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Fisioterapia para Redução de Complicações Pulmonares Pós-Operatórias

Última revisão: 02/05/2018

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Autor: Pedro Henrique Ribeiro Brandes

 

Contexto Clínico

 

A presença de complicações pulmonares pós-operatórias aumenta em muito a morbidade, a mortalidade do paciente, bem como os custos de saúde do seu cuidado. Em pacientes submetidos à cirurgia abdominal alta, a incidência de tais complicações pode variar de 10 a 50% de acordo com a metodologia e a definição de complicação pulmonar pós-operatória utilizada.

Já se sabe que a mobilização precoce pós-operatória do paciente é uma das principais chaves para prevenção de complicações não só pulmonares, mas também do risco de tromboembolismo venoso, íleo metabólico e mesmo delirium; todavia, até o momento, estudos de estratégias de prevenção como sessões de fisioterapia com exercícios respiratórios pré-operatórios traziam resultados inconclusivos, muitas vezes sendo questionado se o custo adicional de tal medida seria justificado.

 

O Estudo

 

Neste ensaio clínico multicêntrico, duplo-cego, controlado por placebo, realizado em clínicas de avaliação pré-operatória da Nova Zelândia e da Austrália, 441 pacientes a serem submetidos a procedimento cirúrgico abdominal alto eletivo dentro das 6 semanas seguintes foram randomizados a receber um livreto educativo padrão (n = 219), contendo informações sobre complicações pulmonares pós-operatórias e a importância da mobilização precoce e exercícios respiratórios ou, adicionalmente, a realizar uma única sessão de fisioterapia pré-operatória (n = 222), com duração de 30 minutos em que o fisioterapeuta detalhadamente explicava os mecanismos de suscetibilidade a complicações pós-operatórias, fazia uma avaliação de risco individualizada e treinava os pacientes sobre os exercícios respiratórios contidos no livreto.

No período pós-operatório, todos os pacientes receberam sessões diárias de fisioterapia motora padrão para mobilização precoce e um único lembrete de executar os exercícios respiratórios. Exceto pela intervenção, todo o cuidado de cada paciente ficou a critério da equipe de saúde (tipos de anestesia, técnica cirúrgica, anestesia e cuidados clínicos pós-operatórios).

O desfecho avaliado foi a presença de complicação pulmonar pós-operatória até o 14º dia pós-procedimento ou alta hospitalar, caso esta ocorresse antes, por meio de uma ferramenta diagnóstica padrão: o escore do grupo de Melbourne (presença de quatro ou mais critérios entre: alteração nova na ausculta pulmonar, mudança do aspecto do escarro, dessaturação nova, febre, opacificação nova na radiografia, leucocitose inexplicada, cultura de escarro positiva e diagnóstico de pneumonia ou prescrição de antibioticoterapia para infecção respiratória).

Dos 441 pacientes randomizados, 9 foram retirados do estudo por não terem sido submetidos ao procedimento cirúrgico ou por terem retirado seu consentimento. Complicações pulmonares pós-operatórias ocorreram em 85 dos 432 pacientes que participaram do estudo (20%), sendo que uma parcela bem menor ocorreu no grupo intervenção com a sessão de fisioterapia (27 eventos em 218 participantes, 12% deles) em comparação ao livreto educativo padrão (58 eventos em 214 participantes, 27% deles), demonstrando uma redução absoluta de risco de 15% (IC 95%, 9 a 22%, p <0.001), com um número necessário tratar (NNT) de 7 (IC 95%, 5 a 14).

Em uma análise de tempo até evento ajustada de acordo com idade, comorbidades respiratórias e procedimento cirúrgico realizado, a razão de riscos permaneceu reduzida em até pela metade no grupo intervenção (HR, 0,48; IC 95%, 0,3 a 0,75, p = 0.001). Dentre as análises secundárias, a incidência de pneumonia hospitalar foi reduzida em mais da metade (8 eventos no grupo intervenção e 20 no grupo placebo; NNT, 9; IC 95%, 6 a 21). Não houve diferenças significativas na análise secundária de permanência hospitalar, internação não planejada em UTI ou reinternações hospitalares.

 

Aplicação Prática

 

Este estudo traz mais evidência ao papel da fisioterapia na redução de complicações pulmonares pós-operatórias. Uma única sessão de duração de 30 minutos foi capaz de reduzir tais complicações em uma população a ser submetida à cirurgia abdominal alta. Vale ressaltar que esse estudo foi feito em uma população que já recebe avaliação multiprofissional ambulatorial pré-operatória, e não se sabe o impacto de tal intervenção no pré-operatório imediato.

Apesar de não ter sido alvo de análise no estudo, há uma provável relação econômica de custo-benefício favorável, já que uma sessão única de fisioterapia foi capaz de reduzir os eventos pela metade com um NNT de 7, podendo beneficiar as dezenas de milhões de pacientes submetidos à cirurgia abdominal alta, anualmente, em todo o mundo.

 

 

Bibliografia

 

Boden Ianthe, Skinner Elizabeth H, Browning Laura, Reeve Julie, Anderson Lesley, Hill Cat et al. Preoperative physiotherapy for the prevention of respiratory complications after upper abdominal surgery: pragmatic, double blinded, multicentre randomised controlled trial BMJ 2018; 360 :j5916

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