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Efeito da Vasopressina e Metilprednisolona na Parada Cardíaca

Contexto Clínico

 

A administração de drogas na parada cardíaca é um dos pontos importantesdurante as manobras de ressuscitação. A epinefrina continua sendo a principaldroga, porém há alguns estudos que sugerem que a combinação de vasopressina com metilprednisolona duranteuma parada cardíaca em hospital pode melhorar os resultados.

 

O Estudo

 

Apresentamosum estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo,conduzido em 10 hospitais na Dinamarca. Foram incluídos 512 pacientes adultoscom parada cardíaca hospitalar entre 15 de outubro de 2018 e 21 de janeiro de2021. O último acompanhamento de 90 dias foi em 21 de abril de 2021.

Os pacientesforam randomizados para receber uma combinação de vasopressina emetilprednisolona (n = 245) ou placebo (n = 267). A primeira dose devasopressina (20 UI) e metilprednisolona (40 mg), ou placebo correspondente,foi administrada após a primeira dose de epinefrina. Doses adicionais devasopressina ou placebo correspondente foram administradas após cada doseadicional de epinefrina para um máximo de quatro doses. O desfecho primárioavaliado foi o retorno da circulação espontânea. Os desfechos secundáriosincluíram sobrevida e desfecho neurológico favorável em 30 dias (pontuação daCategoria de Desempenho Cerebral de 1 ou 2).

Entre 512pacientes que foram randomizados, 501 preencheram todos os critérios deinclusão e nenhum critério de exclusão e foram incluídos na análise (idademédia, 71 anos; 64% homens). Cem de 237 pacientes (42%) no grupo devasopressina e metilprednisolona e 86 de 264 pacientes (33%) no grupo deplacebo obtiveram retorno da circulação espontânea (razão de risco: 1,30 [IC 95%,1,03-1,63]; diferença de risco: 9,6% [IC 95%, 1,1%-18,0%]; P = 0,03). Em 30dias, 23 pacientes (9,7%) no grupo de intervenção e 31 pacientes (12%) no grupode placebo estavam vivos (razão de risco: 0,83 [IC 95%, 0,50-1,37]; diferençade risco: -2,0% [IC 95%, -7,5% a 3,5%]; P = 0,48). Um desfecho neurológicofavorável foi observado em 18 pacientes (7,6%) no grupo de intervenção e 20pacientes (7,6%) no grupo de placebo em 30 dias (razão de risco: 1,00 [IC 95%,0,55-1,83]; diferença de risco: 0,0 % [IC 95%, -4,7% a 4,9%]; P > 0,99). Empacientes com retorno da circulação espontânea, hiperglicemia ocorreu em 77(77%) no grupo de intervenção e 63 (73%) no grupo de placebo. Hipernatremiaocorreu em 28 (28%) e 27 (31%), nos grupos de intervenção e de placebo,respectivamente.

 

Aplicação Prática

 

Este é um típico estudo que podeconfundir muito a cabeça do leitor. O resultado com base no desfecho primárioavaliado é absolutamente positivo, pois, entre os pacientes com parada cardíaca hospitalar, a administração devasopressina e metilprednisolona, ??em comparação com o placebo, aumentousignificativamente a probabilidade de retorno da circulação espontânea.Contudo, aí é que reside o perigo. Apesar de estarem elencados como desfechossecundários, resultados clinicamente relevantes, que são sobrevida e desfechoneurológico, não foram favoráveis, remetendo à hipótese nula. Claro que temosque considerar que, para obtermos uma resposta assertiva, é necessário quesurja um ensaio clínico adequadamente desenhado com o propósito de avaliarsobrevida ao menos. Por ora, o que podemos guardar como mensagem é que existeuma probabilidade de que, graças a uma maior capacidade de retorno à circulaçãoespontânea dada pela combinação de drogas estudadas, um estudo para avaliardesfechos clinicamente relevantes é algo que merece espaço e pode apoiar adecisão pela incorporação ou não dessa prática na ressuscitação cardíaca.

 

Bibliografia

 

1.            Andersen LW,Isbye D, Kjærgaard J, et al. Effect of Vasopressin and Methylprednisolone vsPlacebo on Return of Spontaneous Circulation in Patients With In-HospitalCardiac Arrest: A Randomized Clinical Trial. JAMA. 2021;326(16):1586?1594.