FECHAR
Feed

Já é assinante?

Entrar
Índice

Doenças Frequentes da Vulva

Autores:

Diana G. B. S. Vanni

Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Maria Augusta Bernardini

Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Ricardo Mendes Pereira

Professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Estadual de Londrina
Chefe da Maternidade de Alto-Risco e do Pronto-Socorro Ginecolólogico e Obstétrico do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina.

Lana Maria de Aguiar

Pós-doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP
Médica Assitente do Serviço de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 14/02/2009

Comentários de assinantes: 1

INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES

As doenças da vulva são causa relativamente frequente de visitas ao ginecologista. Contudo, a maioria dos profissionais tem dificuldades em seu manejo, principalmente no que diz respeito às formas recorrentes e crônicas. Os sintomas mais frequentes são prurido, dor, irritação, tumoração e ulceração, e estão frequentemente associados a práticas pessoais inadequadas, como exposição a agentes irritantes. A grande maioria das mulheres com queixas vulvares experimenta uma série de medicações sem receita antes de consultar seu médico, o que prolonga ainda mais os sintomas.

O conhecimento da anatomia normal da vulva pode auxiliar na identificação de alguns transtornos. Do ponto de vista fisiológico, a pele da vulva assemelha-se à do restante do corpo. O monte púbico e os grandes lábios contêm tecido gorduroso, glândulas sebáceas e apócrinas, glândulas sudoríparas e vasos sanguíneos que podem formar varicosidades. Os pequenos lábios são ricos em glândulas sebáceas, poucas glândulas sudoríparas e nenhum folículo piloso. O epitélio do introito vaginal (vestíbulo) não é pigmentado ou queratinizado.

De maneira geral, as doenças da vulva podem ser classificadas em razão da apresentação predominante e de sua localização. É necessário um exame físico cauteloso, com iluminação adequada, uma vez que as alterações podem ser sutis. Também são úteis dados de anamnese como idade, status hormonal, atividade sexual, doenças sistêmicas e exposição a irritantes. Além disso, pode-se recorrer a uma série de exames complementares a serem discutidos, como culturas, colposcopia, reações sorológicas e biópsia dirigida (esta principalmente se houver persistência da lesão por mais de 6 semanas).

 

PRURIDO, PLACAS E MÁCULAS

Na Tabela 1, encontram-se as causas mais comuns de prurido vulvar associado a placas e máculas. As principais serão discutidas a seguir.

 

Tabela 1: Rashes, máculas e placas

Transtorno

Comentário

Dermatite vulvar simétrica

Estende-se a áreas de contato com agente irritante de contato.

Dermatite vulvar simétrica

Estende-se a áreas de contato com agente alérgico de contato.

Eczema vulvar

Verificar dobras crurais, couro cabeludo, extremidades.

Vulvite infecciosa

Geralmente Candida, cultura para cepas resistentes.

Líquen escleroso vulvar simétrico, periorificial, despigmentação, hemorragia submucosa

Perda de elasticidade.

Líquen plano tipo erosivo envolvendo mucosa vaginal, bem delimitado

Tipo clássico, com placas violáceas.

Psoríase

Placas vulvares geralmente não apresentam escamas prateadas. Vistas em cotovelos e joelhos.

Líquen simples crônico

Aspecto coriácio (“couro”) com acentuação dos sulcos cutâneos.

 

Dermatites

Dermatites da vulva são comuns e podem afligir até 50% das mulheres com sintomas vulvares. São mais comuns em indivíduos atópicos. O prurido é geralmente o sintoma inicial, associado a ardência se houver envolvimento da mucosa. As lesões eczematosas são simétricas e encontram-se nas áreas de contato com o agente irritante ou alergênico.

Na Tabela 2 estão exemplificados alguns irritantes comuns.

 

Tabela 2: Irritantes vulvares comuns

Fluidos corpóreos

Suor, secreção vaginal, urina e sêmen.

