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Suplementação de ácidos graxos na lesão pulmonar aguda

Autor:

Antonio Paulo Nassar Junior

Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.

Última revisão: 06/03/2012

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Suplementação de ácido ômega-3, ácido gamalinoleico e antioxidantes em dieta enteral na lesão pulmonar aguda1

 

Área de atuação: Medicina Intensiva

 

Especialidade: Medicina Intensiva, Nutrologia, Pneumologia

 

Resumo

Lesão pulmonar aguda (LPA) e sua apresentação mais grave, a síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA) são relativamente comuns em ambiente de terapia intensiva e caracterizam-se por uma resposta inflamatória e pró-coagulante no pulmão. Alguns ácidos graxos atuam reduzindo os mecanismos inflamatórios e a sua suplementação na dieta poderia, teoricamente, melhorar a disfunção orgânica na LPA/SARA.

 

Contexto clínico

Lesão pulmonar aguda (LPA) e sua apresentação mais grave, a síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA) são caracterizadas por inflamação pulmonar, aumento da permeabilidade vascular e uma tendência pró-coagulante, com deposição de fibrina alveolar. Alguns ácidos graxos, como o ômega 3 (?-3), favorecem a produção de prostaglandinas anti-inflamatórias e, assim, teoricamente, poderiam reduzir o grau de lesão na SARA. O ácido gamalinoleico (AGL) também parece reduzir a inflamação, de acordo com estudos pré-clínicos. O objetivo deste estudo foi avaliar se a suplementação enteral destes ácidos graxos e de antioxidantes aumentou o tempo livre de ventilação mecânica (VM) em pacientes com LPA/SARA.

 

O estudo

O estudo teve um desenho randomizado. Foram incluídos pacientes com LPA sob VM cujos médicos tivessem a intenção de iniciar dieta enteral. O suplemento enteral era administrado como bolo de 120 mL, 2 vezes/dia, iniciado 6 horas após a randomização. O grupo controle recebia um suplemento isocalórico e isovolêmico. O suplemento enteral era mantido por até 21 dias ou até 48 horas após a extubação e administrado mesmo que a dieta tivesse sido interrrompida, desde que o paciente tolerasse medicamentos administrados por via enteral. Todos os pacientes eram tratados de acordo com as melhores práticas para LPA/SARA, incluindo ventilação com volume corrente baixo e evitando-se sobrecargas volêmicas.

O desfecho primário analisado foi o tempo livre de VM em 28 dias. Os desfechos secundários incluíram mortalidade em 60 dias, disfunções orgânicas, intolerância gastrintestinal e surgimento de novas infecções.

 

Resultados

O estudo foi interrompido após a inclusão de 143 pacientes no grupo intervenção e 129 no grupo controle por futilidade. O grupo intervenção teve maior incidência de diarreia (28,7 vs. 20,9%, p=0,001).

O grupo intervenção teve menos dias livres de VM (14 vs. 17,2 dias, p=0,02) e menos dias livres de UTI (16,7 vs. 14 dias, p=0,04) em 28 dias. O grupo intervenção também teve uma mortalidade maior em 60 dias, embora não tenha sido estatisticamente significante (26,6 vs. 16,3%, p=0,054) e um menor número de dias livres de disfunções cardiovascular, hepática, renal e de coagulação (12,3 vs. 15,5 dias, p=0,02).

 

Aplicações para a prática clínica

Ao contrário de estudos menores, este não mostrou benefício no uso de suplementação de ?-3, AGL e antioxidantes em pacientes com LPA/SARA. Diferentemente de outros estudos, este administrou o suplemento em bolo e não de forma contínua, o que permitiu que mesmo pacientes que não tolerassem totalmente a dieta enteral pudessem receber o suplemento. Teoricamente, isso favoreceria melhores resultados. No estudo, o que aconteceu foi somente uma maior incidência de diarreia. Além disso, este estudo, ao contrário de outros, controlou bem a ventilação mecânica e o balanço hídrico, o que deve ter minimizado algum potencial benefício da suplementação enteral. Conclui-se que este estudo não mostrou benefícios na suplementação enteral de ?-3 e AGL em pacientes com LPA/SARA e com estratégias otimizadas de ventilação mecânica e balanço hídrico, o que sugere que este tipo de intervenção não deva ser recomendado.

 

Glossário

Estudo randomizado: estudo que “sorteia” pacientes para um (ou mais) de dois grupos e compara seus resultados após uma intervenção.

 

Bibliografia

1.  Rice TW, Wheeler AP, Thompson BT, deBoisblanc BP, Steingrub J, Rock P. Enteral omega-3 fatty acid, gamma-linolenic acid, and antioxidant supplementation in acute lung injury. JAMA. 2011 Oct 12;306(14):1574-81. [Link para Resumo] (Fator de impacto: 30.010).

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