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Introdução à Campanha “Cirurgia Segura Salva Vidas” da OMS

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 31/05/2009

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Apresentação  

            Há pouco tempo discutimos no MedicinaNet (ver - Checklist baseado nas recomendações da OMS reduz a morbidade e mortalidade pós-operatória) dados de um estudo publicado na New England Journal of Medicine sobre segurança em cirurgias que mostrou redução de mortalidade e complicações pós-operatórias. Este estudo foi baseado em recomendações do segundo Desafio Mundial para a Segurança do Paciente da OMS, que é a de segurança em cirurgias, lançado em 2007-2008 (o primeiro desafio lançado foi sobre lavagem de mãos em 2005-2006). Este desafio está no contexto da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, iniciada em 2004 pela OMS.

            O MedicinaNet procurará discorrer de forma mais ampla sobre essa e as demais campanhas lançadas pela OMS para a Segurança do Paciente, de forma que este conhecimento chegue à nossa realidade e possa ser aplicado de forma consistente, e com grande impacto em termos de saúde pública.

 

Introdução

            Segundo dados publicados pela OMS em 2008, embora seja difícil estabelecer comparações exatas devido às diversidades que existem em diferentes países e realidades, as taxas de complicações pós-operatórias em países desenvolvidos variam de 3 a 16%, com uma mortalidade variando de 0,4 a 0,8%. Metade desses Eventos Adversos foi dada como evitável pelos estudos que levantaram essas estatísticas. Em países em desenvolvimento a mortalidade pós-operatória pode ser mais grave, variando de 5 a 10% em grandes cirurgias.

            Se assumirmos que a taxa global de eventos adversos peri-operatórios seja de 3% e a mortalidade seja de 0,5%, cerca de 7 milhões de pessoas sofrem complicações cirúrgicas significativas ao ano, e 1 milhão de pessoas morrem durante ou imediatamente após a cirurgia anualmente no mundo. Por esse motivo é que a OMS colocou a Segurança em Cirurgias como um problema mundial de saúde pública que deve ser resolvido.

           

Tabela 1: 10 Fatos Sobre Segurança Em Cirurgias (OMS)

1.     Globalmente, cerca de 234 milhões de grandes intervenções cirúrgicas são realizadas por ano. Isto equivale a cerca de uma cirurgia para cada 25 pessoas. Anualmente, 63 milhões de pessoas são submetidas a cirurgias para tratar lesões traumáticas, 10 milhões de pessoas são submetidas a cirurgias para tratar complicações relacionadas à gravidez, e 31 milhões de pessoas são submetidas a cirurgias para o tratamento de câncer.

2.     Estudos sugerem que complicações pós-operatórias resultam em deficiência ou internação prolongada em 3 a 25% dos pacientes internados, dependendo da complexidade do procedimento cirúrgico e do tipo de hospital. Estas taxas significam que, anualmente, pelo menos 7 milhões de pacientes podem ter complicações pós-operatórias.

3.     As taxas de mortalidade relatadas após grandes cirurgias são entre 0,4% e 10%, dependendo das circunstâncias. A estimativa do impacto destas taxas é que pelo menos 1 milhão de pacientes morre por ano, durante ou após uma cirurgia.

4.     Informações relativas aos cuidados cirúrgicos foram padronizadas ou sistematicamente recolhidas apenas em alguns estudos de investigação a nível mundial. Sendo assim, a maior parte das intervenções cirúrgicas no mundo não são registradas. É essencial medir os cuidados cirúrgicos em uma estimativa global para promover a segurança em cirurgias, prevenir doenças e melhorar o atendimento.

5.     No mundo desenvolvido, quase metade de todos os eventos prejudiciais (como erros de comunicação, uso de medicação errada, e erros técnicos) que afetam os doentes nos hospitais, estão relacionados com cuidados cirúrgicos. A evidência sugere que pelo menos metade desses eventos é evitável se as normas relacionadas a cuidados forem respeitadas, e ferramentas de segurança, tais como listas de verificação (checklists), forem utilizados.

6.     Os cuidados cirúrgicos vêm demonstrando terem custo-efetividade em países em desenvolvimento. Garantir a prestação de cuidados seguros só irá melhorar a sua eficácia.

