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Laboratório

Última revisão: 14/05/2013

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Versão original publicada na obra Slavish, Susan M. Manual de prevenção e controle de infecções para hospitais. Porto Alegre: Artmed, 2012.

 

 

  

 

      A equipe do laboratório está exposta a infecções ocupacionais de amostras contaminadas, acidentes com perfurocortantes, respingos e derramamentos, ingestão ao pipetar com a boca e inalação de aerossóis.

      Os pacientes e o público sofrem risco de infecção quando materiais infecciosos do laboratório são transportados dentro e fora das dependências do hospital.

 

      Seguir os procedimentos adequados de acordo com o nível de biossegurança do laboratório.

      Executar a avaliação de risco.

      Desenvolver um manual de biossegurança sobre higiene das mãos, EPIs, procedimentos adequados, estratégias de limpeza e programas para redução de acidentes com perfurocortantes.

      Conter, limpar e descontaminar após derramamentos.

      Limpar o equipamento de laboratório apropriadamente.

      Transportar os materiais infectantes usando embalagem adequada.

      Descartar o lixo infectante apropriadamente.

 

O laboratório recebe, faz cultura, testa e analisa muitas amostras que contêm patógenos perigosos, e a equipe que trabalha nele está sob alto risco de infecções ocupacionais.1

Como um autor afirma, “os laboratórios são ambientes de trabalho especiais, muitas vezes únicos, que apresentam riscos de doenças infecciosas identificáveis para as pessoas que trabalham no setor ou quem esteja por perto”.1 As infecções desenvolvidas como resultado direto das atividades nos laboratórios são chamadas de infecções adquiridas no laboratório (ou infecções associadas ao laboratório). Embora a taxa de infecção adquirida no laboratório seja relativamente baixa (0,003%), essas infecções podem apresentar graves riscos à saúde da equipe do laboratório e muitas vezes podem ser um risco à vida.2

Em muitos casos, a natureza da infecção de uma cultura ou amostra específica é desconhecida até que a equipe do laboratório tenha interagido com ela; assim, se as precauções adequadas não forem usadas sempre, esses funcionários estarão sob risco. Como ocorre com outros ambientes discutidos neste livro, o risco de desenvolver infecção a partir de uma exposição no laboratório depende do método de transmissão, da virulência do patógeno, da suscetibilidade do hospedeiro e do ambiente do laboratório.3

De acordo com os Centers for Disease Control and Prevention (CDCs), as principais vias de transmissão de agentes infecciosos no laboratório são:4

 

      Seringas ou outros perfurocortantes contaminados

      Derramamentos e respingos na pele não intacta ou em membranas mucosas

      Ingestão ao pipetar com a boca

      Picadas e arranhões (de animais de laboratório)

      Exposição por inalação

 

Os funcionários do laboratório devem estar familiarizados com esses riscos e compreender e implantar estratégias para controlar e evitar a transmissão de infecção. As seções a seguir discutem questões que esses profissionais devem conhecer.

 

Níveis de biossegurança

O CDC tem um sistema de classificação chamado Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories Guidelines, que agrupa os agentes etiológicos em quatro níveis de acordo com seu modo de transmissão, a gravidade da enfermidade causada pela infecção, o tratamento disponível para essa enfermidade e as medidas de prevenção disponíveis contra elas. Esses níveis são usados para classificar os tipos de atividades que podem ser realizadas com segurança em laboratórios – incluindo os hospitalares – envolvendo micro-organismos e animais de laboratório. Os níveis de biossegurança exigem diferentes estratégias de prevenção e controle de infecções (PCI), que incluem práticas e técnicas específicas do laboratório, equipamentos de segurança e instalações.1,4 Os profissionais de assistência à saúde (PASs) – incluindo a equipe do laboratório e prevencionistas de infecção – devem estar familiarizados com esses níveis e suas diversas exigências. A seguir, são apresentadas as definições das quatro descrições de biossegurança do CDC:1,4,5

 

1.    Nível de biossegurança 1 (BSL-1) apresenta condições adequadas para cepas bem definidas e caracterizadas de micro-organismos viáveis não conhecidos por provocarem doenças em adultos saudáveis. Esses micro-organismos representam mínimo risco potencial para a equipe do laboratório. Os equipamentos especiais de contenção não são usados em laboratórios BSL-1, e, em geral, esses laboratórios não são sempre separados dos padrões de trânsito gerais.

