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Uso de Cimento em Artroplastia para Fratura de Quadril

Contexto Clínico

 

As fraturas de quadril em idosos (oufratura de fêmur proximal) são uma causa extremamente importante de perda defuncionalidade nessa faixa etária, contribuindo, inclusive, para piorprognóstico em termos de mortalidade nos anos subsequentes ao evento. Quanto aotratamento cirúrgico, existecontrovérsia sobre o uso de cimento ósseo em fraturas de quadril tratadas comhemiartroplastia. Os dados sobre a qualidade de vida após procedimentos com ousem uso de cimento são muito limitados, e mais informação a respeito énecessária para guiar a prática clínica.

 

O Estudo

 

Apresentamosum estudo multicêntrico, randomizado e controlado que comparou hemiartroplastiacimentada com não cimentada em pacientes com 60 anos de idade ou mais comfratura de quadril intracapsular. O desfecho primário foi a qualidade de vidarelacionada à saúde medida com o uso de pontuações de utilidade no questionárioEuroQol Group 5-Dimension (EQ-5D) quatro meses após a randomização (intervalode pontuações, -0,594 a 1, com pontuações mais altas indicando melhor qualidadede vida; intervalo para diferença clinicamente importante mínima, 0,050 a0,075).

Um total de610 pacientes foram submetidos à hemiartroplastia cimentada, e 615, àhemiartroplastia moderna não cimentada. Dados de acompanhamento estavamdisponíveis para 71,6% dos pacientes em 4 meses. A pontuação de utilidade médiado EQ-5D foi de 0,371 nos pacientes atribuídos ao grupo cimentado e de 0,315naqueles atribuídos ao grupo não cimentado (diferença ajustada, 0,055; IC 95%,0,009 a 0,101; P = 0,02). A diferença entre os grupos em 1 mês foi semelhante àde 4 meses, mas a diferença em 12 meses foi menor do que em 4 meses. Amortalidade em 12 meses foi de 23,9% no grupo cimentado e de 27,8% no grupo nãocimentado (odds ratio para morte, 0,80; IC 95%, 0,62 a 1,05). Fraturasperiprotéticas ocorreram em 0,5% e 2,1% dos pacientes nos respectivos grupos (oddsratio [não cimentado vs. cimentado], 4,37; IC 95%, 1,19 a 24,00). Asincidências de outras complicações foram semelhantes nos dois grupos.

 

Aplicação Prática

 

Neste estudo, financiado pelo NationalInstitute for Health Research, nos Estados Unidos, podemos concluir que, entre pacientes com 60 anos de idade ou maiscom fratura de quadril intracapsular, a hemiartroplastia cimentada resultou emqualidade de vida discretamente melhor em comparação com a hemiartroplastia semuso de cimento. Importante destacar que essa diferença, que ocorreu já a partirde 1 mês da randomização, foi decaindo ao longo de 12 meses. Esse resultadolevanta a seguinte pergunta: é custo-efetiva a realização de artroplastia comcimento para esses casos? Uma vez que os procedimentos cimentados são maiscaros, é extremamente importante colocar esse parâmetro em pauta com opaciente. Algo que poderia ser debatido é que, apesar de não oferecer umresultado substancialmente superior em termos de qualidade de vida, ahemiartroplastia cimentada ofereceu menor risco de fraturas periprotéticas. Comoisso leva a novo procedimento, com riscos associados, pesar custos e benefíciosé algo a ser feito pelo ortopedista, sempre alinhado à realidade do custeio emsaúde do paciente. Podemos concluir que não é possível recomendar estritamenteuma modalidade em detrimento da outra para os casos com o perfil deste estudo.

 

Bibliografia

 

1.            Fernandez MA et al. Cemented or UncementedHemiarthroplasty for Intracapsular Hip Fracture. N Engl J Med 2022; 386:521-530