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Coqueluche

Última revisão: 19/01/2011

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Reproduzido de:

DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS – GUIA DE BOLSO – 8ª edição revista [Link Livre para o Documento Original]

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Vigilância em Saúde

Departamento de Vigilância Epidemiológica

8ª edição revista

BRASÍLIA / DF – 2010

 

Coqueluche

 

CID 10: A37

 

ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS

Descrição

Doença infecciosa aguda, transmissível, de distribuição universal, que compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Ocorre sob as formas endêmica e epidêmica. Em lactentes, pode resultar em numero elevado de complicações e ate morte. A doença evolui em três fases sucessivas:

 

Fase Catarral

Com duração de 1 ou 2 semanas, inicia-se com manifestações respiratórias e sintomas leves (febre pouco intensa, mal-estar geral, coriza e tosse seca), seguidos pela instalação gradual de surtos de tosse, cada vez mais intensos e frequentes, ate que passam a ocorrer as crises de tosses paroxísticas.

 

Fase Paroxística

Geralmente afebril ou com febre baixa. Em alguns casos, ocorrem vários picos de febre ao longo do dia. A manifestação típica são os paroxismos de tosse seca (durante os quais o paciente não consegue inspirar e apresenta protusão da língua, congestão facial e, eventualmente, cianose com sensação de asfixia), finalizados por inspiração forçada, súbita e prolongada, acompanhada de um ruído característico, o guincho, seguidos de vômitos. Os episódios de tosse paroxística aumentam em frequência e intensidade nas duas primeiras semanas e depois diminuem paulatinamente. Nos intervalos dos paroxismos o paciente passa bem. Essa fase dura de 2 a 6 semanas.

 

Fase de Convalescença

Os paroxismos de tosse desaparecem e dão lugar a episódios de tosse comum; esta fase pode persistir por mais 2 a 6 semanas e, em alguns casos, pode se prolongar por ate 3 meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da Coqueluche, podem provocar reaparecimento transitório dos paroxismos. Lactentes jovens (< 6 meses) são propensos a apresentar formas graves, muitas vezes letais. Indivíduos inadequadamente vacinados ou vacinados ha mais de 5 anos podem apresentar formas atípicas da doença, com tosse persistente, porem sem o guincho característico.

 

Agente Etiológico

Bordetella pertussis. Bacilo gram-negativo, aeróbio, não esporulado, imóvel e pequeno, provido de capsula (formas patogênicas) e fimbrias.

 

Reservatório

O homem é o único reservatório natural. Ainda não foi demonstrada a existência de portadores crônicos; entretanto, podem ocorrer casos oligossintomáticos, com pouca importância na disseminação da doença.

 

Modo de Transmissão

Contato direto da pessoa doente com pessoa suscetível (gotículas de secreção eliminadas por tosse, espirro ou ao falar). A transmissão por objetos recém-contaminados com secreções do doente e pouco frequente, em virtude da dificuldade do agente sobreviver fora do hospedeiro.

 

Período de Incubação

Em média, de 5 a 10 dias, podendo variar de 1 a 3 semanas e, raramente, ate 42 dias.

 

Período de Transmissibilidade

Para efeito de controle, considera-se que esse período se estende de 5 dias apos o contato com um do ente (final do período de incubação) ate 3 semanas apos o inicio dos acessos de tosse típicos da doença (fase paroxística). Em lactentes menores de 6 meses, o período de transmissibilidade pode prolongar-se por ate 4 a 6 semanas apos o inicio da tosse. A maior transmissibilidade ocorre na fase catarral.

 

Suscetibilidade e Imunidade

A suscetibilidade e geral. O individuo torna-se imune apos adquirir a doença (imunidade duradoura, mas não permanente) ou apos receber vacinação adequada. Em media de 5 a 10 anos apos a ultima dose da vacina, a proteção pode declinar.