2.    Nível de biossegurança 2 (BSL-2) apresenta condições que incluem agentes com um risco potencial moderado para a equipe do laboratório. Os laboratórios BSL-2 trabalham com sangue humano, fluidos corporais ou tecidos humanos nos quais a presença de um agente infeccioso pode ser desconhecida. Os perigos podem surgir a partir de exposição acidental percutânea ou da membrana mucosa ou pela ingestão dos materiais infectantes.

3.    Nível de biossegurança 3 (BSL-3) inclui laboratórios nos quais é feito o trabalho com agentes nativos ou exóticos que podem provocar doença grave ou potencialmente letal por meio de transmissão respiratória. Nesse nível, a equipe do laboratório possui treinamento específico para lidar com agentes potencialmente letais, e é dada grande ênfase às barreiras primárias e secundárias. O próprio laboratório fornece um ambiente controlado com exigências de ventilação, como um sistema de filtração de ar particulado de alta eficiência (HEPA). Ele está separado de outras partes do prédio por uma antessala com dois conjuntos de portas ou uma área BSL-2.

4.    Nível de biossegurança 4 (BSL-4) inclui laboratórios com as condições mais sofisticadas e adequadas para trabalhar com agentes mais perigosos e exóticos que envolvem maior risco de infecções transmitidas por aerossol e doenças com risco de morte por não existir vacina nem terapia disponíveis para tratamento. Esses laboratórios estão geralmente localizados em um prédio separado, com ventilação e sistemas de gerenciamento de lixo especializados. O trabalho realizado nesse tipo de instalação está restrito à cabine de segurança biológica (CSB) classe III ou II, com a equipe usando uma roupa de pressão positiva com um sistema de suporte de vida (ver Destaque 12.1 para mais informações sobre CSBs).

 

Destaque 12.1

Cabines de segurança biológica

 

As cabines de segurança biológica (CSBs)[*] são fundamentais para garantir segurança e PCI no laboratório. Existem três classes de CSBs:2

 

1.    As CSBs classe I são geralmente operadas com uma parte frontal aberta. Elas possuem pressão negativa e são ventiladas. A pesquisa microbiológica geral com agentes de risco baixo a moderado é realizada nessas cabines.

2.    As CSBs classe II fornecem proteção contra contaminação externa dos materiais manuseados usando o fluxo laminar vertical filtrado com HEPA. Esse tipo de CSB é usado para procedimentos microbiológicos que exigem BSL-2 ou BSL-3.

3.    As CSBs classe III fornecem o maior nível possível de proteção. São totalmente fechadas com construção restrita a gases. São adequadas para procedimentos que exigem BSL-3 ou BSL-4.

 

Dentro de um laboratório hospitalar, a maior parte do processamento inicial e da avaliação sorológica das amostras clínicas pode ser feita no nível de biossegurança 2, que é o nível recomendado para trabalhar com patógenos transmitidos pelo sangue, como o vírus da hepatite B e o vírus da imunodeficiência humana (HIV). As exceções para essa classificação incluem suspeitas de febre hemorrágica e outros patógenos altamente contagiosos e virulentos.4

 

Execução de uma avaliação de risco

Uma das estratégias mais eficazes para eliminar as infecções é preveni-las antes que causem dano. Portanto, as diretrizes do CDC defendem que os diretores e gerentes de laboratórios executem uma avaliação de risco para identificar dois tipos de riscos nas suas instalações – agentes perigosos e ameaças dos procedimentos laboratoriais –, a fim de evitar infecções associadas aos laboratórios.4 Para executar uma avaliação de risco, os laboratórios devem realizar as cinco etapas a seguir:4

 

1.    Identificar os agentes perigosos e iniciar uma avaliação de risco. Os agentes potencialmente perigosos devem ser identificados e avaliados quanto à sua capacidade de provocar doenças, à gravidade dessas doenças, às estratégias disponíveis para evitá-las e aos tratamentos eficazes disponíveis. Existem várias diretrizes e diversos documentos que podem ajudar os laboratórios nessa avaliação.4,6

2.    Identificar os perigos dos procedimentos laboratoriais. Os principais perigos dos procedimentos nos laboratórios são a concentração do agente, o volume em suspensão, os equipamentos e procedimentos que geram pequenas partículas de aerossol e gotículas, o uso de perfurocortantes e a complexidade do procedimento. A avaliação deve destacar os riscos envolvidos com cada um desses principais perigos de procedimentos, assim como outros procedimentos no laboratório.

