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Hanseníase

Última revisão: 31/05/2009

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Reproduzido de:

Dermatologia na Atenção Básica de Saúde / Cadernos de Atenção Básica Nº 9 / Série A - Normas de Manuais Técnicos; n° 174 [Link Livre para o Documento Original]

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Políticas de Saúde

Departamento de Atenção Básica

Área Técnica de Dermatologia Sanitária

BRASÍLIA / DF – 2002

 

Hanseníase

CID-10: A30

 

DESCRIÇÃO DA HANSENÍASE

Doença infectocontagiosa, crônica, curável, causada pelo bacilo de Hansen. Esse bacilo é capaz de infectar grande número de pessoas (alta infectividade), mas poucos adoecem, (baixa patogenicidade). O poder imunogênico do bacilo é responsável pelo alto potencial incapacitante da Hanseníase.

 

DEFINIÇÃO DE CASO

Um caso de Hanseníase, definido pela Organização Mundial de Saúde-OMS, é uma pessoa que apresenta um ou mais dos critérios listados a seguir, com ou sem história epidemiológica e que requer tratamento quimioterápico específico: lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade; espessamento de nervo(s) periférico(s), acompanhado de alteração de sensibilidade; e baciloscopia positiva para bacilo de Hansen. Obs: a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico de Hanseníase. Os aspectos morfológicos das lesões cutâneas e classificação clínica nas quatro formas abaixo devem ser utilizados por profissionais especializados e em investigação científica. No campo, a OMS recomenda, para fins terapêuticos, a classificação operacional baseada no número de lesões cutâneas. O quadro abaixo sintetiza as formas clínicas de Hanseníase, com suas principais características.

 

Tabela 1: Sinopse para classificação das formas clínicas da Hanseníase

CARACTERÍSTICAS

Clínica

Baciloscopia

Forma clínica

Classificação operacional vigente para rede básica

Áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas hipocrômicas e/ou eritemato-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de pelos.

Negativa

Indeterminada (HI) (Figura 1)

PB Até 5 lesões de pele

Placas eritematosas, eritemato-hipocrômicas, bem definidas, hipo ou anestésicas, comprometimento de nervo.

Negativa

Tuberculóide (HT) (Figura 2)

Lesões pré-foveolares (eritematosas, planas com o centro claro). Lesões foveolares (eritemato-pigmentares, de tonalidade ferruginosa ou pardacenta). Apresenta alterações de sensibilidade.

Positiva (bacilos e globias ou com raros bacilos) ou Negativa

Dimorfa (HD)

MB Mais que 5 lesões de pele

Eritema e infiltração difusas, placas eritematosas infiltradas e de bordas mal definidas, tubérculos e nódulos, madarose, lesões das mucosas, com alteração de sensibilidade.

Positiva (bacilos abundantes e globias)

Virchowiana (HV)

Notas: 1) Na Hanseníase virchoviana, afora as lesões dermatológicas e das mucosas, ocorrem também lesões viscerais; 2) As manifestações neurológicas são comuns a todas as formas clínicas. Na Hanseníase indeterminada, não há comprometimento de troncos nervosos, expressos clinicamente. Na Hanseníase tuberculóide, o comprometimento dos nervos é mais precoce e mais intenso; 3) Os casos não classificados quanto à forma clínica serão considerados para fins de tratamento como multibacilares.

 

Figura 1: Hanseníase indeterminada: mancha hipocrômica.

 

Figura 2: Hanseníase tuberculóide.

 

 

SINONÍMIA

Mal de Hansen; antigamente a doença era conhecida como lepra.

 

ETIOLOGIA DA HANSENÍASE

Bacilo álcool-ácido resistente, intracelular obrigatório, denominado bacilo de Hansen ou Mycobacterium leprae.

 

RESERVATÓRIO

O homem é reconhecido como única fonte de infecção, embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados.

 

MODO DE TRANSMISSÃO DA HANSENÍASE

Contato íntimo e prolongado com pacientes bacilíferos não tratados.

 

PERÍODO DE INCUBAÇÃO

Em média 5 anos, podendo ir de meses a mais de 10 anos.

