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Uso Crônico de Maconha Gera Lesão Cerebral

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 15/05/2015

Comentários de assinantes: 1

Contexto Clínico

O debate sobre a maconha tem cada vez mais se aprofundado a respeito de diferentes aspectos como uso medicinal, legalização e uso recreativo, etc. Questões práticas e filosóficas têm vindo à tona, e informações consistentes são cada vez mais importantes para se chegar a uma conclusão.

Quanto ao uso recreacional, algo que é de grande importância são os efeitos deletérios que o uso crônico da droga possa ter. A literatura existente sobre os efeitos em longo prazo da maconha sobre o cérebro   é inconsistente e, portanto, inconclusivo. Sendo assim, apresentaremos um estudo que buscou resposta com uma metodologia mais confiável.

 

O Estudo

Neste estudo abrangente, que teve como objetivo caracterizar alterações cerebrais associadas ao uso crônico de maconha, foi medido o volume de substância cinzenta, a conectividade funcional entre diferentes áreas da substância cinzenta e a integridade da substância branca (ou seja, a conectividade estrutural). Isso foi feito comparando 48 usuários de maconha (pelo menos 4x/semana, média de nove anos de consumo) e 62 controles não usuários que foram pareados por idade e sexo.

Os resultados mostraram que, em comparação com os controles, os usuários de maconha tinham volume dos giros orbitofrontais bilateralmente menores, que a conectividade funcional foi maior nas redes orbitofrontais (córtex órbitofrontal e lobo temporal) dos usuários, e que a conectividade estrutural foi maior em setores que inervam os córtex orbitofrontais (fórceps menores) também nos usuários. O aumento da conectividade funcional em usuários de maconha foi associada com idade de início de consumo mais precoce. Os resultados foram controlados para uso de tabaco e álcool, mas isso não alterou os resultados.

 

Aplicações Práticas

O que se pode traduzir de prático destes achados é que comprovadamente a maconha promove alterações estruturais e funcionais no cérebro, o que estudiosos atribuem ao receptor CB-1 de canabinoides. Há perda de massa cinzenta, e há aumento da conectividade funcional, algo que não é bom, pois na verdade trata-se de um uso de energia maior e menos eficiente pelas células cerebrais, demonstrando declínio de sua funcionalidade.

Este padrão pode indicar efeitos diferenciais do uso da maconha cronicamente, o que pode refletir processos neuroadaptativos complexos e deletérios. Apesar da idade observada de início dos efeitos, estudos longitudinais são necessários para determinar a causalidade destes efeitos. Além disso não se sabe se a abstinência reverte estes efeitos, algo que merece ser estudado.

O mais importante deste estudo é que ele traz mais um ponto importante na discussão da legalidade do uso da maconha. Pelo menos por esse dado, parece que há prejuízo ao usuário crônico, algo que deve ser levado em conta em qualquer decisão governamental que porventura venha a ser tomada no futuro.

 

Bibliografia

Filbey FM et al. Long-term effects of marijuana use on the brain. Proc Natl Acad Sci U S A 2014 Nov 10; [e-pub ahead of print] (link para o artigo).

Comentários

Por: Ildemar Cavalcante Guedes em 08/05/2015 às 15:49:58

"Não sou usuário da maconha e nem nunca experimentei. Acredito sim que, como muitas outras substâncias a maconha usada em excesso, abusivamente, pode trazer prejuízos para a saúde. Mas também o açúcar, a gordura, os carboidratos, as proteínas, o álcool,etc., se forem usados em forma excessiva trarão prejuízos para a saúde. A questão principal, no meu modo de ver, que se coloca para toda sociedade é a seguinte: a proibição da maconha traz mais prejuízo ou benefício? A repressão impediu o uso? A repressão impediu o tráfico? A repressão agravou ou suavizou a criminalidade? Na minha opinião, toda política baseada na proibição,na repressão e na criminalização do uso da maconha fracassou rotundamente. Portanto é hora das forças sociais debaterem seriamente uma nova forma de abordagem para o problema."

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