3.    Determinar o nível de biossegurança adequado e selecionar precauções adicionais indicadas pela avaliação de risco. Após o agente e os procedimentos perigosos serem identificados, deve-se determinar o nível de biossegurança associado a esses perigos. Posteriormente, devem ser identificados os meios de proteção a serem implantados, os quais devem estar acima e além daqueles especificamente recomendados para o nível de biossegurança da instalação.

4.    Avaliar a proficiência da equipe sobre as práticas seguras e a integridade dos equipamentos de segurança. Como muitas das causas da transmissão de infecções no laboratório são erros, acidentes ou falta de atenção dos funcionários, é vital que essas pessoas recebam educação e treinamento, sejam proficientes na execução de suas tarefas e passem por testes periódicos de proficiência. Além disso, o diretor do laboratório deve garantir que os equipamentos estejam disponíveis e funcionando adequadamente.

5.    Revisar a avaliação de risco com um profissional de biossegurança especialista no assunto e com o Comitê de Biossegurança Institucional. Após desenvolver a avaliação de risco e estabelecer as estratégias de prevenção para controle dos riscos identificados na avaliação, essas etapas devem ser revisadas por especialistas, como o prevencionista de infecção do hospital, o comitê de controle de infecções, o comitê de segurança e/ou especialistas locais.

 

Estratégias para prevenção e controle de infecções em laboratórios

Uma vez que os riscos de infecção nos laboratórios afetam principalmente, e quase de forma exclusiva, os PASs em vez de os pacientes, as estratégias de PCI exigidas por esse departamento incluem equipamento de proteção individual (EPI), equipamento de segurança que forneça proteção e processos que limitem o risco de transmissão do patógeno. Como já foi mencionado, o CDC tem prática, equipamento e exigências de instalações específicas com relação às áreas de BSL-2, incluindo os laboratórios do hospital. Os itens a seguir fornecem um rápido resumo dessas exigências (para consultar uma lista mais completa, veja a publicação do CDC Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories):1,4

 

      Desenvolver um manual de biossegurança. Deve ser criado um manual de fácil acesso que destaque as políticas e os procedimentos para o funcionamento seguro do laboratório. O manual também deve descrever procedimentos a serem seguidos nos casos de bioterrorismo, incidentes, exposições e outras situações potencialmente perigosas.

      Fornecer treinamento contínuo para a equipe do laboratório. Esse treinamento deve incluir informações sobre as tarefas do laboratório, as precauções necessárias para evitar exposição e os procedimentos de resposta a exposição. A equipe deve estar familiarizada com a coleta, o transporte, o processamento e a análise eficazes e seguros das amostras.

      Notificar a equipe do laboratório sobre os perigos potenciais antes de entrar no laboratório. Quando existirem agentes infecciosos, os funcionários do laboratório devem colocar um aviso na porta do laboratório que inclui o símbolo de risco biológico universal, o nível de biossegurança do laboratório, o nome e o telefone do supervisor e qualquer procedimento exigido para entrar e sair do laboratório.

      Usar as precauções-padrão. As precauções-padrão podem ser a primeira linha de defesa contra infecções no laboratório. A equipe do laboratório deve lavar suas mãos após trabalhar com materiais perigosos e antes de deixar o laboratório. Deve usar luvas, especialmente quando trabalhar com materiais perigosos. O tipo de luva a ser usada deve ser escolhido com base no tipo de risco previsto. Os funcionários também devem usar jalecos, aventais, guarda-pós ou uniformes indicados apenas para uso no laboratório. Protetores faciais/máscaras e proteção para olhos ou proteções contra respingos devem ser usados, especialmente diante da possibilidade de respingos de sangue ou fluidos corporais. Os trabalhadores devem remover esse aparato de proteção antes de deixar o laboratório. A roupa de proteção deve ser descartável, ou, em caso de roupa reutilizável, esta deve ser deixada em recipiente adequado para transporte para a lavanderia do hospital. Os funcionários não devem levar essa roupa para lavar em casa.

