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Diálise

Última revisão: 14/05/2013

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Versão original publicada na obra Slavish, Susan M. Manual de prevenção e controle de infecções para hospitais. Porto Alegre: Artmed, 2012.

 

 

  

 

        Os dispositivos de acesso vascular (CVCs, fístulas, enxertos) podem ser infectados no sítio de inserção.

        Bactérias na água podem provocar infecções.

        Os equipamentos de diálise podem estar contaminados.

        Alguns patógenos (hepatite B, C, D e HIV) podem contaminar os equipamentos de diálise.

        A diálise peritoneal pode provocar infecções.

 

        Usar as melhores práticas para evitar as infecções transmitidas pelo sangue associadas ao cateter.

        Garantir a qualidade da água por meio de testes, monitoramento e limpeza.

        Reprocessar hemodialisadores, máquinas de diálise e seus componentes.

        Os pacientes com hepatite e HIV devem ser classificados, testados e, em alguns casos, separados.

        Praticar o cuidado do sítio de inserção na diálise peritoneal.

 

A diálise é um substituto para a filtração dos rins. Ela funciona quando um equipamento automático remove toxinas, eletrólitos e fluidos ao circular artificialmente o sangue do paciente através de um hemodialisador ou, naturalmente, ao usar a membrana peritoneal do paciente. Ela é usada quando ocorre insuficiência renal aguda ou como um tratamento para manter a vida no estágio final da insuficiência renal.1

Existem vários riscos de prevenção e controle de infecção (PCI) relacionados à diálise que os profissionais de assistência à saúde (PASs) devem conhecer, incluindo inserção e cuidado dos cateteres vasculares, purificação, distribuição e armazenamento da água, reprocessamento do material de diálise, unidades de tratamento do lixo e patógenos específicos. A primeira parte deste capítulo discute os riscos associados à hemodiálise. A diálise peritoneal, a diálise de alto fluxo e a terapia de reposição renal crônica são outros tipos de diálise que apresentam riscos de infecção discutidos na parte final deste capítulo.

 

Riscos de infecção associados ao cateter vascular na hemodiálise

Uma das fontes mais comuns de infecção nos departamentos de hemodiálise é o sítio de acesso vascular no qual os dispositivos são inseridos. Os dispositivos de acesso vascular usados na hemodiálise incluem fístulas e cateteres. Como ocorre com todos os dispositivos, cada um apresenta diferentes riscos de infecção associados com taxas de infecção específicas.

As infecções no sítio de acesso são um risco associado à hemodiálise, independentemente de usar fístula ou cateter. As técnicas de prevenção para o paciente concentram-se na lavagem do sítio de acesso com água e sabão diariamente e antes da hemodiálise.2 Além disso, os PASs que acessam o sítio de inserção devem usar técnicas assépticas, incluindo uso de luvas, máscara, antisséptico (gliconato de clorexidina a 2% é preferido) para preparar a pele e barreiras estéreis.

 

Fístulas

Os pacientes submetidos a hemodiálise crônica devem receber fístulas arteriovenosas internas, pois elas estão associadas a uma menor taxa de infecção.3 Entretanto, fístulas de enxerto podem ser implantadas em pacientes que não possuem vasos adequados para criar fístulas AVs. A Kidney Disease Outcomes Quality Initiative™ (KDOQI)2 da National Kidney Foundation e os Centers for Disease Control and Prevention (CDCs)4 recomendam as fístulas AVs como primeira escolha para hemodiálise de longa duração e as de enxerto como segunda escolha. As diretrizes dessas organizações também recomendam o braço como sítio preferido para essas fístulas. Independentemente do material ou do sítio de inserção, todas as fístulas podem provocar infecções no sítio.

 

Cateteres

Outro tipo de dispositivo usado como acesso temporário para diálise em pacientes é o cateter venoso central (CVC). Pacientes submetidos a diálise por cateteres centrais apresentam maior taxa de bacteremia em comparação com pacientes submetidos a diálise por fístulas ou enxertos.5 Portanto, os CVCs devem ser usados apenas quando as fístulas não estiverem disponíveis. As diretrizes do CDC e da KDOQI recomendam a jugular interna direita como sítio preferido para inserção de CVCs.2,4 A subclávia deve ser usada apenas quando a opção da jugular não estiver disponível, por causa da maior taxa de trombose venosa central e estenose nesse sítio.