 

PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE

Os pacientes multibacilares podem transmitir Hanseníase, antes de iniciar o tratamento específico. A primeira dose de rifampicina é capaz de eliminar as cepas viáveis do bacilo de Hansen em até 99,99% da carga bacilar de um indivíduo.

 

COMPLICAÇÕES DA HANSENÍASE

Quando o diagnóstico é precoce e o tratamento quimioterápico do paciente é adequadamente seguido, com orientações de autocuidado para prevenir incapacidades, geralmente, a Hanseníase não deixa seqüelas e ou complicações. Um grupo de pacientes pode desenvolver episódios reacionais, que são intercorrências da reação imunológica do hospedeiro. Estas podem surgir no diagnóstico, durante o tratamento específico, ou após a alta do paciente. Nesse último caso, não requer a reintrodução da poliquimioterapia. As reações (ou episódios reacionais) são agrupadas em 2 tipos: o Tipo 1: também chamado reação reversa. Ocorre mais freqüentemente em pacientes com Hanseníase tuberculóide e dimorfa. Caracteriza-se por eritema e edema das lesões e/ou espessamento de nervos com dor à palpação dos mesmos (neurite). A neurite pode evoluir sem dor (neurite silenciosa). É tratado com Prednisona, VO, 1-2 mg/kg/dia, com redução em intervalos fixos, conforme avaliação clínica. São também indicação de uso de corticosteróides a irite / iridociclite e a orquite (consultar o Guia para o Controle da Hanseníase, da Coordenação Nacional de Dermatologia Sanitária/Ministério da Saúde). O Tipo 2, cuja manifestação clínica mais frequente é o eritema nodoso: os pacientes com Hanseníase virchowiana são os mais acometidos. Caracteriza-se por nódulos eritematosos, dolorosos, mais palpáveis que visíveis em qualquer parte do corpo. Pode evoluir com neurite. Trata-se com talidomida, VO, na dose de 100 a 400 mg/dia, somente em paciente do sexo masculino (é proibido o uso em mulheres em idade fértil, devido à possibilidade de ocorrência de teratogenicidade); ou prednisona, VO, 1-2 mg/kg/dia. A redução também é feita em intervalos fixos, após avaliação clínica.

 

DIAGNÓSTICO DA HANSENÍASE

Clínico, baseado na definição de caso. A baciloscopia e a histopatologia podem ser úteis como apoio diagnóstico.

 

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Eczemátide, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gilbert, eritema polimorfo, eritema nodoso, granuloma anular, eritema anular, lúpus, farmacodermias, pelagra, sífilis, alopécia areata, sarcoidose, tuberculose, xantomas, esclerodermias.

 

TRATAMENTO DA HANSENÍASE

Não é eticamente recomendável tratar o paciente de Hanseníase com um só medicamento.

 

Tabela 2: Esquemas recomendados poliquimioterapia - OMS

Formas / Medicamento

Paucibacilar (PB)

Multibacilar (MB)

PB Lesão Única sem envolvimento de tronco nervoso (1)

Rifampicina (RFM)

600 mg, 1 vez por mês supervisionada

600 mg, 1 vez por mês, supervisionada

600 mg, em dose única, supervisionada

Dapsona (DDS)

100 mg/dia autoadministrada

100 mg/dia autoadministrada

-

Clofazimina (CFZ)

-

300 mg, 1 vez por mês, supervisionada + 100 mg em dias alternados ou 50 mg/dia auto-administrada

-

Minociclina (Mino)

-

 

100 mg, em dose única, supervisionada

Ofloxacina (Oflô)

-

 

400 mg, em dose única, supervisionada

(1) Este esquema é conhecido como ROM (Rifampicina, Ofloxacina e Minociclina) e deve ser usado exclusivamente oara tratar pacientes PB com lesão única, sem envolvimento de troncos nervosos. Esse esquema é recomendado somente para uso em centros de referência.

 

TEMPO DE TRATAMENTO DA HANSENÍASE

Paucibacilares

6 doses mensais, em até 9 meses de tratamento.

