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Prevenção de Eventos Adversos Causados Por Medicamentos - Campanha “5 Milhões de Vidas”

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 15/11/2009

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Pontos Importantes sobre Eventos Adversos Causados por Medicamentos

 

         Erros de medicação são uma das causas que mais levam a lesões e danos aos pacientes dentro de um hospital. A revisão de registros revela que mais da metade de todos os erros com medicamentos nos hospitais ocorrem nas interfaces de cuidados. (Rozich JD, Resar RK. Medication Safety: One organization’s approach to the challenge. JCOM. 2001;8(10):27-34).

         A experiência de Luther Midelfort - Mayo Health System, em Eau Claire, Wisconsin (EUA), mostra que uma comunicação ruim entre os profissionais nos pontos de transição do paciente é responsável por 50% de todos os erros de medicamentos no hospital e por 20% dos eventos adversos causados por medicamentos (EAM).

         O Hospital Scripps Mercy Hospital (EUA) relatou que os pacientes tiveram uma taxa de aderência ao seu regime de medicação em 48 e 72 horas depois da alta. No 30º dia depois da alta, a taxa de aderência caiu para 30%.

         Uma checagem multidisciplinar de prescrições de medicamentos para pacientes pediátricos com câncer revelou que 42% das prescrições precisaram ser alteradas (Branowicki P. Sentinel events: Opportunities for change. Presentation at Massachusetts Coalition for the Prevention of Medical Errors Conference. November 18, 2002).

         Outro estudo, também de pacientes pediátricos com câncer, revelou discrepâncias em torno de 30% entre a prescrição de medicamentos e as informações relatadas por pacientes/cuidadores ou presentes nas etiquetas de prescrição no recipiente (Billman G. Medication Coordination for Children with Cancer (Children’s Hospital – San Diego). Presentation at AAP Patient Safety Summit. May 21, 2002).

 

Meta da Intervenção

            Prevenir eventos adversos causados por medicamentos (EAM) implementando um plano seguro para o uso de medicamentos em 3 fases da assistência: na admissão do paciente, nas transferências entre setores e na alta.

 

Indicadores

            Recomendam-se dois indicadores de processo /desempenho para a prevenção de eventos adversos por medicamentos:

 

         Porcentagem de Medicações Não-Reconciliadas/Não Ajustadas

 

ü  Na Admissão (nas prescrições revisadas)

ü  Nas Transferências (nas prescrições revisadas)

ü  Na Alta (nas prescrições revisadas)

 

         Número de Medicações Não-Reconciliadas por 100 admissões (nas prescrições revisadas)

 

 

Programa para Prevenção de Eventos Adversos por Medicamentos – Plano Seguro de Medicação

            Um Plano Seguro de Medicação é o processo de criação de uma lista o mais correta possível de todos os medicamentos que um paciente está tomando – incluindo o nome, dosagem, freqüência – e comparar essa lista com a prescrição do médico na admissão, em qualquer transferência de setor, e na alta, com a meta de fornecer medicamentos corretos para o paciente em todos os pontos de transição dentro do hospital. Se qualquer medicamento da pré-admissão não for pedido ou declarado explicitamente, o enfermeiro ou farmacêutico deve contatar o médico do paciente. O médico deve então pedir o medicamento ou confirmar formalmente que há uma justificativa para que a medicação não tenha sido prescrita. Cada vez que o paciente se desloca de um setor para outro, os médicos devem revisar as prescrições prévias frente à nova prescrição e ao planejamento terapêutico proposto, reconciliando qualquer diferença.

 

            O processo de Plano Seguro de Medicação envolve 3 passos:

         Verificação (coleta de histórico de medicamento);

         Esclarecimento (assegurar que os medicamentos e dosagens estão adequados);

         Reajuste (documentar as alterações no prontuário).

 

            Prevenir Eventos Adversos causados por medicamentos (EAM) é foco do conceito do Plano Seguro de Medicação. Foi desenvolvido por Jane Justesen, um enfermeiro do Luther Midelfort-Mayo Health System em Eau Claire, Wisconsin (EUA), como parte de uma iniciativa do IHI. Entre outras coisas, o time do Justesen’s no Luther Midelfort foi pioneiro nas ferramentas e formulários precisos para criar, atualizar e reconciliar um registro de medicação do paciente durante a hospitalização.