Quando os CVCs são usados, a técnica asséptica adequada é essencial durante a inserção e manipulação do cateter.6 Algumas das técnicas de prevenção mais importantes envolvem limpar o sítio de saída e trocar o curativo. Deve ser usada uma solução de gliconato de clorexidina a 2% para limpar os sítios de inserção de CVC; entretanto, os fabricantes dos cateteres devem ser contatados antes do uso, já que nem todos os CVCs são compatíveis com esse agente. De acordo com a KDOQI, os curativos devem ser trocados após cada sessão de hemodiálise,2 enquanto o CDC recomenda trocá-los quando ficarem úmidos, frouxos ou sujos ou quando o sítio de acesso precisar ser inspecionado.4

 

Purificação da água de hemodiálise

Outro risco de infecção associado à hemodiálise é a qualidade da água. É necessário usar água muito purificada para hemodiálise a fim de garantir que suas bactérias não contaminem o equipamento e o paciente adoeça. Consequentemente, antes de usar água potável nos hemodialisadores, ela deve ser tratada para remover contaminantes químicos e bacterianos ou endotoxinas que poderiam ser prejudiciais aos pacientes.7 Esse processo de purificação deve ocorrer no local onde a unidade de diálise está instalada.1

Para garantir a pureza da água, os prevencionistas de infecção e PASs envolvidos na hemodiálise devem estar familiarizados com a pureza da fonte de água potável local do hospital, pois essa fonte determina o nível de substâncias químicas, bactérias e endotoxinas a serem removidas. Por exemplo, a água da superfície contém endotoxinas de bactérias gram-negativas e de alguns tipos de algas. O tratamento convencional da água distribuída pode não ser sofisticado o suficiente para reduzir esses níveis de endotoxina; portanto, os PASs precisam processar a água antes de usá-la na hemodiálise.8

Os PASs e prevencionistas de infecção também devem estar familiarizados com os vários componentes do sistema de tratamento de água do hospital, incluindo sistema para retirar cálcio da água, filtro de carbono, filtros particulados, processo de osmose reversa, processo de deionização e outros filtros. Cada um desses componentes pode ser contaminado com bactérias, por isso, deve-se ter cuidado para limpar e substituí-los quando for necessário.

 

Sistemas de distribuição e armazenamento da água para hemodiálise

Os PASs devem certificar-se de que o sistema de tratamento de água do hospital é sofisticado o suficiente para purificar de forma adequada a água que será usada na hemodiálise.1 Para ser elegível a reembolso pelo Medicare, uma unidade de hemodiálise hospitalar norte-americana deve ter uma pureza de água que satisfaça os padrões do AAMI.7 A água usada na hemodiálise deve ser testada quando o sistema é instalado pela primeira vez; o teste semanal deve ser feito durante um mês após a troca do sistema, e o monitoramento periódico deve ser feito posteriormente (a frequência depende do tipo de água potável usada no sistema, do modelo do sistema e do aparececimento de sinais ou sintomas de contaminação química nos pacientes).7 O AAMI recomenda testar a água e o dialisado pelo menos uma vez ao mês.7

Os sistemas de distribuição de água são compostos de tubos de plástico em vez de metal para reduzir o número de contaminantes que entram pela tubulação. Os tubos de metal podem liberar elementos como cobre, chumbo ou zinco na água, afetando sua pureza.1 O sistema de distribuição de água para hemodiálise deve ser projetado para ser um sistema circular contínuo sem pontos mortos ou ramificações nas quais a água poderia se acumular ou estagnar. Além disso, o número de juntas em T e articulações deve ser limitado. É necessário manter o fluxo de água constante por toda a tubulação, que é deixado em uma velocidade constante. As saídas devem estar no ponto mais alto do sistema.1