7.     Melhorias dramáticas foram feitas na administração de anestesia ao longo dos últimos 30 anos, mas não em todas as partes do mundo. Em algumas regiões, a mortalidade relacionada à anestesia é tão elevada quanto 1 em 150 pacientes que receberam anestesia geral.

8.     Medidas de segurança são aplicadas de forma inconsistente em cirurgias, mesmo em locais de referência. Passos simples podem reduzir as taxas de complicações. Por exemplo, melhorar o momento certo de administração e a seleção de antibióticos antes da incisão da pele podem reduzir a taxa de infecções do sítio cirúrgico em até 50%.

9.     A OMS desenvolveu orientações para a segurança em cirurgias, e uma lista de verificação de segurança cirúrgica com normas aplicáveis para qualquer país ou realidade de saúde. Os resultados preliminares de uma avaliação em oito locais pilotos espalhados pelo mundo mostram que a lista quase duplicou a probabilidade de o paciente receber o tratamento cirúrgico com padrões de cuidado - como um antibiótico antes da incisão cirúrgica e confirmação de que a equipe está fazendo a cirurgia correta no paciente correto.

10.  A iniciativa “Cirurgia Segura Salva Vidas” está colaborando com mais de 200 Ministérios de Saúde, sociedades médicas nacionais e internacionais e as organizações profissionais para reduzir a mortalidade e as complicações no tratamento cirúrgico.

 

Desafios à Segurança em Cirurgias

            Existem pelo menos 4 grandes desafios quanto à segurança em cirurgias. O primeiro é assumirmos que o problema existe e de fato é imenso. O segundo problema é a falta de dados básicos, devido à falta de controles e de padronizações quanto aos registros, e principalmente quanto à mortalidade ou eventos adversos atribuíveis às cirurgias. O terceiro grande problema é que as práticas seguras quanto ao ato cirúrgico não são realizadas de forma consistente em nenhum país. E isso não é justificável apenas por falta de recursos. Há por exemplo, uma vergonhosa realidade quanto ao uso de antibióticos profiláticos: não são feitos no momento correto, são mantidos por tempo completamente inadequado e muitas vezes são escolhidos por “gosto pessoal” do cirurgião, sem nenhuma base científica. O quarto e último problema é obviamente a complexidade da segurança em cirurgias, levando em conta que mesmo no procedimento mais simples há diversas oportunidades para erros serem cometidos, desde o preparo cirúrgico até as recomendações do pós-operatório. O que parece mais promissor nesse sentido é a criação do senso de equipe entre cirurgiões, anestesistas e pessoal de enfermagem, de forma a distribuir as responsabilidades e a vigilância entre todos para aumentar a garantia de segurança para o paciente.

 

A Abordagem da Campanha

            A campanha visa diminuir morbi-mortalidade relacionada a cirurgias de quatro formas:

 

1.     Dando a médicos, administradores hospitalares e funcionários de saúde em geral informações sobre o papel de cada um e os padrões para uma cirurgia segura;

2.     Definindo um conjunto mínimo de mensurações de forma uniformizada, ou “estatísticas cirúrgicas vitais”, para vigilância nacional e internacional em cuidados cirúrgicos;

3.     Identificando um conjunto de normas de segurança em cirurgia que possa ser usado em qualquer lugar, e que esteja em forma de checklist para uso em salas cirúrgicas;

4.     Testando e controlando o uso do checklist nos locais piloto associados à OMS e disseminando esse checklist para hospitais no mundo todo.

 

            É fato que o estabelecimento dessa nova rotina com o checklist da OMS pode precisar de mudanças de paradigmas em diversos locais. Entretanto, pode-se alcançar um sucesso muito grande em termos de segurança para o paciente, que é o maior interessado no sucesso das condutas da assistência em saúde.

 

Discutiremos em breve os objetivos da Campanha, bem como as evidências que suportam os mesmos.

 

Link para o documento da OMS:

(http://www.who.int/patientsafety/safesurgery/knowledge_base/WHO_Guidelines_Safe_Surgery_finalJun08.pdf)

 

OBS.: Seguimos no MedicinaNet as recomendações da própria OMS quanto à divulgação de qualquer material oriundo de seu website (http://www.who.int/about/copyright/en/), que permite a veiculação livre de seus materiais para fins educacionais.

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