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O que o paciente sabe sobre suas medicações quando está internado

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 18/01/2010

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O que o paciente sabe sobre suas medicações quando está internado

 

Falta de Conhecimento dos Pacientes Sobre Medicamentos no Hospital. Cumbler E, Wald H, Kutner J. Lack of patient knowledge regarding hospital medications. J Hosp Med 2009 Dec 10; [e-pub ahead of print]. (http://dx.doi.org/10.1002/jhm.566).

 

Fator de impacto da revista (Journal of Hospital Medicine): 3,613

 

Contexto Clínico

            Os eventos adversos relacionados com medicações representam um problema enorme para a segurança do paciente, tanto que é um tema recorrente nas discussões de Segurança do Paciente no MedicinaNet. Os números impressionam: uma revisão mostra que 1 em cada 5 medicações apresenta erro de dosagem, sendo que em 7% dos casos há potencial de gerar evento adverso. O erro que surge na prescrição médica ainda pode ser visto por um farmacêutico ou mesmo por alguém da enfermagem, porém o erro que surge na administração é particularmente difícil de ser evitado. Sendo o paciente o último elo de todo processo relacionado às medicações, pois é quem está recebendo a medicação na fase de administração, é a pessoa mais indicada para evitar a administração incorreta de medicações. Por outro lado é surpreendente como o envolvimento do paciente neste processo é algo muitas vezes inexistente. As energias são todas gastas na informatização da prescrição e no treinamento árduo e repetitivo principalmente das equipes de enfermagem.

            Algumas poucas iniciativas que existem nesse campo mostram que ao aumentar a participação do paciente, aumenta também sua satisfação. Mas é difícil achar algum dado na literatura que relacione o conhecimento do paciente sobre seus medicamentos e a segurança para evitar eventos adversos.

           

O Estudo e seus Resultados

                Este estudo foi realizado no Hospital da Universidade do Colorado, nos EUA, que é um hospital de ensino terciário. Este estudo faz parte de um grande projeto que está avaliando o potencial do envolvimento do paciente na reconciliação medicamentosa. Os investigadores pediram a 50 pacientes adultos hospitalizados (média de idade: 54 anos, sendo excluídos do estudo pacientes com demência) para citar suas medicações tomadas em casa e aquelas prescritas no hospital, incluindo aquelas que são prescritas no padrão “se necessário”.

            Estes pacientes tinham em média 11,3 medicamentos prescritos durante suas hospitalizações, sendo que 96% dos pacientes não lembraram de 1 ou mais medicações de sua prescrição, sendo que média, o número de medicações de horário esquecidas foi de 5,2 e de 1,6 para medicações prescritas como “se necessário”. Para esse grupo de medicações “se necessário”, os mais “esquecidos” foram os pacientes acima de 65 anos (88% de omissão de medicações desta categoria), contra os abaixo de 65 anos (60% de omissão de medicações)

            As categorias mais esquecidas entre as medicações de horário foram os antibióticos (17%), seguidos das medicações cardiovasculares (16%) e anticoagulantes (15%). Já nos medicamentos do tipo “se necessário”, os mais esquecidos foram os analgésicos (33%) e medicações para o intestino (29%). Outro dado interessante foi que 44% dos pacientes acreditavam estar recebendo medicações que não estavam em suas prescrições.

 

Comentários

            Este ainda é um estudo inicial nessa área, mas que tem o importante papel de mostrar a dimensão do problema, pois fica nítida a situação que existe quanto ao que o paciente sabe sobre seu próprio tratamento, e que para envolvê-lo como um agente ativo de sua própria segurança, principalmente na fase da administração das medicações, primeiro é necessário fazer com que o paciente saiba mais sobre seu próprio tratamento.

            Este é um estudo que não é isento de limitações, tendo em vista o número restrito de pacientes, o fato de ter ocorrido em apenas uma instituição, e que os dados estão limitados aos pacientes com nível cognitivo preservado, portanto generalizar este estudo pode ser um pouco arriscado. Além disso só participaram do estudo voluntários que aceitaram fazer o questionário, o que provavelmente se mostra um viés de seleção, pois é provável que apenas os pacientes mais interessados em seu próprio tratamento ou com condições menos severas tenham participado, portanto a realidade pode ser ainda pior.

            Mas é nítido que o grande destaque desse estudo é o fato de que o conhecimento do paciente sobre seu tratamento é ruim, e que estamos falando de medicações muito envolvidas em eventos adversos como antibióticos, medicações cardiovasculares e anticoagulantes.

            Sendo assim, novos estudos para ampliar o que se sabe sobre o conhecimento dos pacientes sobre suas medicações são necessários para se ter um panorama mais real do que se passa em diferentes realidades hospitalares. Uma vez com esses dados, restarão mais duas perguntas a serem respondidas: qual a melhor estratégia para fazer com que os pacientes saibam mais sobre suas medicações quando estão hospitalizados e se essas estratégias geram impacto na segurança do paciente no que se refere a eventos adversos com medicações.

 

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