Se for possível, os hospitais devem evitar usar tanques de armazenamento de água para hemodiálise, pois eles podem aumentar a quantidade de água e a área de superfície disponível para contaminação. Se for usado um tanque de armazenamento, ele deve ser pequeno, ter fluxo constante sem áreas de estagnação, ter uma base no formato de cone ou tigela, drenar pelo fundo, ter uma cobertura com vedação, ser ventilado por meio de um filtro de ar hidrofóbico de 0,2 mícron e poder ser limpo, desinfetado e enxaguado.1

Qualquer tubulação ou tanque de armazenamento usado na hemodiálise deve ser desinfetado pelo menos uma vez ao mês ou com maior frequência, dependendo da pureza da água e do projeto do sistema de hemodiálise.1 O objetivo desse processo de limpeza deve ser evitar o crescimento bacteriano, não eliminá-las uma vez que estejam presentes. Os agentes de desinfecção que podem ser usados para limpar a tubulação e o tanque de armazenamento incluem cloro, formaldeído[*], ácido peracético e outros germicidas.1

Os componentes dialisados do sistema de água também devem ser limpos e desinfetados para evitar reações adversas nos pacientes. Os concentrados de bicarbonato ou acetato são exemplos desses componentes. Eles vêm na forma aquosa ou em pó, que deve ser misturada com água tratada que satisfaça os padrões do AAMI para água para hemodiálise.1 Lotes de concentrados de bicarbonato são preparados para uso; entretanto, as porções não usadas devem ser descartadas todos os dias ou de acordo com as especificações do fabricante para manter as bactérias e endotoxinas abaixo de níveis específicos. Os tanques usados para preparar os lotes também precisam ser desinfetados o suficiente para evitar o crescimento bacteriano, em geral diariamente.7 O concentrado de bicarbonato também pode ser preparado em jarros individuais, os quais, junto com qualquer tubulação associada, devem ser enxaguados com água tratada e secos com ar após cada tratamento e desinfetados usando um agente químico pelo menos uma vez por semana.7

 

Riscos de infecção nas unidades de tratamento de rejeito

As máquinas de hemodiálise têm unidades de tratamento de rejeito pelas quais o fluido eliminado do dialisador é descartado antes das sessões de hemodiálise. Existe um risco de infecção das unidades de tratamento de rejeito por causa do fluxo de retorno para as linhas de sangue do paciente. Esse fluxo de retorno pode ser provocado pelo mau funcionamento das válvulas de retenção. A manutenção adequada para verificar as máquinas de hemodiálise e garantir que as válvulas estejam funcionando corretamente é essencial para evitar infecções pelos hemodialisadores. As diretrizes dos fabricantes devem ser consultadas para obter uma melhor compreensão da manutenção, da desinfecção e dos procedimentos de controle de qualidade para as unidades de tratamento de rejeito.9

 

Reprocessamento de hemodialisadores, máquinas de hemodiálise e outros componentes

O reprocessamento dos equipamentos de hemodiálise deve ser feito por equipe qualificada, que tenha recebido educação e treinamento, incluindo uma oportunidade adequada para fazer o reprocessamento sob a supervisão de um professor experiente. Os programas de treinamento devem se voltar para educar os pacientes e PASs sobre os riscos de infecção que podem ocorrer se os procedimentos estabelecidos não forem seguidos e revisar as práticas recomendadas pelo AAMI e outras agências reguladoras, incluindo a Occupational Safety and Health Administration (OSHA). A competência deve ser avaliada ao térmico de cada programa de treinamento e regularmente.

 

Reprocessamento de hemodialisadores

Os hemodialisadores podem se tornar um reservatório de bactérias se não tiverem manutenção adequada. Por exemplo, as bactérias gram-negativas podem crescer na água do equipamento de hemodiálise. Para evitar esse crescimento, os hemodialisadores devem ser enxaguados e limpos, e deve ser feito o teste de desempenho após a desinfecção. Quando forem encontradas bactérias gram-negativas no equipamento, o hemodialisador reprocessado deve ser descartado, pois as bactérias podem continuar a crescer. A água de reprocessamento tratada ou outros componentes do dialisado contaminado são a causa da contaminação dos hemodialisadores, de modo que a água tratada deve cumprir os padrões de AAMI antes de ser usada para enxaguar essas máquinas.