Produtos de higiene

Sabonete, gel, óleos, duchas, perfumes, desodorantes, cremes depilatórios e absorventes.

Medicamentos

Desinfetantes, conservantes em cremes, antifúngicos, antibióticos, anestésicos tópicos.

Lubrificantes e contraceptivos

Espermicida, preservativos e diafragmas.

Irritantes físicos

Absorventes, fio de tampões vaginais, roupas justas, roupas íntimas sintéticas, papel higiênico, higiene excessiva, depilação.

 

O tratamento é feito removendo-se o agente irritante, podendo associar hidroxizina 25 mg/dia VO e hidrocortizona 1% tópica 2 vezes/dia por 30 dias. Se houver infecção secundária, orienta-se o uso de eritromicina tópico 3 vezes/dia, podendo acrescentar fluconazol 150 mg/semana VO durante o uso do antibiótico.

 

Candidíase Recorrente

Define-se pela ocorrência de 4 episódios com evidência clínica e laboratorial em 1 ano, ou 3 não associados a uso de antibióticos. A fisiopatologia é desconhecida, há associação com a prática de sexo oral e uso de espermicidas. Geralmente o quadro é de prurido que piora na semana que precede a menstruação e melhora com ela. Pode haver ardência após a relação sexual. Culturas para fungos durante episódios podem confirmar o tipo de fungo presente e a sensibilidade a agentes antifúngicos. Tabletes de nistatina 500.000 UI, associados ao creme vaginal por 15 noites, e outros tratamentos orais e tópicos estão disponíveis; os últimos podem levar à sensibilização. Agentes como fluconazol, cetoconazol e itraconazol podem ser usados semanalmente por 2 ou 3 meses em casos recorrentes. Principalmente nas infecções por C. glabrata, há boa resposta ao uso de óvulos vaginais de ácido bórico (300 a 600 mg 5 vezes/semana por 3 semanas).

 

Líquen Escleroso

O Líquen escleroso caracteriza-se por despigmentação circunferencial, perda de pregas cutâneas e hemorragia submucosa. A etiologia é desconhecida. Estudos recentes demonstram que a resposta ao uso do clobetasol a 0,05% tópico é superior à testosterona. Deve-se iniciar com 2 aplicações diárias por 30 dias, diminuindo depois a dose progressivamente até 3 meses. Após a remissão, pode-se usar um corticoide mais fraco de modo intermitente. O diagnóstico deve ser confirmado por biópsia e a paciente necessita ser monitorada com maior frequência por causa da maior incidência de carcinoma espinocelular. Se houver úlcera ou hiperqueratose, deve-se proceder à biopsia.

O Líquen escleroso nunca afeta a vagina. Pode estar associado ao líquen plano, situação na qual podem ocorrer lesões em mucosa oral e vaginal. O diagnóstico diferencial é com vitiligo e hipopigmentação inflamatória, traumática ou cicatricial.

 

Líquen Simples Crônico

Dermatose comum caracterizada por prurido e ardor, com aspecto coriáceo (semelhante a couro) com acentuação dos sulcos cutâneos. Pode estar envolvido com infecção vaginal recorrente e eczema, ou coexistir com Líquen escleroso ou plano. É normalmente estágio final de um grande número de infecções ou fatores irritativos. O tratamento consiste em remover irritantes e alérgenos, podendo-se associar hidroxizina (25 mg/dia) ou antidepressivo tricíclico (imipramina 25 mg/dia), assim como aplicações tópicas de corticoide.

 

Psoríase

Geralmente, há antecedente familiar de Psoríase e presença de lesões típicas no couro cabeludo, cotovelos e joelhos. As lesões vulvares podem não apresentar as escamas acinzetadas características, e tendem a ser mais simétricas e bem definidas do que as dermatites. Utiliza-se clobetazol 0,05% ou tracolimo 0,1% tópicos.

