Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 16/11/2015
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Paciente masculino, 58 anos, apresenta-se em pronto-socorro com intensa icterícia, de início há duas semanas e intensificação nos últimos três dias. Associado a isso descreve intensa dor abdominal e vômitos nas últimas semanas, também com aumento de intensidade há poucos dias. Relata perda ponderal de 20kg nos últimos seis meses. O paciente foi submetido à tomografia de abdômen para investigação do quadro, que podemos ver nas imagens 1 e 2:
Imagem 1 – Tomografia de Abdômen
Imagem 2 – Tomografia de Abdômen – Coronal
Como destaque do laudo tomográfico, temos o seguinte:
Lesão heterogênea e infiltrativa com aumento da cabeça pancreática, com limites mal definidos. Mede cerca de 4 cm no maior eixo. Essa lesão se associa à redução abrupta do calibre do colédoco, com consequente dilatação das vias biliares extra (vesícula biliar hiperdistendida, com paredes finas) e intra-hepáticas a montante, e redução do calibre do ducto pancreático principal. A lesão apresenta superfície de contato com a veia porta e junção esplenomesentérica, sendo que a veia mesentérica é mal caracterizada, inferindo trombose. Associado a isso há ectasia venosa pélvica. Não há plano de clivagem com a artéria mesentérica superior. Há pequenos linfonodos peripancreáticos, menores que 1 cm, e pequenos linfonodos retroperitoneais proeminentes em número, menores que 1 cm.
Não há duvidas que se trata de um câncer de pâncreas avançado. O termo comumente usado “câncer de pâncreas", geralmente refere-se a um adenocarcinoma ductal do pâncreas (incluindo seus subtipos). Mais de 95% de neoplasias malignas do pâncreas surgem a partir dos elementos exócrinos e são referidos como câncer do pâncreas exócrino. O câncer do pâncreas exócrino é uma malignidade altamente letal. É a quarta principal causa de morte relacionada ao câncer nos Estados Unidos, perdendo apenas para o câncer colorretal como uma causa de morte relacionada ao câncer digestivo.
A ressecção cirúrgica é o único tratamento potencialmente curativo. Infelizmente, devido à apresentação final, apenas 15 a 20% dos pacientes são candidatos para pancreatectomia. Além disso, o prognóstico é ruim, mesmo após a ressecção completa. A sobrevivência em cinco anos após uma duodenopancreatectomia é cerca de 25 a 30% se o paciente tiver linfonodos negativos e 10% se o paciente tiver linfonodos positivos.
Os sintomas mais comuns em pacientes com câncer de pâncreas exócrino são dor, icterícia e perda de peso. Os sintomas e sinais mais frequentes ao diagnóstico são:
-Astenia – 86%
-Perda de peso – 85
-Anorexia - 83 %
-Dor abdominal - 79 %
-Dor epigástrica - 71 %
-Urina escura - 59 %
-Icterícia - 56 %
-Náusea - 51 %
-Dor nas costas - 49 %
-Diarreia- 44 %
-Vômitos - 33 %
-Esteatorreia - 25 %
-Tromboflebite - 3 %
-Hepatomegalia- 39 %
-Massa no quadrante superior direito - 15 %
-Caquexia - 13 %
-Sinal de Courvoisier (vesícula biliar distendida palpável no rebordo costal direito) - 13 %
-Massa epigástrica - 9 %
-Ascite - 5 %
Vários marcadores séricos para câncer de pâncreas foram avaliados, sendo o mais útil o antígeno de carboidrato 19-9 (também chamado antígeno associado ao câncer 19-9, ou CA 19-9). As taxas de sensibilidade e especificidade relatados de CA 19-9 para o câncer de pâncreas foram de 70-92, e 68-92%, respectivamente. No entanto, a sensibilidade está intimamente relacionada com o tamanho do tumor. Níveis de CA 19-9 são de sensibilidade limitada para cânceres pequenos.
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