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Teste não invasivo para isquemia antes do cateterismo

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 24/11/2008

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Teste não invasivo para isquemia antes do cateterismo

 

Frequência de testes de estresse para documentar isquemia antes de intervenção coronariana percutânea eletiva1.

Frequency of Stress Testing to Document Ischemia Prior to Elective Percutaneous Coronary Intervention. JAMA. 2008;300(15):1765-1773 [Link para o Abstract]

 

Fator de impacto da revista (JAMA): 25,547

 

Contexto Clínico

            Diretrizes e guidelines2 recomendam a realização de um teste de estresse não invasivo para documentar isquemia em pacientes com insuficiência coronariana crônica estável antes de indicar uma intervenção coronariana percutânea (ICP) eletiva. Mas observações não controladas apontam para um número reduzido de avaliações não invasivas antes da realização da ICP. Com base nestas considerações os autores realizaram o presente estudo para determinar a freqüência e os determinantes da realização de teste de estresse não invasivo antes de uma ICP numa população do Medicare norte-americano.

 

O Estudo

            Foi um estudo de coorte retrospectiva que utilizou dados de faturas de serviços médicos de uma amostra aleatória de 20% de beneficiários do Medicare em 2004 com idade maior ou igual a 65 anos que realizaram uma intervenção coronariana percutânea (n=23.887). Foram avaliadas a proporção de participantes que haviam realizado um teste de estresse não invasivo até 90 dias antes da realização da ICP, a variação na realização de teste não invasivo de acordo com 306 hospitais de referência e as características dos participantes, dos médicos e do hospital que foram preditores da realização correta de teste não invasivo antes da ICP eletiva.

 

Resultados

            A média nacional de realização de teste não invasivo até 90 dias antes da ICP foi de 44,5% (n=10.629). Houve uma grande variação regional de acordo com o hospital de referência, com taxas de solicitação de teste não invasivo variando de 22,1% até 70,6% (média 44,5%, intervalo interquartal 39,0% - 50,9%). Algumas características estiveram associadas com uma probabilidade menor de realização de teste não invasivo antes da ICP: sexo feminino (OR ajustado:0,91 IC95% 0,86-0,97), idade maior ou igual a 85 anos (OR ajustado:0,83 IC95% 0,72-0,95), história de insuficiência cardíaca (OR ajustado:0,85 IC95% 0,79-0,92), e cateterismo cardíaco prévio (OR ajustado:0,45 IC95% 0,38-0,54). Outras características aumentaram a probabilidade de realização de teste não invasivo antes da ICP: história de dor torácica (OR ajustado:1,28 IC95% 1,09-1,54) e raça negra (OR ajustado:1,26 IC95% 1,09-1,46). Participantes tratados por médicos que realizavam 150 ou mais ICP por ano tiveram uma chance menor de receber um teste não invasivo antes da ICP (OR ajustado:0,84 IC95% 0,77-0,93). Nenhuma característica hospitalar esteve associada com a realização de teste não invasivo antes da ICP.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            A medicina contemporânea tem se caracterizado cada vez mais por um uso excessivo de tecnologias e intervenções de alto custo. Como parte do mesmo fenômeno podemos citar a questão da medicalização social, já abordada em aulas e em outros comentários neste site. História (anamnese) e exame físico bem feitos, e a estratificação de risco com métodos menos invasivos e mais baratos são substituídos por exames de alta tecnologia e alto custo, e muitas vezes invasivos, com risco elevado de iatrogenia, e mais importante, sem nenhum benefício adicional para o paciente (muitas vezes malefícios), exceto, talvez, pela sensação (percepção deturpada) do paciente de se sentir mais bem avaliado pela parafernália tecnológica a que é submetido. Obviamente não estou sugerindo que voltemos às sangrias e ao uso de sanguessugas, ou à hipótese miasmática, mas o que precisa ficar claro é que a utilização equivocada da tecnologia pode trazer mais malefícios do que benefícios.

 

Dicas de Epidemiologia e Medicina Baseada em Evidências

Estudos observacionais

            Como já comentamos em outras ocasiões, os estudos observacionais3, particularmente os estudos de coorte, são ferramentas imprescindíveis para analisar questões de saúde. Os estudos analíticos, além de mostrarem a situação de um dado fenômeno relacionado à saúde, são capazes de avaliar hipóteses causais, mostrando associações entre fatores de exposição (protetores ou de risco) e um determinado desfecho ou condição. Ressaltamos com alguma freqüência o valor dos estudos observacionais pelo fato de que há uma certa visão de que a medicina baseada em evidências só dá valor a grandes estudos experimentais, ou seja, ensaios clínicos caros e com numerosos participantes. Embora estudos deste tipo sejam importantes para avaliar uma série de questões, outros tipos de delineamento de estudos, com especial menção às coortes, são extremamente importantes nas análises do processo saúde-doença.

 

Bibliografia

1.Lin GA, Dudley RA, Lucas FL, Malenka DJ, Vittinghoff E, Redberg RF. Frequency of Stress Testing to Document Ischemia Prior to Elective Percutaneous Coronary Intervention. JAMA. 2008;300(15):1765-1773. [Link para o Abstract]

2. Smith SC Jr, Feldman TE, Hirshfeld JW Jr, et al. ACC/AHA/SCAI 2005 guideline update for percutaneous coronary intervention: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines (ACC/AHA/ SCAI Writing Committee to Update 2001 Guidelines for Percutaneous Coronary Intervention). Circulation. 2006;113(7):e166-e286 [Link livre para artigo].

3.Benseñor IM, Lotufo PA. Principais desenhos de estudos – conceitos gerais. In”Epidemiologia. Abordagem Prática”. Sarvier, 1ª Edição, 2005.

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