 

ÚLCERAS VULVARES

As úlceras vulvares podem ser neoplásicas, infecciosas ou relacionadas a doenças sistêmicas (Tabela 3). Na avaliação inicial, são importantes a aparência, a consistência, a presença de dor à palpação, supuração, linfadenopatia regional ou generalizada e presença de lesões na cavidade oral ou outros locais.

 

Tabela 3: Úlceras e fissuras vulvares comuns

Doença

Característica da úlcera

Linfonodos

Achados sistêmicos

Exames laboratoriais

NIV, carcinoma espinocelular, basocelular ou melanoma

Geralmente solitária, não-dolorosa, com borda elevada e base limpa

Variável, aumento pode indicar metástase linfonodal

Contribuem pouco na ausência de metástases

Teste do ácido acético 5% e biópsia

Herpes simples, Epstein-Barr

Geralmente múltiplas, dolorosas, HSV pode ser recorrente

Linfadenopatia bilateral

Febre, mal-estar, esplenomegalia, dor de garganta (EBV), primoinfecção por HSV

Cultura da base da úlcera (HSV), sorologias (HSV e EBV), citologia da base da úlcera

Behçet, pênfigo cicatricial, aftas

Geralmente múltiplas, dolorosas, recorrentes, borda cicatricial

Geralmente não envolvidos

Lesões orais (Behçet e aftas) lesões oculares (Behçet e pênfigo)

Biópsia da borda da lesão recente, coloração de hematoxilina eosina e IF direta (pênfigo)

Pioderma gangrenoso, Crohn anorretal

Úlcera alongada no Crohn, com centro necrótico no PG

Linfadenopatia comum na infecção secundária

Doença inflamatória intestinal, PG pode ser isolado

Biópsia pouco útil no PG, granuloma e células gigantes no Crohn

Sífilis, linfogranuloma venéreo, cancroide, donovanose

Úlceras de aspecto variável, pode ser única, múltiplas, endurecidas, amolecidas, profundas ou superficiais

Linfadenopatia significativa

Geralmente não contribui

Campo escuro, pesquisa de Chlamydia, cultura para Haemophilus ducreyi, coloração de Giemsa para corpúsculos de Donovan

De decúbito, traumáticas

Localizadas em região de pressão direta ou trauma

Linfadenopatia incomum

Doença sistêmica levando a pouca mobilidade

Cultura da base da úlcera

 

Infecção por HSV

É a causa mais comum de úlcera aguda. As infecções primárias por HSV 1 e 2 apresentam-se como múltiplas ulcerações confluentes, superficiais e dolorosas no trato genital inferior. Podem ocorrer linfadenomegalia regional, febre e mal-estar geral. As lesões recorrentes costumam ser menos sintomáticas. O diagnóstico pode ser auxiliado pela visualização de células gigantes por citologia (Papanicolaou) da borda da lesão e confirma-se por cultura, que demora vários dias, ou por testes mais novos de imunofluorescência. Na prática, o achado de células gigantes multinucleadas em raspados da lesão pode confirmar a suspeita clínica. O tratamento com agentes antivirais (aciclovir, fanciclovir e valaciclovir) pode ser episódico ou contínuo, visando suprimir as recorrências. Comumente utiliza-se aciclovir 200 mg 5 vezes/dia de 7 a 10 dias, podendo associar-se banho de assento com permanganato de potássio ou camomila.

 

Infecção por EBV

As infecções agudas por EBV são mais comuns na adolescente e caracterizam-se pela presença de febre, dor de garganta, linfadenopatia cervical e eventualmente úlceras genitais em indivíduos com cultura negativa para HSV. O diagnóstico confirma-se pela presença de linfócitos atípicos em sangue periférico e por testes sorológicos. O tratamento é sintomático.

 

Sífilis

As úlceras associadas à infecção pelo Treponema pallidum são geralmente indolores, elevadas, com a base limpa e associadas a linfadenopatia indolor. O exame de raspado da lesão por microscopia em campo escuro ou imunofluorescência direta confirma o diagnóstico. O tratamento é feito com Penicilina benzatina 2.400.000 UI IM dose única.