Apesar de ser classificado para uso único, o reuso de hemodialisadores é muito comum nos Estados Unidos. O AAMI e o Medicare aceitam o reuso do hemodialisador, e o AAMI desenvolveu diretrizes para o reprocessamento.10 As recomendações do KDOQI declaram que, quando os hemodialisadores forem reutilizados, devem ser reprocessados de acordo com as diretrizes do AAMI.2 As recomendações também afirmam que os dialisadores a serem reutilizados devem ter um volume de compartimento de sangue maior que 80% do volume original medido ou a depuração da ureia (ou iônico) deve ser maior que 90% da depuração original medida. Além disso, o uso de membranas de dialisador de celulose não modificada, pouco biocompatível para hemodiálise, é desestimulado.11

Os hemodialisadores devem ser desinfetados interna e externamente. Antes do reprocessamento, eles não devem entrar em contato com outro e devem ser reprocessados individualmente para evitar o risco de contaminação cruzada; muitos hospitais colocam os hemodialisadores em bolsas para separá-los.1 Eles devem ser enxaguados, limpos e desinfetados com um germicida no reprocessamento. A água usada para enxaguar as máquinas deve satisfazer os padrões do AAMI. Se for usada água sanitária para limpar os hemodialisadores, ela deve ser usada a 1%. O formaldeído usado para desinfetar os hemodialisadores deve estar a 4%, com um tempo mínimo de contato de 24 horas a temperatura ambiente. Os germicidas químicos usados no reprocessamento devem ter atividade bactericida compatível a pelo menos uma concentração de formaldeído a 4%. Se forem usados outros germicidas, os PASs devem seguir as instruções do fabricante. Outros componentes que devem ser reprocessados são os headers (cabeçotes) e anéis do tipo O, os quais devem ser mergulhados em desinfetante.

 

Dica

Para identificar potenciais complicações oriundas do reprocessamento do hemodialisador, os PASs devem observar o curso clínico dos pacientes durante cada sessão de diálise.1 A documentação da temperatura do paciente e qualquer sinal ou sintoma incomum pode ajudar a determinar se essas complicações têm relação com a qualidade da água ou dos métodos de reprocessamento.

 

O número de vezes que um hemodialisador é reprocessado deve ser documentado. As infecções associadas com o reprocessamento inadequado são resultado das técnicas inadequadas de desinfecção ou de concentração insuficiente da solução de desinfecção.1

 

Reprocessamento de máquinas de hemodiálise

As máquinas de hemodiálise de passagem única (o tipo mais usado nos Estados Unidos) não entram em contato com o sangue, portanto os componentes internos dessas máquinas não precisam ser limpos ou reprocessados.1 A parte externa delas deve ser limpa e desinfetada após cada paciente. Se a limpeza for feita com água sanitária, a concentração desta deve ser baixa (1%). Além disso, canos e tubulações que transportam água ou dialisado devem ser desinfetados usando calor acima de 80°C, cloro, formaldeído, ácido peracético e outros germicidas disponíveis.1 Esses agentes devem ser usados de acordo com as instruções do fabricante e enxaguados com água tratada antes de o sistema de água ser usado.1

 

Riscos para patógenos específicos

Alguns patógenos representam um risco específico para pacientes submetidos a diálise. Esses riscos e as estratégias para evitá-los são discutidos nas seções a seguir.

 

Hepatite B e hepatite C

Foi documentada a transmissão das hepatites B (HBV) e C (HCV) nas unidades de hemodiálise.1 Como já foi discutido neste livro, HBV e HCV são ameaças para diferentes tipos de pacientes, incluindo aqueles imunocomprometidos, pediátricos e submetidos a hemodiálise. Os pacientes da hemodiálise podem adquirir HBV e HCV por meio do equipamento de diálise contaminado ao não ser desinfetado ou ao não serem trocados os filtros e a água após o uso; de injeções administradas durante a hemodiálise (da contaminação do sítio de injeção ou do material que é injetado); de feridas na pele ou na membrana mucosa que entram em contato com objetos contaminados com sangue.8

