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Editorial MedicinaNET – Março2013

Última revisão: 15/03/2013

Comentários de assinantes: 1

Findo o carnaval, retorna-se à rotina. Os novos prefeitos tomaram posse com a esperança de que consigam melhorar o sistema de saúde, pelo menos no nível municipal. O MedicinaNET continua em sua tarefa de prover informações médicas de qualidade sempre com a questão da custo-efetividade em mente.

Uma questão que vem sendo abordada nos editoriais do MedicinaNET são os procedimentos e intervenções médicas que podem causar mais malefício que benefício e o fato deste tipo de procedimento/intervenção ser mais frequente nos serviços privados, paradoxalmente protegendo usuários do SUS pela dificuldade de acesso a alguns procedimentos.

Novas evidências mostram que esse problema pode, em parte, estar associado à busca incessante da satisfação do paciente, tão em moda atualmente, sobretudo em serviços de saúde de grife. Um estudo norte-americano mostrou que a satisfação do paciente está associada a gastos com saúde mais elevados e – pasmem – maior mortalidade.

Esse estudo, que será retomado em detalhes na seção “Artigos Comentados”, também mostrou taxas mais elevadas de internação hospitalar entre os pacientes com maior grau de satisfação. O estudo controlou vários fatores com potencial de confusão, como comorbidades, estado geral de saúde, seguro-saúde, disponibilidade de um serviço habitual de saúde etc. Pacientes trazem expectativas à consulta, muitas vezes fazendo solicitações específicas aos médicos (exames e medicações), e sua satisfação se correlaciona ao grau com que os médicos satisfazem tais expectativas. Entretanto, também sabemos que as solicitações dos pacientes têm forte influência sobre o comportamento dos médicos, principalmente no que diz respeito a solicitações de exames subsidiários e prescrição de medicações, e que áreas com alta intensidade de cuidados médicos (e gastos com saúde) associam-se com maior mortalidade ajustada. Todas estas considerações nos levam a concluir que níveis elevados de satisfação do paciente se associam ao recebimento de cuidados de saúde sem nenhum limite, o que, por sua vez, aumenta os custos com saúde e aumenta a mortalidade, em virtude dos riscos elevados de eventos adversos relacionados a intervenções médicas desnecessárias (lembrando que um exame desnecessário alterado desencadeia uma cascata de intervenções cada vez mais invasivas e, portanto, com mais risco de eventos adversos e complicações).

Tais considerações podem parecer estranhas e contraditórias num momento em que o acesso a intervenções médicas de alta tecnologia se torna cada vez mais difundido e facilitado, mas são considerações absolutamente necessárias para quem está preocupado com a assistência médica tanto no nível individual como coletivo. Essas evidências têm também importantes implicações para a saúde pública por vários motivos. O primeiro é que a questão da medida da satisfação do paciente, do modo como é feita e entendida atualmente, vem sendo também utilizada em serviços públicos, o que pode levar aos efeitos citados de maiores gastos e maior mortalidade. Além disso, medidas políticas para aumentar atendimentos (por exemplo, construir novos AMAs) ou aumento do acesso a exames, sem uma avaliação criteriosa de qual será o papel destes equipamentos em um sistema de saúde racional e organizado, poderão expor pacientes a intervenções desnecessárias, apenas com o objetivo de aumentar a satisfação do paciente.

Por fim, é possível manter e até aumentar a satisfação do paciente, mesmo sem satisfazer as expectativas iniciais dos pacientes. Para isso, é necessário que médicos tenham uma abordagem centrada no paciente, não em doenças e muito menos num potencial consumidor de produtos médicos. Os médicos devem prover cuidados baseados em evidências, sempre levando em conta a custo-efetividade e os potenciais riscos das intervenções. O problema é que esta abordagem é mais longa e cansativa para a maioria dos médicos, que preferem solicitar um exame para o que paciente se sinta feliz e satisfeito.

 

Os Editores

Comentários

Por: Wanderley de Souza Barros Rangel em 13/03/2013 às 21:01:33

"Boa noite. Não escapamos da sociedade consumista em que vivemos.Que médico ensina saude para seu cliente hoje em dia? Boa noite, Wanderley"

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