 

Cancroide

A infecção por Haemophilus ducreyi caracteriza-se pela formação de uma pápula que, em alguns dias, evolui para uma úlcera com borda irregular e halo inflamatório. Em contraste com a Sífilis, a úlcera e os linfonodos regionais são dolorosos e amolecidos e podem supurar. Múltiplas úlceras são comuns nas mulheres; portanto, a distinção da infecção pelo HSV faz-se por uma cultura negativa para o vírus. O isolamento do agente em raspados da lesão é difícil. O diagnóstico torna-se então de exclusão: uma ou mais úlceras genitais dolorosas, acompanhadas de linfadenopatia regional na ausência de T. pallidum em raspado da região ou reação sorológica para Sífilis negativa pelo menos 7 dias após o aparecimento da lesão. Podem-se visualizar bacilos Gram-negativos à bacterioscopia. O tratamento consiste em uma dose única de 1 g de azitromicina ou na administração intramuscular de 250 mg de ceftriaxona.

 

Linfogranuloma Venéreo

A infecção, causada por um sorotipo de Chlamydia trachomatis distinto do causador da salpingite, inicia-se com uma pápula indolor que ulcera e eventualmente resolve-se espontaneamente sem deixar cicatriz. Após 1 a 4 semanas da infecção, ocorre linfadenopatia inguinal bilateral. O diagnóstico faz-se por pesquisa de clamídia (reação de fixação de complemento ou PCR) no aspirado da adenopatia satélite. O tratamento de escolha é a doxaciclina 100 mg 2 vezes/dia por 3 semanas.

 

Donovanose

Caracteriza-se por uma pápula indolor nos lábios ou introito vaginal que ulcera após alguns dias, dando origem a uma lesão esponjosa, granulomatosa. O agente Calymmatobacterium granulomatis é de crescimento lento e, portanto, dificilmente isolado em culturas. O diagnóstico é feito pela identificação de corpúsculos de Donovan (cocobacilo Gram-negativo) em colorações de Giemsa ou Wright de um fragmento da úlcera. O tratamento consiste em 3 semanas de doxaciclina ou sulfametoxazol-trimetoprim.

 

Behçet

A síndrome de Behçet é uma vasculite de etiologia desconhecida, caracterizada pela presença de úlceras intermitentes genitais e orais, concomitantes ou não, que ocorrem em regiões de trauma, um fenômeno conhecido como patergia. É diagnosticada por critérios clínicos; além das úlceras orais recorrentes, 2 dos seguintes critérios são necessários ao diagnóstico: úlceras ou cicatrizes genitais; erupções acne-símile ou eritema nodoso em braços, pernas e tronco; vasculite da retina ou uveíte; indução de patergia. Biópsia em lesão recente pode mostrar vasculite leucocitoclástica, não tendo alterações laboratoriais patognomônicas. A eficácia dos tratamentos propostos é questionável, pela característica intermitente das lesões. Inicia-se preferencialmente com corticoides sistêmicos, prednisona 40 mg/dia por 15 dias, com redução paulatina da dose. Na presença de sintomas oculares severos, administra-se azatioprina ou ciclosporina. A colchicina tem valor controverso, mas apresenta menos efeitos colaterais.

Na presença de lesões orais e genitais que não preenchem critérios diagnósticos para doença de Behçet, faz-se o diagnóstico de aftose orogenital. O tratamento consiste no manejo sintomático e das infecções secundárias. Nos casos graves, podem ser usados corticoides tópicos.

 

Fissura Vulvar

Possui causa desconhecida, fazendo diagnóstico diferencial com dermatose, inflamação, eczema, Psoríase, Líquen escleroso, dermatite seborreica, infecção bacteriana (estreptococo do grupo B) e Candida. O tratamento é feito com clobetasol 0,05% tópico 2 vezes/dia, quando outras causas são excluídas.

