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Comparação de Dois Métodos de Explicação sobre o Prognóstico para Familiares em UTI

Autor:

Antonio Paulo Nassar Junior

Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.

Última revisão: 09/02/2011

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Comparação de Dois Métodos de Explicação sobre o Prognóstico para Familiares em UTI1 [link para o artigo original]

 

Fator de Impacto da Revista (Am J Respir Crit Care Med): 9.792

 

Contexto Clínico

Os familiares responsáveis por pacientes internados na UTI devem ter um entendimento claro do prognóstico destes para que possam refletir e decidir, em conjunto com os médicos, sobre tratamentos e limitação de suporte. Entretanto, alguns estudos sugerem que as estimativas do prognóstico dos pacientes realizadas por familiares e por médicos são diferentes2. Um dos motivos talvez seja a falha de comunicação3, mas provavelmente não é o único. Duas abordagens de estimativa de prognóstico são normalmente empregadas pelos médicos, a qualitativa (“Eu acho que a chance dele sobreviver é muito pequena”) e a quantitativa (“90% dos pacientes na condição dele não sobrevivem”). O objetivo deste estudo foi avaliar qual das duas abordagens transmite a melhor informação ao familiar e se a estimativa do prognóstico dos familiares difere da dos médicos.

 

O Estudo

Todos os familiares considerados responsáveis por pacientes internados nas UTIs de um hospital de São Francisco eram elegíveis para o estudo. Foram excluídos aqueles com menos de 18 anos e não-fluentes em inglês. Os familiares foram randomizados para assistir um vídeo de 10 minutos que simulava uma conferência entre um médico e um familiar sobre um caso hipotético de um paciente de UTI. A única diferença entre os vídeos foram em que um o médico usava uma abordagem quantitativa (10% de chance de sobreviver) e em outro, uma abordagem qualitativa (“muito improvável que sobreviva”).

Foram avaliadas as estimativas de prognóstico pessoais dos familiares, perguntando na opinião deles, qual a chance do paciente em questão sobreviver à internação hospitalar, e a compreensão da estimativa do prognóstico dada pelo médico, perguntando qual a estimativa que o médico do vídeo achava que o paciente tinha.

 

Resultados

Participaram do estudo 169 familiares. Aqueles que assistiram o vídeo “numérico” relataram que a chance de sobrevida do paciente era de 22% e aqueles que viram o vídeo “qualitativo” relataram uma chance de 26% (p=0,26). A compreensão quanto ao prognóstico estimadopelo médico também não foi diferente. O grupo “numérico” relatou uma estimativa de 17% e o grupo “qualitativo” 16% (p=0,62). Dos que assistiram o vídeo “numérico” apenas 52% responderam corretamente, ou seja, que a estimativa do médico era de 10%. Um total de 47% dos familiares acreditavam que o prognóstico do paciente era melhor do que o que o médico estimara. Na análise multivariada, confiança no médico que estava cuidando do seu ente querido e recebimento das informações em números associaram-se a uma menor discordância entre o prognóstico estimado pelo médico e o relatado pelo familiar.

 

Aplicações Para a Prática Clínica

Este interessante estudo mostrou que estimativas de prognóstico realizada pelos médicos de forma “numérica” não são melhores que aquelas realizadas de forma “qualitativa”. Independente da forma realizada, as estimativas dos familiares são significativamente melhores que as dos médicos. A discordância parece ser menor quando a confiança no médico é maior.

É interessante notar que mesmo o relato de qual foi a estimativa do prognóstico do médico é diferente (e maior) do que o que o médico disse realmente. Talvez este fato não se deva à má comunicação e sim a outros fatores como o otimismo, descrença nas previsões dos médicos e diferentes crenças. Confiar no médico pareceu ser um dado positivo no estudo e algo a ser explorado na nossa prática. Para um intensivista, ganhar a confiança dos familiares pode ser muito difícil, uma vez que aquela situação estressante é o primeiro contato entre ambos e, ao mesmo tempo, a confiança precisa ser adquirida rapidamente.

O estudo tem duas limitações importantes. Primeiro, abordou uma situação de mau prognóstico que embora seja aquela em que se necessita de mais decisões não reflete todas das relações do dia-a-dia. Segundo, foram excluídos pacientes que não eram fluentes em inglês. Consequentemente, uma população de escolaridade mais baixa não foi avaliada. Esta população pode assemelhar-se mais à nossa e, assim, os dados do estudo podem não se aplicar à nossa realidade. De qualquer modo, seus dados são interessantes e faz-nos pensar que devemos tentar ao máximo adquirir a confiança dos pacientes e familiares, checar a compreensão das explicações dadas e questionar sobre as crenças dos familiares.

 

Referências

1.   Lee Char SJ, Evans LR, Malvar GL, White DB. A randomized trial of two methods to disclose prognosis to surrogate decision makers in intensive care units. Am J Respir Crit Care Med. 2010 Oct 1;182(7):905-9.

2.   Cox CE, Martinu T, Sathy SJ, Clay AS, Chia J, Gray AL, et al. Expectations and outcomes of prolonged mechanical ventilation. Crit Care Med. 2009 Nov;37(11):2888-94; quiz 904.

3.   Azoulay E, Chevret S, Leleu G, Pochard F, Barboteu M, Adrie C, et al. Half the families of intensive care unit patients experience inadequate communication with physicians. Crit Care Med. 2000 Aug;28(8):3044-9.

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