      Usar equipamentos de proteção. Os equipamentos, como CSBs, devem ser usados sempre que houver risco de respingos, pulverização ou gotículas geradas nos procedimentos a serem executados. As CSBs são o principal meio de contenção para trabalhar de forma segura com micro-organismos infecciosos. Elas são projetadas para fornecer proteção pessoal, ambiental e ao produto quando são seguidas as práticas e os procedimentos adequados.7

      Desenvolver estratégias para reduzir acidentes com perfurocortantes. Os acidentes ao usar e manusear perfurocortantes no laboratório, como agulhas, bisturis, pipetas e vidraria quebrada, podem ser evitados ao se praticarem os procedimentos de manuseio seguro desses materiais, ao colocá-los em recipientes adequados e ao usar material de plástico em vez de vidro, quando possível. Se algum vidro quebrar, essa vidraria não pode ser manuseada diretamente, devendo ser usada uma vassourinha de mesa, pinça ou outro equipamento.

      Não pipetar com a boca. Pipetar com a boca deve ser proibido dentro do laboratório; deve-se usar a pipetagem mecânica.

      Seguir os procedimentos de limpeza adequados. Os funcionários do laboratório devem limpar e descontaminar as superfícies de trabalho e o equipamento usando um desinfetante adequado ao término do trabalho ou após ocorrer derramamento, respingo ou formação de aerossóis. Os derramamentos devem ser contidos, limpos e descontaminados por funcionários adequadamente treinados para trabalhar com esse tipo de acidente (ver a próxima seção para obter mais informações sobre a limpeza de derramamentos). Os equipamentos devem ser descontaminados antes do conserto e da manutenção.

      Fornecer cuidado médico e imunizações adequados para todos os funcionários do laboratório. As imunizações para doenças evitáveis com vacinas devem ser fornecidas de acordo com a agenda de imunização para adultos e PASs. Incidentes ou exposições devem ser imediatamente comunicados aos supervisores do laboratório. Se ocorrer uma exposição, é necessário cuidado médico imediato e respectivo acompanhamento. Para auxiliar nesse processo, os diretores do laboratório devem ter informações de contato de emergência prontamente disponíveis para os PASs e considerar o uso de cartões de alertas médicos para os funcionários (ver Fig. 12.1).

      Incorporar elementos de segurança para as instalações do laboratório. Essas características incluem: portas de fechamento automático com trancas; pias para lavagem das mãos localizadas perto da porta de saída; superfícies e mobília de fácil limpeza; mobília (cadeiras, bancos, mesas) que suporte cargas predeterminadas; espaço suficiente entre bancadas, cabines e equipamentos para permitir a limpeza adequada; tampos das bancadas impermeáveis e resistente a calor, solventes orgânicos, álcalis e outras substâncias químicas; e estações de lava-olhos de fácil acesso. Embora não existam exigências sobre os sistemas de ventilação para as instalações BSL-2, os novos laboratórios devem avaliar o uso de sistemas de ventilação mecânica que forneçam um fluxo de ar de entrada com recirculação fora do laboratório.

      Seguir os protocolos adequados para descarte de lixo contaminado. No laboratório, o lixo contaminado pode incluir culturas, caldos e agulhas. O descarte adequado inclui acondicionar qualquer material que será removido do laboratório para descontaminação. Os materiais potencialmente infectantes devem ser colocados em recipientes resistentes e herméticos durante coleta, manuseio, processamento, armazenamento e transporte.

      Outras precauções. Não deve ser permitido comer, beber, fumar, manusear lentes de contato, usar maquiagem e armazenar alimentos no laboratório. Além disso, não se deve armazenar comida em refrigeradores usados para culturas, sangue, amostras, produtos químicos ou outros materiais no laboratório.

 

Figura 12.1. Cartão de alerta médico e informações para os funcionários do laboratório.