 

Complicações

Pneumonia e otite media por B. pertussis, pneumonias por outras etiologias, ativação de Tuberculose latente, atelectasia, bronquiectasia, enfisema, pneumotórax, ruptura de diafragma; encefalopatia aguda, convulsões, coma, hemorragias intracerebrais, hemorragia subdural, estrabismo, surdez; hemorragias subconjuntivais, epistaxe, edema de face, ulcera do frênulo lingual, hérnias (umbilicais, inguinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e/ou desnutrição.

 

Diagnóstico

O diagnostico especifico e realizado mediante o isolamento da B. pertussis por meio de cultura de material colhido de nasorofaringe, com técnica adequada. Essa técnica e considerada como “padrão-ouro” para o diagnostico laboratorial da Coqueluche, por seu alto grau de especificidade, embora sua sensibilidade seja variável. Como a B. pertussis apresenta um tropismo pelo epitélio respiratório ciliado, a cultura deve ser feita a partir da secreção nasofaríngea. A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes do inicio da antibioticoterapia ou, no máximo, ate 3 dias apos seu inicio. Por isso, é importante procurar a unidade de saúde ou entrar em contato com a coordenação da vigilância epidemiológica, na secretaria de saúde do município ou estado.

 

Diagnóstico Diferencial

Deve ser feito com as infecções respiratórias agudas, como traqueobronquites, bronqueolites, adenoviroses e laringites. Outros agentes também podem causar a síndrome coqueluchoide, dificultando o diagnóstico diferencial, entre os quais Bordetella parapertussis, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachomatis, Chlamydia pneumoniae e Adenovirus (1, 2, 3 e 5). A Bordetella bronchiseptica e a Bordetella avium são patógenos de animais que raramente acometem o homem. Quando essa situação ocorre, trata-se de pessoas imunodeprimidas.

 

Tratamento

A Eritromicina (de preferência o estolato) e o antimicrobiano de escolha para o tratamento da Coqueluche, por ser mais eficiente e menos toxico. Esse antibiótico e capaz de erradicar o agente do organismo em 1 ou 2 dias, quando iniciado seu uso durante o período catarral ou no inicio do período paroxístico, promovendo a diminuição do período de transmissibilidade da doença. No entanto, faz-se necessário procurar atendimento para que o medicamento seja prescrito em doses adequadas, por profissional capacitado. A imunoglobulina humana não tem valor terapêutico comprovado.

 

Alguns Cuidados Gerais Importantes

Nos episódios de tosse paroxística, a criança deve ser colocada em lateral ou decúbito de drenagem para evitar a aspiração de vômito e/ou de secreção respiratória. Se ocorrer episodio de apneia e cianose, deve-se aspirar delicadamente a secreção nasal e oral. Nesses casos, há indicação de oxigenoterapia. Deve-se estimular manualmente a região diafragmática de forma a facilitar as incursões respiratórias e, caso não obtenha resposta, utilizar a respiração artificial não invasiva com o auxilio do ambu.

 

Características Epidemiológicas

Em populações aglomeradas, condição que facilita a transmissão, a incidência da Coqueluche pode ser maior na primavera e no verão; porem em populações dispersas, nem sempre se observa essa sazonalidade. Não existe uma distribuição geográfica preferencial, nem característica individual que predisponha a doença, a não ser presença ou ausência de imunidade especifica.

A morbidade da Coqueluche no Brasil já foi elevada. No inicio da década de 80 eram notificados mais de 40 mil casos anuais e o coeficiente de incidência era superior a 30/100.000 habitantes. Este número caiu abruptamente a partir de 1983 e, em 2008, o numero de casos confirmados foi de 1.344 casos/ano e o coeficiente de incidência (CI) foi de 0,71 /100.000 habitantes graças a elevação da cobertura vacinal, principalmente a partir de 1998, resultando em importante modificação no perfil epidemiológico desta doença. Entretanto, nos últimos anos, surtos de Coqueluche vêm sendo registrados, principalmente em populações indígenas.

