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Rastreamento pré-natal de estreptococo do grupo B

Autores:

Flávia J. Almeida

Médica Assistente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Mestre em Pediatria pela FCMSCSP.

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 25/10/2009

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Rastreamento pré-natal de estreptococo do grupo B

 

Avaliação do rastreamento pré-natal universal para estreptococo do grupo B1 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (NEJM): 52,589

 

Contexto Clínico

            Doença por estreptococo do grupo B é uma das infecções mais comuns na primeira semana após o nascimento. Desde 2002, as diretrizes americanas recomendam rastreamento antenatal universal tardio de gestantes para colonização por estreptococo do grupo B para profilaxia antibiótica intra-parto.

 

O Estudo

            Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, realizado em 10 estados norte-americanos, que avaliou a implantação das referidas diretrizes através da vigilância do Active Bacterial Core, que é um sistema de monitoramento de doença por estreptococo do grupo B. Os autores recolheram dados de trabalho de parto e parto de uma amostra aleatória estratificada de nascidos vivos e de todos os casos em que o recém-nascido (RN) apresentava doença por estreptococo B de início precoce (i.e., doença em RNs com menos de 7 dias de vida) em 2003 e 2004. Os resultados foram comparados com um estudo de desenho semelhante que avaliou as práticas de rastreamento em 1998 e 1999.

 

Resultados

            Foram coletados dados de 254 nascimentos nos quais os RNs tinham tido doença por estrepto B e 7.437 nascimentos nos quais os RNs não tinham tido doença por estrepto B. A taxa de rastreamento para estreptococo do grupo B antes do parto subiu de 48,1% em 1998/1999 para 85% em 2003/2004. A porcentagem de RNs expostos a antibióticos intra-parto subiu de 26,8% para 31,7%. Quimioprofilaxia foi administrada em 87% das mulheres positivas para estreptococo do grupo B que deram à luz de termo, mas em apenas 63,4% das mulheres que não realizaram rastreamento (i.e.,colonização desconhecida) que deram à luz pré-termo. A incidência geral de doença estreptocócica do grupo B de início precoce foi de 0,32 casos por 1000 nascidos vivos. RNs pré-termo apresentaram maior incidência de doença estreptocócica de início precoce do que os RNs de termo (0,73 X 0,26 casos por 1000 nascidos vivos), entretanto 74,4% dos casos de doença por estreptococo do grupo B (189 em 254) ocorreram em RNs de termo. A não realização de rastreamento em mulheres que deram à luz RNs de termo foi responsável por 34 dos 254 casos de doença por estrepto B (13,4%). Um total de 61,4% dos RNs de termo com doença por estrepto B nasceu de mulheres cujo rastreamento antenatal para estreptococo do grupo B tinha sido negativo. Os autores concluem que as recomendações das diretrizes de realizar rastreamento universal foram adotadas rapidamente. Comentam que melhor manejo de partos prematuros e melhor coleta, processamento e relato das culturas podem prevenir casos adicionais de doença por estreptococo do grupo B.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            O rastreamento universal para estrepto B tem como objetivo diminuir a incidência da doença precoce em RNs, descrita como uma das principais causas de sepse precoce. Como podemos observar neste estudo, nos EUA, existe um sistema de vigilância bem estruturado, sendo demonstrado que o objetivo foi alcançado, com uma diminuição de 27% da doença precoce por estrepto B de 1999-2001 para 2003-2005. Ainda assim algumas oportunidades foram perdidas: mulheres que deram à luz pré-termo fora da época da realização do rastreamento e cujo exame não foi realizado à admissão na maternidade, mulheres que deram à luz de termo sem rastreamento realizado, mulheres com história de alergia à penicilina e exames com resultados falso-negativos.

No Brasil, não existe notificação da doença por estrepto B em RN, sendo assim sua incidência é desconhecida. Infelizmente a doença ainda não é devidamente valorizada na etiologia das infecções neonatais e puerperais, apesar da gravidade da infecção e de a mesma ser passível de profilaxia. Existem poucos dados brasileiros publicados sobre este assunto. Alguns estudos2-5 avaliaram a prevalência de colonização materna por estrepto B, encontrando resultados que variam de 14,9% a 27,6% (56 gestantes). Um dos estudos encontrou taxa de colonização neonatal de 3,1%, com dois casos de sepse precoce nesta amostra, prevalência estimada de 10,8 casos por mil nascidos vivos e mortalidade de 50%. Entretanto, nenhum estudo brasileiro avaliou a implantação do rastreamento antenatal universal tardio de gestantes para colonização por estreptococo do grupo B para profilaxia antibiótica intra-parto. Sabemos, que muitos serviços de pré-natal, tanto públicos como privados, não realizam este rastreamento.

Desta forma, concluímos que a doença neonatal precoce é passível de prevenção. Em nosso país é urgente a implantação de medidas preventivas.

As recomendações americanas para profilaxia de doença pelo estreptococo do grupo B podem ser acessadas através do link:

http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr5111a1.htm

     

Bibliografia

1.     Van Dyke MK, Phares CR, Lynfield R, Thomas AR, Arnold KE, Craig AS, Mohle-Boetani J, Gershman K, Schaffner W, Petit S, Zansky SM, Craig A. Morin CA, Spina NL, Wymore K, Harrison LH, Shutt KA, Bareta J, Bulens SN, Zell ER, Schuchat A, Schrag SJ. Evaluation of Universal Antenatal Screening for Group B Streptococcus. N Engl J Med 2009; 360(25):2626–2636.

2.     Nomura ML, Passini Júnior R, Oliveira UM. Group B streptococcus colonization in preterm labor and preterm premature rupture of membranes. Int J Gynaecol Obstet. 2005 Oct;91(1):69-70.

3.     Beraldo C, Brito AS, Saridakis HO, Matsuo Tl. Prevalência da colonização vaginal e anorretal por estreptococo do grupo B em gestantes do terceiro trimestre. Rev Bras Gineco. Obstet 2004, 26(7), 543-549.

4.     Borger IL et al. Streptococcus agalactiae em gestantes: prevalência de colonização e avaliação da suscetibilidade aos antimicrobianos. Rev Bras Ginecol Obstet 2005 27(10), 575-579.

5.     Costa AL, Lamy Filho F, Chein MB, Brito LM, Lamy ZC, Andrade KL. Prevalence of colonization by group B Streptococcus in pregnant women from a public maternity of Northwest region of Brazil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008 Jun;30(6):274-80.

6.     Schrag S, Gorwitz R, Fultz-Butts K, Schuchat A. Prevention of perinatal group B streptococcal disease. Revised guidelines from CDC. MMWR Recomm Rep. 2002 Aug 16;51(RR-11):1-22.

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