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Fatores de risco para falta de resposta terapêutica em celulite

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 25/02/2013

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Especialidades / Áreas de Atuação: Medicina Hospitalar / Infectologia / Dermatologia

 

Resumo

Este estudo avaliou fatores de risco associados com falência terapêutica em pacientes que precisaram ser hospitalizados com infecções cutâneas (celulite com ou sem abscesso associado).

 

Contexto clínico

A maior parte dos pacientes que se apresentam com celulite com ou sem abscesso cutâneo associado são tratados sem necessidade de hospitalização, entretanto, em alguns casos, a internação é necessária.

Muitos fatores de risco que indicam a hospitalização já foram identificados, mas agora resta identificar quais fatores de risco implicam falência terapêutica nos pacientes que são internados com tais infecções de pele, uma questão negligenciada na literatura médica.

 

O estudo

Este foi um estudo de coorte retrospectiva que incluiu pacientes adultos internados com celulite, com ou sem abscesso cutâneo associado, entre julho de 2009 e junho de 2010 em um hospital-escola terciário na Califórnia-EUA.

Um total de 210 casos se enquadrava nos critérios de inclusão. Falha terapêutica foi definida como falha de tratamento (reabordagem de abscesso, mudança do esquema de antibiótico, ou – na alta hospitalar – aumento do tempo de tratamento originalmente prescrito por conta de resposta clínica inadequada), recorrência do quadro, necessidade de sala de emergência ou morte relacionada à infecção em até 30 dias após a alta.

Dentre esses casos, alguns dados são importantes: 82% dos pacientes foram admitidos via pronto-socorro e 39% tinham recebido tratamento pelo mesmo problema nos últimos 30 dias (ou seja, tiveram recorrência), 55% tinham infecção em membros inferiores e 48% tinham abscessos cutâneos associadamente.

Entre 106 casos que puderam ser analisados, a falência terapêutica ocorreu em 34 (32,1%) pacientes. Os fatores de risco independentes para falência terapêutica foram:

 

      peso acima de 100 kg (OR=5,20; IC95%=1,49-18,21; P=0,01);

      IMC = 40 (OR=4,10; IC95%=1,21-13,84; P=0,02);

      antibioticoterapia empírica inadequada (OR=9,25; IC95%=1,87-45,73; P < 0,01);

      antibioticoterapia recente (OR=2,98; IC95%=1,10-8,10; P=0,03);

      tempo inferior ao recomendado de antibiótico após a alta (OR=3,64; IC95%=1,41-9,41; P < 0,01).

 

Em uma análise de subgrupos, demonstrou-se que pacientes obesos mórbidos têm maior risco de falha terapêutica se receberem alta com uma dose oral baixa de clindamicina ou trimetoprim/sulfametoxazol (P=0,002).

 

Aplicações para a prática clínica

Este estudo traz dados bastante interessantes sobre os casos refratários de celulite que são hospitalizados, fatos que vemos na prática diária. Os dados do estudo corroboram questões empiricamente percebidas, sendo a mais óbvia delas a falha terapêutica em pacientes obesos (peso > 100 kg ou IMC IMC = 40). Entretanto, parece haver falhas nítidas em relação à prescrição de antibióticos para pacientes obesos como constatado na análise de subgrupos, mas que puderam ser vistas também para todos os pacientes quando a escolha de antibiótico empírico foi inadequada, ou seja, a refratariedade foi “criada” pelo médico prescritor por desconhecimento técnico ou por negligenciar fatos como os apresentados neste estudo.

Uma coisa é certa: parte da falha terapêutica vem da inadequação prescricional, parte de fatores intrínsecos do paciente, em específico, o peso. Derivam, então, neste ponto, algumas questões importantes sobre o tratamento de celulite em pacientes obesos, que são: será que a dose de antibióticos em obesos deve ser maior que as utilizadas em não obesos para o tratamento de celulite? Será que o tempo de antibioticoterapia nestes pacientes deve ser mais prolongado que em outros grupos? A resposta aparentemente é sim para ambas as perguntas, a despeito de isto não estar validado prospectivamente e em ensaio clínico.

Ficam aqui lições sobre o tratamento das celulites, que são: siga antibioticoterapia apropriada e no tempo recomendado. Para pacientes obesos, pense em mudar doses ou tempo de antibioticoterapia. E ainda fica lançado o desafio de se avaliar estas questões em ensaio clínico, de forma a validar definitivamente o que aqui foi apresentado.

 

Bibliografia

1.    Halilovic J, Heintz BH, Brown J. Risk factors for clinical failure in patients hospitalized with cellulitis and cutaneous abscess. J Infect 2012 Mar 21 [e-pub ahead of print]. [link para o artigo] (Fator de Impacto: 3,805)

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