Para evitar a transmissão de HBV e HCV para pacientes nas unidades de hemodiálise, os PASs podem seguir várias recomendações úteis. Devem ser usadas as precauções-padrão, como usar luvas para todos os pacientes e fazer a higiene das mãos após removê-las, entre os pacientes ou quando as mãos estiverem contaminadas. Como HBV e HCV são transmitidas por meio do contato indireto, todos os itens de cuidado do paciente e objetos pessoais usados na diálise devem ser descartados, se possível, ou limpos e desinfetados antes de entrarem em contato com outro paciente. Qualquer material que não tenha sido usado durante uma sessão de diálise, como medicamentos e materiais, não deve ser reutilizado em outro paciente, devendo ser imediatamente descartado. A limpeza e a desinfecção adequadas do equipamento e a clara separação das áreas limpas e sujas também podem ajudar a evitar a disseminação desse patógeno. Além disso, todos os PASs e pacientes submetidos a hemodiálise devem ser vacinados contra HBV.1

A triagem é outra estratégia de prevenção que deve ser feita entre os pacientes de diálise. Esses pacientes devem ser submetidos aos seguintes testes ao serem internados:1

 

      Antígeno de superfície do HBV (HBsAg)

      Anticorpo para o antígeno do core (anti-HBc)

      Anticorpo para antígeno de superfície do HBV (anti-HBs)

      Anticorpo para o vírus HCV (anti-HCV)

      Alanina aminotransferase

 

A identificação dos pacientes positivos para HBV e HCV usando a vigilância sorológica permite a rápida implantação dos procedimentos de isolamento para reduzir a infecção cruzada.8

Após diagnosticar HBV ou HCV em um paciente, este deve ser testado novamente, de acordo com a seguinte agenda:1

 

      HBsAg: testar mensalmente se o paciente for suscetível a HBV ou não apresentar resposta a vacina.

      anti-HBc e anti-HBs: não é necessário fazer mais testes.

      anti-HBs: testar anualmente e administrar uma dose de reforço se os níveis caírem para menos de 10 mLU/mL.

      anti-HCV: retestar mensalmente os pacientes que apresentarem teste negativo.

      Alanina aminotransferase: repetir os testes a cada seis meses.

 

A última estratégia de prevenção para HBV e HCV que deve ser implantada entre os pacientes de diálise é a separação. Os pacientes positivos para HBV ou HCV devem ser separados de outros, sendo colocados em outra sala ou em uma área separada ou tendo máquinas de diálise dedicadas para seu uso exclusivo. Uma pesquisa indicou que os departamentos de diálise que fazem a separação de pacientes positivos para HBV e HCV apresentam menores incidentes de HBsAg do que aqueles que não a fazem.12

 

Vírus da hepatite delta

Outro vírus que pode ser transmitido entre pacientes de diálise é o vírus da hepatite delta (HDV), mas, quando comparado com HBV e HCV, sua incidência é menor. A triagem para HDV deve ser feita na rotina apenas se um paciente com HDV confirmado for submetido a diálise no departamento ou se houver suspeita de transmissão do vírus. Os pacientes positivos para HDV submetidos a diálise devem ser separados de outros pacientes, inclusive daqueles com hepatite, e as máquinas devem ser dedicadas para seu uso exclusivo.

 

Vírus da imunodeficiência humana

Diferentemente da hepatite, não foi documentada a transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) no equipamento de hemodiálise ou pacientes.1 Entretanto, os hospitais devem ser proativos com relação à prevenção da transmissão desse patógeno para evitar que surjam novos casos. A adequada desinfecção do equipamento, seguindo as precauções-padrão, a não reutilização de agulhas de acesso e o não compartilhamento de seringas e hemodialisadores entre pacientes pode ajudar na prevenção do HIV.8 Os pacientes soropositivos não precisam ser separados dos demais pacientes.