 

 

Online

Visite www.jcrinc.com/GICH09/extras para obter um artigo da Joint Commission Resources (em inglês) sobre a prevenção de infecções associadas ao cuidado à saúde no laboratório.

 

Limpeza de derramamento no laboratório

Todo laboratório deve ter em vigor políticas e procedimentos sobre como o pessoal deve manejar o derramamento de material infectante ou a liberação de micro-organismos no laboratório. Limpar com um desinfetante adequado, como água sanitária, é suficiente para derramamentos ou acidentes de pequena dimensão. Além disso, é adequado usar desinfetantes tuberculocidas para descontaminar equipamentos, superfícies do laboratório e pequenos derramamentos.7

Quando um derramamento contamina a superfície, os colegas do local devem ser alertados, e os EPIs adequados devem ser usados. Vidro e cacos devem ser removidos com pinça ou pá. Quando os profissionais são contaminados, as pessoas atingidas devem primeiro alertar os colegas do local e depois limpar a área exposta com água e sabão. Se os olhos forem contaminados, eles devem ser enxaguados com lava-olhos ou solução salina. Devem ser administradas as medidas de primeiros socorros, e a situação deve ser tratada como uma emergência. A pessoa deve ser encaminhada a um médico para tratamento imediato e orientação.5

Para derramamentos de grande volume de agentes de risco moderado ou agentes altamente patogênicos, esses profissionais devem ser retirados imediatamente da área onde ocorreu o acidente e a porta deve ser fechada. Durante a evacuação, os PASs devem prender a respiração e auxiliar os outros a saírem, se for necessário. As demais pessoas devem ser advertidas para deixar o local, e a equipe de segurança deve ser notificada. Qualquer roupa ou EPI atingido deve ser imediatamente removido e descartado como lixo perigoso. Os funcionários expostos devem lavar imediatamente a pele. As CSBs devem ficar ligadas dentro da área contaminada. Se a sala onde ocorreu o acidente estiver sob pressão negativa, os PASs devem aguardar 30 minutos ou mais antes de entrar nela outra vez. Se o derramamento ocorreu em uma sala sem pressão negativa, a limpeza deve ser iniciada imediatamente. A equipe treinada, usando roupa de proteção – como toucas, máscaras, aventais de mangas longas, propés e luvas –, deve limpar o derramamento. Qualquer desinfetante usado para limpar o material derramado deve escorrer para o local pelas laterais a fim de evitar a formação de aerossol. Após aplicar o desinfetante, a equipe deve cobrir o material derramado com toalhas absorventes por 20 minutos. Podem usar pás de lixos e rodos ou pinças autoclavadas para retirar qualquer objeto perfurocortante, como vidro quebrado. Qualquer líquido remanescente deve ser removido com toalhas de papel.8

Para derramamento ocorrido nas CSBs, os PASs devem deixar as cabines ligadas e limpar imediatamente o material. Eles devem usar EPIs durante a limpeza, e qualquer material ou fluido contaminado deve ser descartado como lixo perigoso. As superfícies de trabalho e as cubas devem ser lavadas com desinfetantes e deixadas de molho por 20 minutos. Além disso, paredes, superfícies de trabalho e equipamentos devem ser limpos com desinfetante germicida.8

 

Equipamentos que podem transmitir patógenos

Alguns tipos de equipamentos de laboratório são mais propensos a transmitir infecções do que outros, podendo exigir precauções diferentes ou adicionais, além das precauções gerais e estratégias para evitar exposição ocupacional no laboratório, conforme discutido nas seções anteriores. Alguns tipos de equipamentos especialmente problemáticos incluem:

 