            O processo começa quando o paciente é admitido no hospital, continua quando o paciente é transferido para um diferente nível de cuidado, e ocorre novamente quando o paciente deixa o hospital. Em um contexto mais amplo, o Plano Seguro de Medicação também se aplica para procedimentos ambulatoriais onde medicamentos ou dosagens podem ser alterados.

 

1.     Na Admissão

            Quando o paciente é admitido, colete a lista de medicamentos que o paciente está tomando. Faça essa informação ficar disponível para o prescritor quando os pedidos de admissão forem escritos. Se isso não é possível (por exemplo, por causa de uma situação urgente), colete a lista dos medicamentos tomados em casa e compare-os com os pedidos de admissão dentro de 24 horas, e então informe o prescritor em caso de qualquer diferença, para que o mesmo realize a reconciliação medicamentosa.

 

2.     Nas Transferências

            Na transferência de pacientes de um nível de cuidado para outro, o profissional de saúde deve consultar a lista de medicamentos tomados em casa pelo paciente, as prescrições atuais de medicamentos, e o que foi prescrito na transferência. Novamente deve-se informar o prescritor para que ele faça a reconciliação das medicações.

 

3.     Na Alta

            Assim como na transferência, o profissional de saúde deve consultar a lista de medicamentos usados em casa pelo paciente, e compará-los com a prescrição de medicamentos na alta para assegurar que os medicamentos estão sendo adequadamente continuados, alterados em sua dosagem ou interrompidos. Discuta a lista com o paciente e com o próximo médico que receberá o paciente (por exemplo, em um ambulatório) para garantir a continuidade.

 

Impacto

            O processo de reconciliação medicamentosa tem sido demonstrado como uma estratégia poderosa para reduzir erros de medicação nas mudanças de nível de cuidados dos pacientes.

            Uma série de intervenções, incluindo o Plano Seguro de Medicação, realizado por um período maior que sete meses, diminuiu com sucesso a taxa de erros de medicação em 70% e reduziu eventos adversos causados por medicamentos em mais de 15% em um hospital dos EUA.

            Em outro estudo americano, a utilização de técnicos de farmácia para iniciar o processo de reconciliação medicamentosa obtendo a história dos medicamentos junto aos pacientes de cirurgias eletivas reduziu os eventos adversos causados por medicamentos em 80% em 3 meses de implementação.

            Um processo de reconciliação medicamentosa de sucesso também reduz trabalho e re-trabalho associado com a gestão das prescrições de medicamentos. Depois da implementação, o gasto de tempo da enfermagem na admissão foi reduzido em mais de 20 minutos por paciente. O tempo que farmacêuticos estavam envolvidos com a alta foi reduzido em mais de 40 minutos.

 

Referências

1.     Institute of Healthcare Improvement – Campanha 5 Milhões de Vidas – http://www.ihi.org/IHI/Programs/Campaign/

2.     Rozich JD, Resar RK. Medication Safety: One organization’s approach to the challenge. JCOM. 2001;8(10):27-34.

3.     Branowicki P. Sentinel events: Opportunities for change. Presentation at Massachusetts Coalition for the Prevention of Medical Errors Conference. November 18, 2002.

4.     Billman G. Medication Coordination for Children with Cancer (Children’s Hospital – San Diego). Presentation at AAP Patient Safety Summit. May 21, 2002.

5.     Whittington J, Cohen H. OSF Healthcare’s journey in patient safety. Quality Management in Health Care. 2004;13(1):53-59.

6.     Michels RD, Meisel S. Program using pharmacy technicians to obtain medication histories. Am J Health-Sys Pharm. October 1, 2003;60:1982-1986.

7.     Rozich JD, Resar RK, et. al. Standardization as a mechanism to improve safety in health care: Impact of sliding scale insulin protocol and reconciliation of medications initiatives. Joint Commission Journal on Quality and Safety. 2004;30(1):5-14.

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