 

PÁPULAS, NÓDULOS E TUMORES

Vários nódulos podem ocorrer em elementos glandulares da pele vulvar, assim como em resquícios embrionários e em sítios de infecções, neoplasias e herniações. No caso das lesões sólidas, a remoção é diagnóstica e curativa. Os cistos, principalmente quando localizados nos grandes lábios e em outras regiões de ocorrência de hérnias, devem ser abordados com cuidado para evitar lesões iatrogênicas a vísceras ocas. Massas de Bartholin endurecidas e dolorosas, principalmente na pós-menopausa, devem ser extraídas para excluir malignidade. As pápulas, nódulos e tumores mais comuns encontram-se listados na Tabela 4. Os itens de maior relevância serão discutidos a seguir.

 

Tabela 4: Pápulas, nódulos e tumores comuns

Doença

Localização e características

Infecciosa: condiloma acuminado (Figura 7), molusco contagioso

Superfície verrucosa, tamanho/forma/localização variáveis umbilicação central, 2 a 4 mm, múltiplas lesões.

Glândulas apócrina e écrinas: hidroadenoma, seringoma

Localização cutânea. Hidroadenoma com umbilicação central 1 a 2 cm. Seringoma 1 a 2 mm.

Cistos de inclusão epidérmica, angioqueratoma, queratose seborreica

Coloração característica: inclusão epidérmica (amarela), angioqueratoma (vermelha ou marrom), queratose seborreica (marrom a preta), localização nos grandes lábios e face externa dos pequenos.

Origem em células mesenquimais: lipoma, leiomioma, fibroma, mioblastoma de células granulosas

Variáveis em tamanho e consistência, exérese é geralmente terapêutica e diagnóstica. Leiomioma é o mais comum.

Resquícios embrionários: mucocele, cisto de ducto mesonéfrico

Cisto simples de parede fina, amolecido, geralmente unifocal, localizado na parte superior do vestíbulo.

Cisto de Bartholin

Localização e consistência importantes no diagnóstico, cistos na parte superior dos grandes lábios podem conter vísceras.

Hemangiomas e varizes vulvares

Coloração vermelha ou roxa, dor em posição ortostática prolongada.

 

Verrugas Genitais

Verrugas exofíticas genitais são uma manifestação benigna comum da infecção pelo vírus HPV de baixo risco e ocorrem mais frequentemente em pequenos lábios, fúrcula, região perianal e períneo. O aspecto é geralmente clássico e a biópsia para confirmação diagnóstica é necessária apenas em casos de crescimento rápido, aumento de pigmentação, ulceração e fixação a planos subjacentes, para excluir NIV ou malignidade. O tratamento consiste na aplicação de ATA a 80% ou podofilina a 25% pelo médico, ou no uso de imiquimod 5% 3 vezes/semana por até 16 semanas pelo próprio paciente. Nos casos exuberantes, pode ser realizada a eletrocauterização em ambiente cirúrgico, não havendo até o momento demonstração de maior benefício na fulguração a laser.

 

Molusco Contagioso

Trata-se de infecção viral caracterizada pela presença de múltiplas papilas de 2 a 3 mm com umbilicação central. O diagnóstico e o tratamento consistem na excisão cirúrgica da lesão, curetagem da pele ou uso de ATA 80%.

 

PÚSTULAS, ABSCESSOS E INFESTAÇÕES

Hidradenite Supurativa

A hidradenite supurativa pode envolver glândulas apócrinas da linha do leite, dos grandes lábios vulvares até as axilas. Geralmente inicia-se após a menarca e regride no climatério. Pode resultar em abscessos cutâneos múltiplos, cicatrizes e deformidade. O diagnóstico diferencial faz-se com a doença de Crohn anorretal. Casos leves podem beneficiar-se da administração de contraceptivos orais associados a um curso de 3 semanas de amoxicilina+clavulanato, ciprofloxacina ou tetraciclina.