      Alças de inoculação. Uma alça de inoculação (às vezes chamada de alça de esfregaço, bastão de inoculação ou micromarcador) é uma ferramenta para coletar o material encontrado nas inoculações – chamado de inóculo (de uma cultura de micro-organismos). Geralmente feita de platina ou níquel-cromo, trata-se de uma pequena alça ao final de um bastão de metal. As alças de inoculação podem ser uma fonte de formação de aerossol e podem contaminar as superfícies do laboratório. Descarregar espontaneamente o líquido de uma alça, fazer estrias no meio, semear o material em uma lâmina microscópica, aquecer a alça em chama aberta e resfriá-la no meio de cultura são procedimentos que podem gerar aerossóis e contaminar as superfícies. O risco de contaminação pelas alças de inoculação é reduzido com o uso de alças bem formadas em um bastão curto, alças descartáveis, separadores de vidro e incineradores elétricos.3 A alça ideal é completamente fechada, com um diâmetro interno entre 2 e 3 mm. As alças têm uma vida útil curta e devem ser substituídas quando mostrarem sinais de envelhecimento, se curvarem ou ficarem incrustadas com material carbonizado.9

      Centrífuga. Uma ferramenta muito usada para processamento de amostras no laboratório clínico é a centrífuga. Esse equipamento apresenta risco de infecção devido a dois fatores. O primeiro é a falha mecânica, como falha do rotor, do tubo ou da cesta. O segundo risco ocorre quando são formados aerossóis, o que pode acontecer quando os tubos da centrífuga estão cheios, as tolhas ou tampas são removidas dos tubos, o sobrenadante é removido ou quando os materiais giram durante o processo de centrifugação. O maior risco de criação de aerossóis ocorre quando um tubo quebra durante a centrifugação. Para reduzir esse risco, os laboratórios devem usar tubos selados e cestas de segurança que vedem com anéis do tipo O. Também é aconselhável preencher tubos, rotores e acessórios abertos das centrífugas. As cestas, os tubos e os rotores devem estar sempre balanceados antes da centrifugação para evitar que o equipamento trabalhe descompensado, o que pode levar a vazamento.1 Para evitar sua contaminação e a liberação de aerossóis, as centrífugas devem ter copos lacráveis, autoclaváveis e resistentes à quebra. É necessário limpar e autoclavar os copos, por isso eles devem ser removíveis do rotor.8

      Pipetas. São muito usadas nos laboratórios para transportar uma quantidade medida de líquido de um local para outro. Como já foi descrito, pipetar com a boca pode levar o profissional a engolir o líquido contaminado, por isso, o procedimento deve ser evitado. Na verdade, a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) proíbe pipetar com a boca. Outros exemplos de exposição com as pipetas incluem a inalação de aerossóis oriundos da mistura de uma suspensão microbiana ou do derramamento de gotas nas superfícies rígidas; os acidentes causados por pipetas de vidro quebradas ou com pontas; e a contaminação da bancada, do equipamento ou dos dedos.2,7 Os riscos com esse material são reduzidos ao usar pipetas descartáveis de plástico e proibir pipetar com a boca.2 Outras precauções incluem não assoprar a última gota da pipeta e evitar a formação de bolhas quando a pipeta é usada para misturar.2 Trabalhar sobre um apoio molhado com desinfetante também é útil ao usar esse equipamento.7 As pipetas quebradas, lascadas ou danificadas devem ser descartadas imediatamente.2

 

Transporte de materiais infectantes

As amostras e os materiais laboratoriais potencialmente infectados precisam ser transportados para diferentes áreas do hospital, para outros laboratórios fora do hospital, para descarte ou para outros locais. Como esses materiais podem infectar transportador, PASs e público, a equipe do laboratório deve ter muito cuidado ao acondicionar esses itens para reduzir o risco de infecção. As estratégias para transportar os materiais infectantes com segurança dentro do hospital incluem acondicioná-los adequadamente; usar rotas que reduzam o contato com PASs, pacientes e público; limpar o equipamento de transporte (como carrinhos e bandejas) após o transporte; e rastrear e monitorar o movimento desses materiais. As regras locais, estaduais e federais devem ser seguidas caso esses materiais sejam transportados para fora do hospital, e os padrões de acondicionamento estabelecidos nas diretrizes devem ser respeitados.10-12

 

Online

O U.S. Department of Transportation oferece um plano de gerenciamento de risco para transporte de materiais infectantes que pode ser acessado (em inglês) em www.jcrinc.com/GICH09/extras.