O grupo de menores de um ano concentra cerca de 50% do total de casos e apresenta o maior coeficiente de incidência. Isto se deve, provavelmente, a gravidade do quadro clínico nesta faixa etária, o que, por sua vez, leva a maior procura dos serviços de saúde e maior numero de casos diagnosticados. A letalidade da doença é também mais elevada no grupo de crianças menores de um ano, particularmente naquelas com menos de seis meses de idade, que concentram quase todos os óbitos por Coqueluche.

 

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Objetivos

Acompanhar a tendência temporal da doença, para detecção precoce de surtos e epidemias, visando adotar medidas de controle pertinentes; aumentar o percentual de isolamento em cultura, com envio de 100% das cepas isoladas para o Laboratório de Referencia Nacional, para estudos moleculares e de resistência bacteriana a antimicrobianos.

 

Notificação

É doença de notificação compulsória.

 

Definição de caso

Suspeito

Todo indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca ha 14 dias ou mais, associada a um ou mais dos seguintes sintomas: tosse paroxística (tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas, ou seja, 5 a 10, em uma única expiração); guincho inspiratório; vômitos pós-tosse.

Todo indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca ha 14 dias ou mais e com história de contato com um caso confirmado de Coqueluche pelo critério clínico.

 

Confirmado

Critério laboratorial – Todo caso suspeito de Coqueluche com isolamento de B. pertussis.

Critério clínico-epidemiológico – Todo caso suspeito que teve contato com caso confirmado como Coqueluche pelo critério laboratorial, entre o inicio do período catarral ate 3 semanas apos o inicio do período paroxístico da doença (período de transmissibilidade).

Critério clínico – Todo caso suspeito com alteração no leucograma caracterizada por leucocitose (acima de 20 mil leucócitos/mm3) e linfocitose absoluta (acima de 10 mil linfócitos/mm3), desde que não exista outro diagnostico confirmatório.

 

MEDIDAS DE CONTROLE

     Vacinação – A medida de controle de interesse prático em saúde publica é a vacinação dos suscetíveis, na rotina da rede básica de saúde. A vacina contra Coqueluche deve ser aplicada mesmo em crianças cujos responsáveis refiram historia da doença.

     Esquema básico de vacinação – Os menores de 1 ano deverão receber 3 doses da vacina combinada DTP+Hib (contra Difteria, Tétano e Coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae), a partir dos 2 meses de idade, com intervalo de pelo menos 30 dias entre as doses (idealmente, de 2 meses). De 6 a 12 meses apos a terceira dose, a criança deverá receber o primeiro reforço com a vacina DTP (Tríplice Bacteriana), sendo que o segundo reforço deve ser aplicado de 4 a 6 anos de idade. A vacina DTP não deve ser aplicada em crianças com 7 anos ou mais. A vacina DTPa (Tríplice Acelular) e indicada em situações especiais e, para tanto, devem ser observadas as recomendações do Programa Nacional de Imunizações.

     Vacinação de bloqueio – Frente a casos isolados ou surtos: proceder a vacinação seletiva da população suscetível, visando aumentar a cobertura vacinal na área de ocorrência dos casos.

 

Controle de Comunicantes

     Vacinação – Os comunicantes íntimos, familiares e escolares, menores de 7 anos não vacinados, inadequadamente vacinados ou com situação vacinal desconhecida, deverão receber uma dose da vacina contra a Coqueluche e a orientação de como proceder para completar esquema de vacinação. Para os menores de 1 ano, indica-se a vacina DTP+Hib; para as crianças com idade entre 1 ano e 6 anos completos (6 anos, 11 meses e 29 dias), a vacina DTP.

     Pesquisa de novos casos – Coletar material para diagnostico laboratorial de comunicantes com tosse, segundo orientação constante no Guia de Vigilância Epidemiológica.

     Quimioprofilaxia – Tem indicação restrita e devem ser observadas as recomendações constantes no Guia de Vigilância Epidemiológica.

 

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