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Apenas 3 Dias de Antibiótico para Pneumonia Adquirida na Comunidade

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 15/06/2021

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Contexto Clínico

 

Vivemos um momento crítico quanto aosantimicrobianos, e isso se deve às preocupações populacionais quanto àresistência bacteriana, mas também à esfera do indivíduo no que tange a eventosadversos e custos. Encurtar a duração de antibioticoterapia deve ser um focoimportante de pesquisa, e pacientes com pneumonias adquiridas na comunidade quesão hospitalizados são uma excelente população para intervenções dessanatureza.

 

O Estudo

 

Apresentamosum ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controladopor placebo, de não inferioridade (Pneumonia Short Treatment [PTC]), feito em16 centros na França. Pacientes adultos (com idade = 18 anos) internados nohospital com pneumonia adquirida na comunidade moderadamente grave (definidacomo pacientes internados em uma unidade de tratamento não crítico) e quepreencheram os critérios de estabilidade clínica pré-especificados após trêsdias de tratamento com terapia ß-lactâmica foram aleatoriamente designados(1:1) para receber terapia ß-lactâmica (1 g de amoxicilina oral maisclavulanato 125 mg 3 vezes ao dia) ou placebo combinado por cinco dias extras.A randomização foi feita usando um sistema baseado na web com blocospermutados com tamanhos aleatórios e estratificados por local de randomização epontuação do Índice de Gravidade da Pneumonia. Os participantes, os médicos e aequipe do estudo foram cegados para a alocação do tratamento. O desfechoprimário foi a cura 15 dias após a primeira ingestão de antibiótico, definidapor apirexia (temperatura = 37,8°C), resolução ou melhora dos sintomasrespiratórios e nenhum tratamento antibiótico adicional por qualquer causa. Foiescolhida uma margem de não inferioridade de 10 pontos percentuais. O desfechoprimário foi avaliado em todos os pacientes que foram designados aleatoriamentee receberam qualquer tratamento (análise por intenção de tratar [ITT]) e emtodos os pacientes que receberam o tratamento designado (análise porprotocolo). A segurança foi avaliada na população ITT.

No total, 706 pacientes foram avaliadospara elegibilidade, e, após três dias de tratamento ß-lactâmico, 310 pacienteselegíveis foram aleatoriamente designados para receber placebo (n = 157) outratamento ß-lactâmico (n = 153). Sete pacientes retiraram o consentimentoantes de tomar qualquer medicamento do estudo, cinco no grupo placebo e dois nogrupo ß-lactâmico. Na população ITT, a idade mediana era de 73,0 anos (IQR 57,0-84,0),e 123 (41%) dos 303 participantes eram mulheres. Na análise ITT, a cura no dia15 ocorreu em 117 (77%) de 152 participantes no grupo placebo e em 102 (68%) de151 participantes no grupo ß-lactâmico (diferença entre os grupos de 9,42%, IC 95%-0,38 a 20,04), indicando não inferioridade. Na análise por protocolo, 113(78%) dos 145 participantes no grupo de tratamento com placebo e 100 (68%) dos146 participantes no grupo de tratamento ß-lactâmico foram curados no dia 15(diferença de 9,44% [IC 95% -0,15 a 20,34]), indicando não inferioridade. Aincidência de eventos adversos foi semelhante entre os grupos de tratamento (22[14%] de 152 no grupo placebo e 29 [19%] de 151 no grupo ß-lactâmico). Oseventos adversos mais comuns foram distúrbios digestivos, relatados em 17 (11%)de 152 pacientes no grupo placebo e em 28 (19%) de 151 pacientes no grupoß-lactâmico. No dia 30, três (2%) pacientes morreram no grupo placebo (umdevido a bacteremia por Staphylococcus aureus, um devido a choquecardiogênico após edema agudo de pulmão e um devido a insuficiência cardíacaassociada a insuficiência renal aguda), e dois (1%) no grupo ß-lactâmico(devido à recorrência de pneumonia e possível edema agudo de pulmão).

 

Aplicação Prática

 

Neste ensaio clínico,pudemos observar que, entre os pacientes internados compneumonia adquirida na comunidade que preencheram os critérios de estabilidadeclínica, a interrupção do tratamento com ß-lactâmicos após três dias não foiinferior a oito dias de tratamento. Esses achados vão de encontro com hipótesesque vêm sendo levantadas nos últimos anos sobre cursos mais curtos deantibioticoterapia, principalmente para formas não graves de infecçõescomunitárias.

 

Bibliografia

 

1.            Din A et al. Discontinuing ß-lactam treatmentafter 3 days for patients with community-acquired pneumonia in non-criticalcare wards (PTC): a double-blind, randomised, placebo-controlled,non-inferiority trial. The Lancet. VOLUME 397, ISSUE 10280, P1195-1203, MARCH27, 202

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