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Alteração de eletrocardiograma em intoxicação

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 05/05/2014

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Especialidade: Medicina de Emergência

 

Quadro Clínico

         Paciente do sexo feminino,  16 anos, portadora de distúrbio de personalidade, é trazida ao pronto-socorro por ter há cerca de 4h realizado tentativa de suicídio com ingesta dos comprimidos para tratamento de hipertensão de sua avó.

         Na chegada, está em Glasgow 14 (sonolenta), com pressão arterial de 80x60mmH e frequência cardíaca de 36bpm, frequência respiratória de 14 cpm e saturação de oxigênio de 94% em ar ambiente, sem outros achados significativos ao exame físico. Foi feita glicemia capilar na chegada devido ao rebaixamento do nível de consciência, com valor de 46mg/dL.

         Foi realizado um ECG devido à frequência cardíaca. Qual o achado deste ECG? E o que fazer diante deste caso?

 

Imagem 1 – Eletrocardiograma da paciente que tentou suicídio

 

 

 

 

Diagnóstico e Discussão

         O eletrocardiograma apresentado mostra uma BRADICARDIA SINUSAL.

         Diante deste achado, e com a condição clínica de tentativa de suicídio com medicamentos “anti-hipertensivos”, provavelmente estamos diante de uma intoxicação por betabloqueadores.

         Primeiramente, devemos levar a paciente para sala de emergência e colocá-la sob monitorização contínua. Procede-se então com o ABCD clássico. Não havendo necessidade de abordar a via aérea e a parte respiratória da paciente, procedemos ao sistema cardiovascular. Nesse caso, com FC de 36bpm e PA sistólica abaixo de 90 mmHg, há indicação de tratamento para esta hipotensão e bradicardia. Deve-se iniciar expansão com soro fisiológico e atropina EV. Logo a seguir, deve-se reverter a hipoglicemia com glicose hipertônica EV.

         Uma vez que não há indicação de lavagem gástrica ou carvão ativado, neste caso dado o tempo de ingesta, procede-se ao uso de antídoto.

         No caso da intoxicação por betabloqueador, considera-se o uso de glucagon como primeira linha de tratamento. A dose inicial em bolus é de 5mg EV administrado lentamente. Se não houver melhora de pulso e pressão arterial em até 15 minutos, pode-se administrar um segundo bolus. Caso ainda não ocorra melhora, iniciar infusão contínua de glucagon na taxa de 2 a 5mg/hora, com objetivo de manter PA média de 60mmHg.

         A lógica do uso de glucagon vem da seguinte explicação: o glucagon ativa a adenilato ciclase em um sítio independente dos agentes beta-adrenérgicos, causando um aumento do AMP cíclico. Elevações AMP cíclico aumentam o pool intracelular de cálcio disponível para lançamento durante a despolarização, aumentando a contratilidade. O sucesso do uso de glucagon para controlar a toxicidade a betabloqueador foi documentado em muitos relatos de casos, mas não há estudos controlados envolvendo seres humanos.

 

Bibliografia

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