 

Riscos de infecção associados a outros tipos de diálise

Os pacientes podem ser submetidos a diferentes tipos de diálise, e cada tipo possui diferentes riscos de infecção. As seções a seguir fazem uma rápida discussão sobre os riscos de infecção associados aos procedimentos de diálise diferentes da hemodiálise.

 

Diálise peritoneal

Outro tipo de diálise é a peritoneal, na qual o peritônio corporal age como uma membrana através da qual fluido, rejeitos e outras substâncias do sangue são filtrados. Um cateter é inserido no abdome do paciente para introduzir o dialisado e remover o fluido e o rejeito.

Como a hemodiálise, essa diálise não está isenta de riscos de infecção. A peritonite é uma complicação da diálise peritoneal crônica e em geral é infecciosa.5 As infecções associadas ao cateter incluem infecções do sítio de saída e do túnel subcutâneo. As complicações associadas ao cateter são a principal causa de transferência da diálise peritoneal para hemodiálise, por causa das infecções que exigem a remoção do cateter, e são fontes importantes de morbidade.1 Portanto, uma das estratégias mais importantes de prevenção de infecção na diálise peritoneal é inserir e manter os cateteres de acordo com rigorosas diretrizes.

Primeiro, a escolha do cateter é determinante para o desenvolvimento das infecções. De acordo com as diretrizes e recomendações da International Society for Peritoneal, “não foi demonstrado que nenhum cateter em particular seja melhor que o cateter-padrão de silicone Tenckhoff para evitar peritonite”. Esse cateter de bainha dupla é relacionado a uma taxa menor de complicações e uma sobrevida mais longa do que os cateteres de bainha simples.1 As recomendações também afirmam que os cateteres devem ser instalados em salas de cirurgia (SCs) em condições estéreis; os pacientes devem tomar banho antes da cirurgia; e um antibiótico intravenoso deve ser administrado durante a colocação do cateter para reduzir o risco de infecção relacionado à inserção.

O cuidado e a manutenção do cateter após sua colocação usando técnica asséptica rigorosa também são importantes para evitar infecções. Curativos estéreis, de preferência gaze, devem ser colocados no sítio de saída até ele cicatrizar. Um enfermeiro do departamento deve trocar o curativo usando a técnica estéril ou o paciente deve ser treinado para essa função. O cateter deve ser imobilizado com fita adesiva ou curativos por 4 a 6 semanas após sua colocação, o que reduz o trauma mecânico e ajuda no crescimento do tecido adjacente. Para reduzir o risco de crescimento bacteriano, como Staphylococcus aureus, no sítio de saída, a área deve ser limpa diariamente com um antisséptico, como clorexidina ou iodo-povidona.

Após a ferida ter cicatrizado, o sítio de saída deve ser cuidado usando técnica asséptica. Os adultos não precisam cobrir esse sítio com curativos, mas eles podem ser úteis nas crianças. Ele deve ser limpo usando antissépticos, incluindo gliconato de clorexidina a 2%. O cateter e o sítio também devem ser mantidos secos e não devem ser imersos. O sítio de saída deve ser examinado pelo paciente para detectar sinais de infecção, e a higiene das mãos deve ser feita antes das inspeções.

Os equipamentos e materiais usados na diálise peritoneal também podem ser importantes na questão das infecções. Os conjuntos em Y devem ser usados para conectar o cateter, pois esse tipo de conexão é relacionada a um menor risco de infecção. As soluções usadas na diálise peritoneal devem ser estéreis e verificadas para garantir que não estão com problemas antes do uso. Se forem adicionados medicamentos, eletrólitos ou outras substâncias a essas soluções, isso deve ser feito pouco antes do uso. As saídas do cateter e os frascos dos medicamentos devem ser desinfetados antes do uso. Os componentes internos das máquinas de diálise peritoneal não entram em contato com o sangue e usam tubulação descartável, assim, não apresentam risco de infecção. Entretanto, as máquinas devem ser limpas e desinfetadas de acordo com as instruções dos fabricantes após o uso.