 

Multibacilares

12 doses mensais, em até 18 meses de tratamento. Casos multibacilares que iniciam o tratamento com numerosas lesões e/ou extensas áreas de infiltração cutânea poderão apresentar uma regressão mais lenta das lesões de pele. A maioria desses doentes continuará melhorando após a conclusão do tratamento com 12 doses. É possível, no entanto, que alguns desses casos demonstrem pouca melhora e por isso poderão necessitar de 12 doses adicionais de PQT-MB.

 

CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS DA HANSENÍASE

A Hanseníase é mais comum em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Tem baixa letalidade e baixa mortalidade, podendo ocorrer em qualquer idade, raça ou gênero.

 

OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Reduzir o coeficiente de prevalência para menos de um doente em cada 10.000 habitantes. Esta meta será alcançada, diagnosticando-se precocemente os casos, tratando-os, interrompendo, assim, a cadeia de transmissão.

 

NOTIFICAÇÃO

Doença de notificação compulsória no Brasil.

 

MEDIDAS DE CONTROLE DA HANSENÍASE

Diagnóstico precoce dos casos, através do atendimento de demanda espontânea, de busca ativa e de exame dos contatos para tratamento específico, que deve ser feito em nível eminentemente ambulatorial.

 

PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES

Todo paciente de Hanseníase deve ser examinado minuciosamente e orientado quanto aos autocuidados para evitar ferimentos, calos, queimaduras (que podem ocorrer devido à hipoestesia e/ou anestesia), o que previne aparecimento de incapacidades. Observar que a melhor forma de preveni-las é fazer o tratamento poliquimioterápico de modo regular e completo. Ratifica-se ainda que o diagnóstico precoce do acometimento neural, com ou sem reação hansênica e seu tratamento adequado é medida essencial na prevenção de incapacidades.

 

VIGILÂNCIA DE CONTATOS

Contato intradomiciliar é toda pessoa que resida ou tenha residido com o paciente nos últimos 5 anos. Examinar todos os contatos de casos novos; os doentes devem ser notificados como caso novo e tratados. Os contatos sãos devem receber duas doses da vacina BCG-ID. Quando houver a cicatriz por BCG-ID, considerar como 1a dose e aplicar a 2a dose. Quando não houver a cicatriz, aplicar a 1a dose e a 2a após 6 meses. Paralelamente, os contatos sãos devem ser orientados quanto aos sinais e sintomas da Hanseníase.

 

Tabela 3: Doses recomendadas para crianças

Faixa etária / Medicamento

RFM

DDS

CFZ

Autoadministrada

Supervisonada/mês

0 – 5

150 – 300 mg

25 mg

100 mg/semana

100 mg

6 – 14

300 – 450 mg

50 – 100 mg

450 mg/semana

150 a 200 mg

> 15

Dose adulta

Dose adulta

Dose adulta

Dose adulta

 

RECIDIVA DA HANSENÍASE

Deve-se suspeitar de recidiva, com base nos seguintes parâmetros.

 

Paucibacilares

Paciente que, após alta por cura, apresentar: dor em nervo não afetado anteriormente, novas lesões e/ou exacerbações de lesões anteriores que não respondam à corticoterapia recomendada para tratar episódios reacionais do tipo 1, nas doses indicadas.

 

Multibacilares

Paciente que, após 5 anos de alta por cura, continuar apresentando episódios reacionais que não cedem à terapêutica com corticosteróide e/ou talidomida, nas doses recomendadas para tratar episódios do tipo 2. Considerar, na recidiva, a confirmação baciloscópica, ou seja, a presença de bacilos íntegros e globias.

Observações: 1) A ocorrência de episódio reacional após a alta do paciente não significa recidiva da doença. A conduta correta é instituir apenas terapêutica antirreacional (prednisona e/ou talidomida); 2) Todo caso de recidiva deve, após confirmação, ser notificado como recidiva e reintroduzido novo esquema terapêutico; 3) A Hanseníase não confere imunidade. Os parâmetros para diferenciar recidiva e reinfecção não estão claros na literatura.

 

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