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Pleurite Lúpica

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 18/08/2015

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Quadro Clínico

 Paciente de 26 anos, sexo feminino, procura atendimento médico por vir evoluindo nas últimas semanas com dor torácica difusa que progrediu associadamente com dispneia persistente, e alguma tosse seca, sem febre. Relata artralgia difusa no período. Ao exame físico encontra-se em Glasgow 15. Ausculta cardíaca normal. Ausculta pulmonar com murmúrios vesiculares presentes, abolidos no terço inferior do tórax bilateralmente. Propedêutica abdominal normal. Membros e articulações todos normais. Apresentava os seguintes sinais vitais: FC de 94bpm, FR 28cpm, PA. 128x66mmHg, saturação de oxigênio em 92% em ar ambiente, temperatura de 36,7oC.

Realizou uma radiografia de tórax que gerou dúvidas, sendo a investigação progredida para tomografia de tórax (imagem 1).

 

Imagem 1  - Tomografia de Tórax da Paciente

 

 

Diagnóstico e Discussão

Podemos verificar nitidamente pela tomografia  a presença de derrame pleural bilateral que pode ser considerado moderado pelo seu volume. Esta paciente acabou recebendo o diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico (LES) poucos dias após sua chegada ao hospital, sendo este derrame pleural concluído como manifestação da doença (serosite, ou, no caso, pleurite).

Pleurite é uma inflamação da pleura que normalmente leva a um quadro clínico de dor torácica e dispneia, além de tosse. Ao exame físico, eventualmente pode se identificar um atrito pleural, mas à medida que se forma derrame pleural este atrito deixa de existir, sobressaindo à propedêutica de derrame. O derrame é geralmente pequeno ou moderado. Normalmente são autolimitados, mas são recorrentes, e se apresentam em boa parte dos casos bilateralmente.

As características do derrame pleural no LES é de um exsudato, com  leve elevação do líquido pleural de lactato desidrogenase (LDH), mas sem sinais de inflamação acentuados, nem predomínio franco de neutrófilos.

A principal doença reumatológica com a qual se deve fazer diferencial é a artrite reumatoide (AR) causando pleurite. Algumas diferenças podem ser úteis para o diagnóstico diferencial. Primeiro, a contagem de células brancas total (com predominância em ambas de linfócitos) é menor em derrames relacionados com lúpus. No entanto, existe uma sobreposição substancial, de modo que a contagem de glóbulos brancos num paciente individual não pode ser utilizada para estabelecer o diagnóstico. As concentrações pleurais de glicose no fluido em derrames por lúpus são ligeiramente mais baixas do que os níveis sanguíneos de glicose; por comparação, os níveis de glicose nos derrames pleurais reumatoides são significativamente reduzidos.

Níveis baixos de complemento caracterizam tanto o lúpus quanto derrames por AR. A concentração de proteína é baixa em derrames por lúpus, não sendo uma constatação tipicamente vista na AR.

Embora a presença de fator reumatoide e de anticorpos antinucleares (FAN) no líquido pleural sugira AR e LES, respectivamente, estes resultados não fornecem nenhuma informação de diagnóstico adicional além da obtida a partir da medição desses autoanticorpos no soro, e, portanto, estes testes não precisam ser realizados em amostras de líquido pleural. Outras causas de derrames pleurais, tais como infecção, insuficiência cardíaca congestiva e uremia, também devem ser excluídos  com base no quadro clínico do paciente.

        

Bibliografia

Rothfield NF. Cardiopulmonary manifestations. In: The Clinical Management of Systemic Lupus Erythematosus, Schur PH (Ed), Grune and Stratton, Orlando 1983.

 

Hunder GG, McDuffie FC, Hepper NG. Pleural fluid complement in systemic lupus erythematosus and rheumatoid arthritis. Ann Intern Med 1972; 76:357.

 

Small P, Frank H, Kreisman H, Wolkove N. An immunological evaluation of pleural effusions in systemic lupus erythematosus. Ann Allergy 1982; 49:101.

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