Finalmente, o risco de peritonite é aumentado quando as bolsas de diálise são furadas. Lavar com o dialisado antes de preencher o abdome (também conhecida como técnica de lavar antes de encher) reduz o risco de contaminação por furo na bolsa.13

 

Diálise de alto fluxo

A diálise de alto fluxo é uma hemodiálise muito eficaz que usa membranas de dialisadores com permeabilidade hidráulica 5 a 10 vezes maior do que a das membranas convencionais. Como as membranas são muito mais permeáveis, as bactérias ou endotoxinas no dialisado podem penetrar por meio delas, o que pode provocar infecções. Além disso, a diálise de alto fluxo usa dialisado de bicarbonato, que é preparado a partir de um concentrado que pode permitir o rápido crescimento bacteriano. Portanto, os hospitais que usam diálise de alto fluxo devem ter cuidado para garantir que o dialisado obedeça os padrões microbianos do AAMI.8

 

Terapia contínua de reposição renal

Diferentemente das modalidades de diálise já discutidas, a terapia contínua de reposição renal (TCRR) é feita na unidade de terapia intensiva (UTI) em pacientes com hemodinâmica instável, choque séptico e insuficiência multissistêmica e que possuem muito pouco fluido, mas precisam de nutrição parenteral.1 Os fluidos usados na TCRR devem ser estéreis e são comercializados ou preparados na farmácia do hospital. A contaminação extrínseca ou intrínseca do fluido é um risco de infecção para pacientes submetidos a TCRR. Outro risco de infecção vem dos cateteres inseridos nesses pacientes para diálise e é semelhante aos riscos associados ao cateter na hemodiálise.

 

Referências

1.        Garcia-Houchins S.: Dialysis. In Carrico R. (ed.): APIC Text of Infection Control and Epidemiology, 3rd ed. Washington, DC: Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology, 2009, pp. 48-1–48-17.

2.        National Kidney Foundation: KDOQI clinical practice guidelines and clinical practice recommendations for 2006 updates: Hemodialysis adequacy, peritoneal dialysis adequacy and vascular access. Am J Kidney Dis 48:SA–S322, Sep.–Oct. 2006.

3.        Hoen B., et al.: EPIBACDIAL: A multicenter prospective study of risk factors for bacteremia in chronic hemodialysis patients. J Am Soc Nephrol 9:869–876, May 1998.

4.        O’Grady N.P., et al.: Guidelines for the prevention of intravascular catheter-related infections. MMWR Recomm Rep 51(RR-10):1–29, Aug. 2002.

5.        Vanherweghem J.L., et al.: Infections in chronic hemodialysis patients. Semin Dial 4:240–244, 1991.

6.        Roth V.R., Jarvis W.R.: Outbreaks of infection and/or pyrogenic reactions in dialysis patients. Semin Dial 13:92–96, Mar.–Apr. 2000.

7.        Association for the Advancement of Medical Instrumentation (AAMI): American National Standards for Water Treatment for Hemodialysis Applications, RD62. Arlington, VA: AAMI, 2001.

8.        Arduino M.: Dialysis-associated complications and their control. In Jarvis W.R. (ed.): Bennett & Brachman’s Hospital Infections, 5th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007, pp. 342–366.

9.        Jochimsen E.M., et al.: A cluster of bloodstream infections and pyrogenic reactions among hemodialysis patients traced to dialysis machine waste handling option units. Am J Nephrol 18(6):485–489, 1998.

10.    Association for the Advancement of Medical Instrumentation (AAMI): Reprocessing of Hemodialyzers, RD47. Arlington, VA: AAMI, 2008.

11.    National Kidney Foundation Kidney Disease Outcomes Quality Initiative: Clinical Practice Guidelines and Clinical Practice Recommendations, 2006 Updates. www.kidney.org/professionals/kdoqi/guideline_upHD_PD_VA/hd_rec5.htm (acessado em 15 de maio de 2010).

12.    Centers for Disease Control and Prevention: Guidelines for prevention of transmission of human immunodeficiency virus and hepatitis B virus to health-care and public-safety workers. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 38(Supl 6):1–37, Jun. 1989.

13.    Piraino B., et al.: ISPD guidelines/recommendations: 2005 update. Perit Dial Int 25:107–131, 2005.



[*] N. de R. T.: Em desuso.

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