 

Bartholinite

O diagnóstico da infecção da glândula de Bartholin é geralmente clínico, pois o quadro é típico: uma massa amolecida unilateral no terço inferior do introito vaginal, entre o vestíbulo e o grande lábio. A flora é geralmente mista, mas alguns patógenos específicos, como o gonococo, podem ser encontrados. O tratamento adequado consiste na drenagem do abscesso no momento apropriado, após maturação desse. Até então, a paciente deve receber analgésicos, antibióticos e realizar banhos de assento mornos. A incisão deve ser realizada na face mucosa. Outras opções na fase crônica incluem marsupialização e a inserção de um cateter de Word, que possui um pequeno balão inflável, permitindo sua retenção na cavidade cística por 4 a 6 semanas. Nos casos crônicos, a excisão cirúrgica do cisto é recomendada.

 

Infestações

A infestação pelo E. vermiculares é endêmica em algumas populações. O quadro clínico consiste em prurido perianal, especialmente à noite. O diagnóstico faz-se pelo teste do celofane.

A escabiose também se caracteriza por prurido, principalmente nas regiões vulvar, axilar, nádegas e entre os dedos, acompanhado de escurecimento cutâneo. A confirmação diagnóstica faz-se pela visualização microscópica do Sarcoptes scabiei em raspados das lesões. O tratamento consiste na aplicação tópica de permetrina a 5%.

A pediculose púbica diagnostica-se pela visualização do piolho ou de seus ovos. O tratamento é feito com aplicação da permetrina a 1%.

 

NIV E NEOPLASIA

Neoplasia Intraepitelial Vulvar (NIV)

A aparência da NIV é extremamente variável. Podem ocorrer lesões multifocais, esbranquiçadas, avermelhadas, escuras, elevadas ou ulceradas. Assim, deve-se biopsiar toda lesão suspeita. Os sintomas mais comuns são prurido e ardência localizados, mas grande parte dos casos é assintomática. Precursor do câncer de vulva, a NIV inclui todas as lesões pré-cancerosas da vulva, escamosa e não-escamosa. A NIV escamosa é precursora do carcinoma escamoso. Há dois tipos de carcinoma invasivo de vulva: HPV relacionado e não-HPV, diferentes em epidemiologia, clínica, patologia e perfil molecular. Assim, a NIV é classificada em tipo diferenciado e tipo usual. O primeiro relacionado ao Líquen escleroso, sendo o tipo usual relacionado ao HPV.

O tratamento consiste na remoção cirúrgica das lesões, com altas taxas de recorrência. A taxa de progressão para invasão das lesões não-tratadas é controversa, podendo chegar a 10%. As lesões de baixo grau podem ser tratadas por vaporização a laser ou com outros métodos de ablação. A excisão a laser é preferível quando a NIV acomete os grandes lábios, pois as alterações celulares adentram os folículos pilosos, não sendo adequadamente tratadas por uma fulguração superficial. Havendo suspeita de lesão de alto grau, a excisão completa, a laser ou por outro método, é mais adequada por permitir sua análise anatomopatológica. Como o NIV está aumentando em jovens, é importante lembrar que a remoção cirúrgica pode resultar em distorção da anatomia, afetando a imagem sexual e até gerando dispareunia. O uso de imunomoduladores no tratamento da NIV ainda necessita de comprovação adequada.

 

Melanoma

Apesar de estar protegida dos raios solares, a vulva é o sítio de 2 a 4% dos melanomas. Devem ser prontamente biopsiadas as lesões que surgem de novo, ou em um nevo preexistente com assimetria, bordas irregulares, cor negra ou multicolorida e  diâmetro superior a 6 mm.