 

Deve-se usar acondicionamento triplo de contenção para cumprir os regulamentos para o transporte seguro de materiais infectantes. O recipiente primário deve ser resistente à água, assim como a embalagem secundária, e, se o material a ser transportado estiver na forma líquida, essa embalagem deve ter material absorvente suficiente para absorver todo o conteúdo em caso de vazamento; a terceira embalagem, mais externa, deve ser rígida e forte.4 A embalagem deve passar por testes de desempenho e suportar pressões e temperaturas específicas. A documentação adequada deve acompanhar a embalagem, incluindo documentos de identificação e informações de resposta em caso de emergência. Por último, a embalagem deve indicar claramente a presença de materiais infectantes, com um rótulo que mostre o símbolo de risco biológico e o nível de risco.4 Veja a Figura 12.2 para obter uma amostra de embalagem que o pessoal do laboratório deve usar para transportar materiais infectantes.

 

Figura 12.2. Amostra de embalagem para transportar materiais infectantes.

 

 

Descarte de materiais infectantes

Em geral, os materiais infectantes gerados no laboratório podem ser descartados da mesma forma que outros lixos infectantes no hospital; no entanto, existem questões exclusivas do laboratório. Como os regulamentos sobre o descarte desse e de outros tipos de lixo infectante são constantemente revisados, os hospitais devem procurar, na legislação, alguma alteração, atualização e outras informações.

O laboratório gera grandes quantidades de perfurocortantes contaminados, incluindo agulhas para flebotomia, agulhas para inoculação em frascos, lâminas de bisturis, vidros quebrados, tampas (cover slips), lâminas de vidro e tubos capilares. Os perfurocortantes devem ser descartados em recipientes resistentes, junto com perfurocortantes de outras áreas do hospital. O lixo do laboratório também inclui culturas e colônias, produtos patológicos (como órgãos, partes do corpo, fluidos e tecidos), sangue e produtos do sangue. Grandes volumes de lixo líquido podem ser descartados de forma segura na pia. Qualquer cultura microbiológica deve ser autoclavada (de preferência usando vapor) antes de ser transportada para fora da instalação, ou incinerada antes do descarte final.1

 

Referências

1.        Luebbert P.P.: Laboratory safety. In Carrico R. (ed.): APIC Text of Infection Control and Epidemiology, 3rd ed. Washington, DC: Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology, 2009, pp. 60-1–60-13.

2.        Voss A., Verweij P.E.: Laboratory areas. In Wenzel R., Brewer T., Butzler J-P. (eds.): A Guide to Infection Control in the Hospital. Boston: International Society for Infectious Diseases, 2002, pp. 59–63.

3.        Sewell D.L.: Laboratory-associated infections and biosafety. Clin Microbiol Rev 8:389–405, Jul. 1995.

4.        U.S. Department of Health and Human Services: Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories, 5th ed. Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 2007.

5.        Centers for Disease Control and Prevention: Module 2: Biosafety. www.cdc.gov/od/ohs/pdffiles/Module 2 Biosafety.pdf (link inativo).

6.        Heymann D.L. (ed.): Control of Communicable Diseases Manual, 19th ed. Washington DC: American Public Health Association, 2008.

7.        U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, and National Institutes of Health: Primary Containment for Biohazards: Selection, Installation and Use of Biological Safety Cabinets, 2nd ed. www.cdc.gov/od/ohs/pdffiles/BSC-3.pdf (acessado em 15 de maio de 2010).

8.        Wilson M.L., Reller L.B.: Clinical laboratory-acquired infections. In Jarvis W.R. (ed.): Bennett & Brachman’s Hospital Infections, 5th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007, pp. 329–338.

9.        Collins C.H., Kennedy D.A.: Laboratory-Acquired Infections. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1999.

10.    U.S. Department of Transportation: Hazardous Materials Regulations (HMR). 49 CFT Part 171–180, 1996.

11.    U.S. Postal Service: Domestic Mail Manual. Nonmailable Matter–Articles and Substances; Special Mailing Rules; Disease, Germs and Biological Products. Washington DC: U.S. Government Printing Office, 1992.

12.    Public Health Service: 42 Code of Federal Regulation (CFT) Part 71: Importation of Etiological Agents, Hosts and Vectors and Part 72: Interstate Shipment of Etiologic Agents. Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1999.



[*] N. de R. T.: Conhecidas como cabines de fluxo de ar laminar.

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