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Relação entre aventais e infecções hospitalares

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 14/07/2011

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Especialidades / Área de atuação: Infectologia/ Medicina Hospitalar

 

Resumo

Este estudo comparou o uso de aventais com roupas privativas para ver qual deles é pior do ponto de vista de contaminação bacteriana dentro de hospitais.

 

Contexto clínico

Recentemente, uma lei que proíbe o uso de jaleco ou avental fora do local de trabalho causou muita polêmica no meio médico. A justificativa da lei, que entrou em vigor em junho de 2011, é impedir que os profissionais de saúde carreguem bactérias da rua para os hospitais e destes para outros ambientes. A lei prevê multa de cerca de R$ 175,00 ao médico e o dobro em caso de reincidência. A questão pertinente aos aventais é maior em outro ambiente: dentro do hospital. Os aventais são, de fato, uma fonte de contaminação bacteriana importante? No Reino Unido e na Escócia, agências governamentais recentemente instituíram diretrizes banindo o uso de aventais brancos para diminuir a transmissão bacteriana dentro de hospitais. Será que essa medida é efetiva?

 

O estudo

Pesquisadores de um hospital público em Denver, nos EUA, incluíram 100 residentes e médicos hospitalistas para realizar este estudo. Este é um estudo prospectivo que randomizou os participantes para usar seus próprios aventais brancos ou uniformes hospitalares lavados (tais uniformes são de manga curta). O objetivo foi comparar o grau de contaminação em cada grupo após 8 horas de trabalho por meio da contagem de colônias de Staphylococcus aureus oxacilino-resistente. Nessa contagem, foram feitas culturas colhidas da barra das mangas e dos bolsos das vestimentas, bem como do punho dos participantes.

Não houve diferença estatisticamente significante entre a contaminação dos aventais e dos uniformes, ou mesmo entre os punhos dos grupos participantes após 8 horas de trabalho. A frequência com que os médicos lavavam seus aventais variou bastante, mas isso não afetou a contagem total de colônias. Já com 3 horas de uso, a contagem de colônias nos uniformes hospitalares lavados era de 50% daquela que era encontrada com 8 horas de uso.

 

Aplicações para a prática clínica

O pensamento lógico é que os aventais, por serem pouco lavados e por terem mangas longas, as quais entram em contato facilmente com o paciente, teriam uma maior colonização por bactérias. Este estudo mostra que, na prática, a contaminação dos aventais é a mesma de roupas hospitalares (uniformes privativos) após um período de 8 horas de trabalho, sendo que após 3 horas, os uniformes privativos já estão com uma colonização de 50% daquela atingida com 8 horas.

Com base nisso, parece não haver justificativa para abandonar o uso de aventais nos hospitais. Por outro lado, pensando na lógica da lei recentemente lançada, que proíbe a circulação de profissionais de saúde com seus aventais fora dos hospitais, a melhor saída seria o uso de roupas privativas durante a permanência dentro destes para todos os profissionais. Pensando na segurança do paciente, continua valendo a máxima de que a lavagem das mãos continua sendo a maneira mais custo-efetiva de evitar infecções hospitalares, já que não importa a vestimenta, uma vez que todas ficam colonizadas por bactérias ao longo das horas de trabalho.

Vale lembrar apenas que este estudo não fez nenhuma medição quanto às taxas de infecções hospitalares. Os dados servem apenas para refletirmos sobre as práticas vigentes e todo o contexto de saúde ao qual este tema é pertinente.

 

Bibliografia

1.     Burden M et al. Newly cleaned physician uniforms and infrequently washed white coats have similar rates of bacterial contamination after an 8-hour workday: a randomized controlled trial. J Hosp Med 2011 Apr; 6:177. [link para o artigo] (Fator de Impacto: 1,951).

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