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Impacto de Cálcio Intravenoso ou Intraósseo na Parada Cardíaca

Contexto Clínico

 

Criar evidências para as condutas emparada cardiopulmonar é sempre um desafio. Apesar de existirem conjunto depráticas consolidadas, há muitas dúvidas que precisam ser respondidas por meio deensaios clínicos randomizados, de forma a tornar a prática mais baseada emevidências. Uma questão que ainda está em aberto quando pensamos nas manobrasavançadas de ressuscitação cardiopulmonar é se a administração de cálcio tem efeito benéfico em pacientes com paradacardíaca.

 

O Estudo

 

Apresentamosum ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo que incluiu397 pacientes adultos com parada cardíaca fora do hospital e foi conduzido naregião central da Dinamarca entre 20 de janeiro de 2020 e 15 de abril de 2021.A intervenção consistiu em até duas doses intravenosas ou intraósseas com 5mmol de cloreto de cálcio (n = 197) ou solução salina (n = 200). A primeiradose foi administrada imediatamente após a primeira dose de epinefrina. O desfechoprincipal avaliado foi o retorno sustentado da circulação espontânea. Osdesfechos secundários incluíram sobrevida e um desfecho neurológico favorável(pontuação da Escala de Rankin Modificada de 0-3) em 30 dias e em 90 dias.

Com base emuma análise provisória planejada de 383 pacientes, o comitê diretor interrompeuo estudo antes do tempo devido a preocupações com danos ao grupo do cálcio. De397 pacientes adultos randomizados, 391 foram incluídos nas análises (193 nogrupo de cálcio e 198 no grupo de solução salina; idade média, 68 [SD, 14]anos; 114 [29%] eram mulheres). Não houve perda de seguimento. Houve 37 pacientes(19%) no grupo de cálcio que tiveram retorno sustentado da circulaçãoespontânea em comparação com 53 pacientes (27%) no grupo de solução salina(razão de risco, 0,72 [IC 95%, 0,49 a 1,03]; diferença de risco, -7,6% [IC 95%,-16% a 0,8%]; P = 0,09). Em 30 dias, 10 pacientes (5,2%) no grupo de cálcio e18 pacientes (9,1%) no grupo de solução salina estavam vivos (razão de risco,0,57 [IC 95%, 0,27 a 1,18]; diferença de risco, -3,9% [IC 95%, -9,4% a 1,3%]; P= 0,17). Um desfecho neurológico favorável em 30 dias foi observado em 7pacientes (3,6%) no grupo de cálcio e em 15 pacientes (7,6%) no grupo desolução salina (razão de risco, 0,48 [IC 95%, 0,20-1,12]; diferença de risco,-4,0% [IC 95%, -8,9% a 0,7%]; P = 0,12). Entre os pacientes com valores de cálciomedidos que tiveram retorno da circulação espontânea, 26 (74%) no grupo decálcio e 1 (2%) no grupo de solução salina apresentaram hipercalcemia.

 

 

 

Aplicação Prática

 

A infusão de cálcio na parada cardíacajá foi vista como solução que potencializaria o retorno à circulaçãoespontânea. O que este ensaio clínico randomizado nos traz é que, entre adultos com parada cardíaca fora dohospital, o tratamento com cálcio intravenoso ou intraósseo em comparação comsolução salina não melhorou significativamente o retorno sustentado dacirculação espontânea. Esses resultados não suportam a administração de cálciodurante uma parada cardíaca fora do hospital em adultos. Assim, é precisodeixar claro que esta prática não deve ser adotada. Pelo contrário, o estudofoi interrompido por malefício.

 

Bibliografia

 

1.            Vallentin MF, Granfeldt A, Meilandt C, et al.Effect of Intravenous or Intraosseous Calcium vs Saline on Return ofSpontaneous Circulation in Adults With Out-of-Hospital Cardiac Arrest: ARandomized Clinical Trial. JAMA. 2021;326(22):2268?2276.