Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 06/07/2016
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O volume anual de episódios de gastroenterocolite aguda em crianças é bastante elevado. A base do tratamento de qualquer episódio desses é a prevenção da desidratação, realizando reidratação oral sempre que houver diarreia, uma abordagem consagrada conforme estudos realizados em países de baixa renda. A infusão de líquidos e eletrólitos por via intravenosa não é necessariamente melhor. Além disso, é mais caro reidratar dessa forma. Pais e cuidadores em 62% dos casos preferem a reidratação intravenosa, pois há muita dificuldade da aceitação da criança na reidratação oral. Sendo assim, a reidratação oral, apesar de mais custo-efetiva, é mais difícil de ser realizada.
Para tentar resolver essa questão, crianças com gastroenterite e desidratação mínima que procuraram atendimento em um departamento de emergência no Canadá foram randomizadas para consumir suco de maçã seguido por seus líquidos preferidos ou para o uso exclusivo de solução de manutenção de eletrólitos para repor as perdas. A hipótese dos pesquisadores é que permitir que as crianças bebam suco de maçã seguido por seus fluidos preferenciais não resultaria em um aumento da frequência de falha do tratamento em comparação com a manutenção de eletrólitos usando soluções de reidratação.
Este foi um estudo randomizado, de não inferioridade, realizado entre os meses de outubro e abril, durante os anos de 2010 a 2015, em um departamento de emergência pediátrica terciário em Toronto, Ontário, Canadá. Os participantes do estudo foram crianças de 6 a 60 meses com gastroenterite e desidratação mínima. Os participantes foram aleatoriamente designados para receber suco de maçã diluído pela metade/ fluidos preferidos (n = 323) ou solução de manutenção de eletrólito com sabor de maçã (n = 324). A terapia de reidratação oral seguiu protocolos institucionais independente do braço de randomização. Após a alta, o grupo do suco de maçã / fluidos preferidos recebeu fluídos como desejado; o grupo de solução de manutenção de eletrólito continuou recebendo essas soluções.
O desfecho primário avaliado foi um composto de falência terapêutica definida por qualquer um dos seguintes em um prazo de sete dias da randomização: reidratação intravenosa, hospitalização, consulta médica, sintomas prolongados, e 3% ou mais de perda de peso ou significativa desidratação no seguimento. Os desfechos secundários incluíram a reidratação intravenosa, hospitalização e frequência de diarreia e vômitos.
Entre 647 crianças randomizadas (idade média de 28,3 meses; 331 meninos [51,1%]; 441 (68,2%), sem evidência de desidratação), 644 (99,5%) completaram o acompanhamento. Para as crianças que receberam suco de maçã houve menos falhas de tratamento do que para as crianças que receberam solução de manutenção de eletrólito (16,7% vs 25,0%; diferença, -8,3%; IC97,5% -infinito para -2,0%; P <0,001 para inferioridade e P = 0,006 para a superioridade). Menos crianças que receberam suco de maçã / fluidos preferenciais receberam reidratação intravenosa (2,5% vs 9,0%; diferença, -6,5%; IC99% -11,6% para -1,8%). As taxas de hospitalização e diarreia e vômitos não foram significativamente diferentes entre os grupos.
A despeito desse estudo não ser aplicável a realidades com menos recursos econômicos, essa pesquisa é excelente para mostrar que em casos mais leves de GECA em crianças entre 6 meses e 5 anos é preferível dar sucos e líquidos que a criança goste mais para garantir a hidratação e sucesso de tratamento. Esse dado pode facilitar muito a vida dos pais e dos médicos que estão orientando famílias em situações de casos mais leves.
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