Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 06/06/2022
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Alguns incidentes clínicos no período neonatal (podendo ou não ser associados a erros de condução do caso) são associados a desfechos negativos não só no curto prazo, mas também no longo prazo para as crianças afetadas. Por exemplo, a hipoglicemia neonatal está associada ao aumento do risco de impacto negativo em funções executivas e visuomotoras, mas as implicações para o aprendizado posterior são incertas. Assim, há dúvidas em relação a se, entre crianças nascidas com risco de hipoglicemia neonatal, aquelas que apresentam hipoglicemia têm pior desempenho acadêmico no meio da infância.
Apresentamos um estudo observacional, do tipo coorte prospectiva, feito com recém-nascidos prematuros e a termo nascidos com risco de hipoglicemia. As concentrações de glicose foram medidas por até 7 dias. Bebês com episódios de hipoglicemia (concentração de glicose no sangue < 47 mg/dL [2,6 mmol/L]) foram tratados para manter concentração de glicose no sangue de pelo menos 47 mg/dL. Foram recrutados 614 bebês no Waikato Hospital, Hamilton, Nova Zelândia, entre 2000 e 2010, e 480 foram avaliados nas idades de 9 a 10 anos entre 2016 e 2020. Hipoglicemia foi definida como pelo menos um evento hipoglicêmico, representando a soma de episódios hipoglicêmicos e intersticiais não concomitantes (concentração de glicose do sensor < 47 mg/dL por = 10 minutos) com mais de 20 minutos de intervalo. O desfecho primário avaliado foi baixo desempenho educacional, definido como desempenho abaixo ou bem abaixo do nível curricular normativo em testes padronizados de compreensão de leitura ou matemática. Houve 47 desfechos secundários relacionados a função executiva, função visuomotora, adaptação psicossocial e saúde geral.
Das 587 crianças elegíveis (230 [48%] do sexo feminino), 480 (82%) foram avaliadas com idade média de 9,4 (DP: 0,3 ano). As crianças que foram e que não foram expostas à hipoglicemia neonatal não diferiram significativamente nas taxas de baixo desempenho educacional (138/304 [47%] vs. 82/176 [48%], respectivamente; diferença de risco ajustada, -2% [IC 95%, -11% a 8%]; risco relativo ajustado, 0,95 [IC 95%, 0,78 a 1,15]). As crianças que foram expostas à hipoglicemia neonatal, em comparação com aquelas não expostas, foram significativamente menos propensas a serem classificadas pelos professores como estando abaixo ou bem abaixo do nível do currículo para leitura (68/281 [24%] vs. 49/157 [31%], respectivamente; diferença de risco ajustada, -9% [IC 95%, -17% a -1%]; risco relativo ajustado, 0,72 [IC 95%, 0,53 a 0,99; P?=?,04]). Os grupos não foram significativamente diferentes para outros desfechos secundários.
Neste estudo observacional, pudemos verificar que, entre os recém-nascidos em risco de hipoglicemia neonatal que foram rastreados e tratados, se necessário, a exposição à hipoglicemia neonatal em comparação com a ausência de tal exposição não foi significativamente associada ao menor desempenho educacional no meio da infância. Se isso não isenta a correta identificação e correção da hipoglicemia nessa população, ao menos não há indícios de impactos negativos do ponto de vista educacional na infância.
1. Shah R, Dai DWT, Alsweiler JM, et al. Association of Neonatal Hypoglycemia With Academic Performance in Mid-Childhood. JAMA. 2022;327(12):1158–1170
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