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Admitir os erros pode levar a menos processos?

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 31/08/2010

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Admitir os erros leva a menos processos? Parece que sim.

 

Custos e Pedidos de Indenização Antes e Depois da Implementação de um Programa de Divulgação de Erro Médico.

 

Fator de Impacto da Revista (Annals of Internal Medicine): 16,2


Contexto

            Devido ao medo de processos, é natural que os médicos (e hospitais) tentem escolher a melhor forma de falar sobre um erro com um paciente ou sua família. Entretanto, é notório que os erros devem ser encarados como oportunidades para criar melhores formas de realizar a assistência ao paciente. Estudiosos da área de Segurança do Paciente discutem muito o conceito de “Disclosure” nestas situações. Esse “disclosure”, não é nada mais do que a divulgação aberta do erro, algo um tanto quanto controverso em sua teoria, mas que teria a vantagem de aproximar o médico do paciente e sua família, expondo de forma clara a situação. Isso aproximaria a relação médico-paciente e poderia ter até um impacto financeiro, com uma menor chance de ocorrer um processo.

Desde 2001, a Universidade do Sistema de Saúde de Michigan – EUA, um hospital escola público (UMHS – University of Michigan Health System) vem encorajando seus profissionais de saúde a discutir abertamente seus erros com os pacientes. Em paralelo, a instituição passou a informar seus pacientes que erros acontecem e a explicar como eles acontecem. Além disso, passou a oferecer compensações financeiras para erros que acontecessem dentro da instituição. Dentro deste cenário, o UMHS procurou estudar os impactos deste programa de “disclosure”.

 

O Estudo e seus Resultados

            Este foi um estudo experimental cuja intervenção ocorreu no formato “antes-e-depois”. Foram comparados dados de antes e depois da criação do programa de discussão aberta de erros médicos. Foi medido o número de novas indenizações, o número de indenizações pagas, o tempo para resolver uma indenização e os custos relacionados às indenizações.

            Os resultados foram os seguintes:

 

Taxa média de novos pedidos de indenização: 7,03 para 4,52 por 100.000 pacientes (RR 0,64; IC95% 0,44-0,95);

Taxa média mensal de processos: 2,13 para 0,75 por 100.000 pacientes (RR 0,35; IC95% 0,22-0,58);

Tempo médio para resolução dos casos: 1,36 para 0,95 anos;

O custo médio total dos pedidos teve queda (RR 0,41; IC95% 0,26-0,66);

O custo médio total para compensação do paciente teve queda (RR 0,41; IC95% 0,26-0,67);

O custo médio total não relacionado à indenização teve queda (RR 0,39; IC95% 0,22-0,67).
 

Comentários

            Fica claro que o Hospital de Michigan instituiu um programa que melhorou as indenizações por processos, mesmo dando abertura à divulgação de erros médicos. Durante o período final do estudo, houve uma queda de pedidos de indenização em Michigan de forma geral, o que pode ter influenciado os resultados. É necessário notar que os médicos deste estudo estavam cobertos pelo Seguro do Hospital em questão, ou seja, eles não eram responsáveis legalmente pelo pagamento de qualquer indenização, ou seja, não é possível aplicar isso em clínicas privadas, por exemplo.

O ponto alto deste estudo é poder começar a criar base científica para justificar uma cultura de transparência quanto aos erros na assistência em saúde. É interessante observar que o estudo foi desenhado para gerar resultados naquilo que importa para a área administrativa e/ou comercial dos hospitais, que é a diminuição de custos. Infelizmente este estudo não mediu o impacto para os pacientes e/ou suas famílias quanto à ouvir sobre os erros de forma mais aberta, e o quanto isto trouxe de possível impacto positivo ou negativo na relação médico-paciente.

 

Bibliografia

1.    Allen Kachalia, Samuel R. Kaufman, Richard Boothman, Susan Anderson, Kathleen Welch, Sanjay Saint, and Mary A.M. Rogers. Liability Claims and Costs Before and After Implementation of a Medical Error Disclosure Program. Ann Intern Med August 17, 2010 153:213-221 [Link para o Abstract]

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