 

Paget de Vulva

A doença de Paget vulvar é uma neoplasia geralmente associada a prurido, ardência e sangramento. Apresenta-se como uma placa eczematosa com bordas bem delimitadas e uma superfície eventualmente verrucosa. Deve-se considerar esse diagnóstico sempre que uma lesão vulvar não responder à corticoterapia. A ocorrência concomitante de adenocarcinoma de vulva contíguo à lesão pode chegar a 4%, e de adenocarcinoma não-contíguo, a 25%, sendo portanto necessário incluir na investigação exames como colonoscopia, cistoscopia, mamografia e colposcopia. O tratamento consiste na remoção cirúrgica da lesão com margem de 2 a 3 cm. A análise intraoperatória das margens pode, em alguns casos, diminuir as taxas de recorrência e persistência. A ablação a laser é inadequada por não promover a destruição tecidual com a profundidade necessária.

 

TÓPICOS IMPORTANTES

  As lesões de vulva representam um desafio à prática clínica do ginecologista A abordagem adequada das doenças da vulva inclui uma avaliação criteriosa do tipo e localização da lesão e do uso liberal de biópsias e propedêutica complementar.

 

BIBLIOGRAFIA

Adaptado, com autorização, do livro Clínica Médica: dos Sinais e Sintomas ao Diagnóstico e Tratamento. Barueri: Manole, 2007.

1.    Aguiar LM, Omonte JM, Burgos EE. Líquen escleroso: o diagnóstico é a chave do tratamento. Sinopse de Ginecologia e Obstetrícia. 2002;(1):15-18.

2.    Anderson M, Kutzner S, Kaufman RH. Treatment of liquen planus with topical hidrocortizone. Obstet Gynecol. 2002;100:359-62.

3.    Bohl TG. Vulvar ulcers and erosions – a dermatologist´s viewpoint. Dermatologic Therapy. 2004;17:55-67.

4.    Cheng SX, Chapmam SM, Margesson LY, Birenbaum D. Genital ulcers caused by Epstein Barr virus. J Am Acad Dermatol. 2004;3(51):824-6.

5.    Dupin N. Genital warts. Clin Dermatol. 2004;22(6):481-6.

6.    Foster DC. Vulvar disease. Obstetrics and Gynecology. 2002;100(1):145-67.

7.    Howard A, Wojnarowska F. Vulval dermatoses. J Br Menopause Soc. 2003;9(2):80-1.

8.    Jeffcoat TNA. Chronic vulval dystrophies. Am J Obstett Gynecol. 1966;95:61-74.

9.    Jones RN, Sadler L, Grant S, Whineray J, Exeter M, Rowan D. Clinically identifying women with lichen sclerous at increased risk os squamous cell carcinoma. Obstet Gynecol Surv. 2005;60(2):98-9.

10. Larrabee R, Kylander DJ. Benign vulvar disorders. Postgraduate Medicine. 2001;109(5):151-64.

11. Preti M, Seters MV, Sideri M, Beurden MV. Squamous vulvar intraepitelial neoplasia. Clin Obst Gynecol. 2005;4(48):845-61.

12. Welsh BM, Berzins KN, Cook KA, Fairley CK. Management of common vulval conditions. MJA. 2003;178(8):391- 5.

Comentários

Por: francisco manuelito lima de almeida em 06/05/2012 às 00:35:08

"excelente revisão das doenças da vulva."

Conecte-se

Feed

Sobre o MedicinaNET

O MedicinaNET é o maior portal médico em português. Reúne recursos indispensáveis e conteúdos de ponta contextualizados à realidade brasileira, sendo a melhor ferramenta de consulta para tomada de decisões rápidas e eficazes.

Medicinanet Informações de Medicina S/A

Cnpj: 11.012.848/0001-57

info@medicinanet.com.br


MedicinaNET - Todos os direitos reservados.

Termos de Uso do Portal

×
×

Em função da pandemia do Coronavírus informamos que não estaremos prestando atendimento telefônico temporariamente. Permanecemos com suporte aos nossos inscritos através do e-mail info@medicinanet.com.br.