveriam ser tomadas com prioridade, pensando em diminuir a carga de doenças na população e no impacto de morbidade que isso pode ter. Por ora, pode-se dizer que orientar e estimular mães a terem estilos de vida mais saudáveis já é bastante benéfico, devendo ser feito dentro do sistema de saúde ativamente.

 

Bibliografia

 

Dana K et al. Association between maternal adherence to healthy lifestyle practices and risk of obesity in offspring: results from two prospective cohort studies of mother-child pairs in the United States. BMJ 2018;362:k2486

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