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Alimentação em Pré-Escolares Escolares e Adolescentes

Autor:

Márcia Regina de Souza Amoroso Quedinho Paiva

Médica Assistente do Departamento de Pediatria e Puericultura da ISCMSP.

Última revisão: 14/03/2010

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INTRODUÇÃO

Alimentação em Pré-escolares

A fase pré-escolar (de 1 a 6 anos de idade) é caracterizada pela redução da velocidade de crescimento e do apetite, grande interesse pelo ambiente e reduzido interesse pelos alimentos. A partir do 2º ano de vida, a criança torna-se mais independente, tem mais condições de se comunicar, além de já possuir diversos dentes e apresentar sistemas metabólico e digestivo funcionando com capacidade igual ou semelhante aos sistemas do adulto. É momento, então, de estimular a criança a se alimentar sozinha, fazendo suas refeições em local adequado e, sempre que possível, junto aos demais familiares.

Na fase pré-escolar, ocorre uma maturação progressiva da linguagem e da capacidade da criança se relacionar com o meio ambiente, especialmente com seus familiares e com seus amigos, e há uma crescente facilidade no manuseio da linguagem e na coordenação de ideias. Essa fase também é decisiva em termos de formação de hábitos alimentares, que tendem a se solidificar na vida adulta. Por isso, é importante estimular o consumo de uma alimentação saudável o mais precocemente possível.

De forma geral, os pré-escolares estão expostos a uma ampla variedade de alimentos com diversas composições, sabores, texturas e cores. Nessa fase, sua dieta costuma ser semelhante à dos escolares, entretanto, os pré-escolares ingerem menos alimentos e tomam menos líquidos do que os escolares (exceto leite e produtos lácteos que são consumidos em quantidades semelhantes pelos dois grupos). Depois do leite e dos produtos lácteos, os principais componentes da dieta de pré-escolares são as frutas, os vegetais verdes, os tubérculos, os cereais, o açúcar, a carne e seus derivados. A ingestão de micronutrientes está estreitamente relacionada com a ingestão de energia, de modo que é possível que as crianças cujo consumo de energia seja menor também sofram de deficiência de outros micronutrientes, como o ferro e o zinco.

A inapetência é a queixa mais comum dessa fase e deve ser avaliada tanto pelo pediatra quanto pelo nutricionista, por meio de uma criteriosa anamnese alimentar, adequações do peso à estatura, exames físico e laboratoriais, para que se possa diferenciar da inapetência orgânica, que pode estar associada à deficiência de micronutrientes, especialmente o ferro. A nutrição inadequada, em especial a deficiência de ácidos graxos essenciais (linoleico e alfalinolênico), pode estar associada a déficits de aprendizagem e maior suscetibilidade a infecções.

Portanto, a alimentação adequada é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento de crianças nessa faixa etária, pois é nessa fase que se consolidam os principais sistemas orgânicos e se formam os hábitos alimentares, fatores condicionantes para o equilíbrio da saúde do futuro adulto.

 

Alimentação em Escolares

A idade escolar representa uma fase de transição entre a infância e a adolescência e compreende crianças de 7 anos de idade até a puberdade, aproximadamente 10 anos de idade. Nessa, fase observa-se uma crescente independência da criança, momento em que começa a formar novos laços sociais com adultos e indivíduos da mesma idade. O período escolar é caracterizado, portanto, por uma maior sociabilização e independência, o que promove uma maior e melhor aceitação dos alimentos e um apetite voraz, que deve ser compatível com a atividade física e o estilo de vida do escolar.

É nessa fase que se inicia o período de maior acúmulo de massa óssea, que perdurará até 25 a 30 anos de idade, quando este acúmulo atinge seu pico. A criança apresenta músculos mais fortes e habilidades motoras mais desenvolvidas. Por isso, esse período coincide com o início de atividades físicas regulares e aumento do interesse pelos esportes. É um período de intensa atividade física, ritmo de crescimento constante, com ganho mais acentuado de peso próximo ao estirão da adolescência. Contudo, verifica-se também a omissão de refeições, especialmente o café da manhã, e a redução da ingestão de leite que deve ser monitorada para que não haja comprometimento do suprimento de cálcio necessário à formação óssea.

Além da família, a escola passa a desempenhar papel importante na manutenção da saúde (física e psíquica) da criança. As tendências à urbanização aliadas ao desenvolvimento industrial e agropecuário ocasionaram mudanças de padrão alimentar e de vida das sociedades ocidentais. O consumo de alimentos industrializados e ricos em gordura aumentou, em detrimento da ingestão de alimentos não processados. Houve ainda redução da atividade física para o desenvolvimento do trabalho e do lazer. Tais modificações determinaram o processo denominado transição nutricional, caracterizado por queda das taxas de desnutrição, aumento da prevalência de obesidade e incremento de casos de “fome oculta” – deficiências nutricionais específicas, pouco evidentes clinicamente, mas prejudiciais à boa saúde.

Essas transformações, aliadas ao processo educacional, são determinantes para o aprendizado em todas as áreas e o estabelecimento de novos hábitos.

 

Alimentação em Adolescentes

A adolescência é uma fase de grande vulnerabilidade para o desenvolvimento de distúrbios nutricionais, pelo aumento das necessidades de nutrientes específicos decorrente da aceleração do ritmo de crescimento, do desenvolvimento puberal e das modificações na composição corpórea e também pela presença de hábitos alimentares inadequados, bastante comuns neste período.

Além das modificações estruturais, há outros aspectos característicos, como a busca por autonomia, a definição da própria identidade, a maior suscetibilidade às pressões sociais, o que propicia mudanças nas escolhas alimentares do adolescente e o abandono do padrão alimentar da família. O hábito alimentar do adolescente é determinado por fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais, assim como pela influência dos seus pares e da mídia.

Os adolescentes são considerados grupo de risco nutricional: não se alimentam pela manhã, pulam algumas refeições substituindo-as por lanches e consomem alimentos preparados e refrescos. Na cultura atual, os alimentos e as bebidas tornam-se, progressivamente, mais uniformes. Entre as crianças e os adolescentes de todo o mundo, os refrescos estão substituindo o leite, a água e as bebidas alcoólicas. Define-se refrescos como bebidas engarrafadas ou enlatadas, prontas para o consumo, com ou sem gás, adoçadas com sacarose ou elevados teores de frutose, xarope de milho ou edulcorantes intensos e que não contêm leite ou álcool. São exemplos os sucos de frutas engarrafados, os refrigerantes, as bebidas para esportistas, os chás gelados e o café pronto para consumo.

O aumento da frequência do excesso de peso e da obesidade observado entre os adolescentes nos Estados Unidos é preocupante, assim como o hábito de fazer regime para emagrecer que, especialmente entre as meninas, pode determinar níveis de ingestão de micronutrientes inferiores aos recomendados.

Os lanches mais populares são os produtos fritos ou com sabores intensos, doces e chocolates, biscoitos, produtos lácteos, frutas e sucos de frutas, refrescos e pão. Quando os lanches substituem parcialmente as principais refeições, é importante assegurar que sejam nutritivos, o que pode contribuir para uma dieta equilibrada, desde que os demais alimentos escolhidos sejam adequados.

As consequências nutricionais do consumo de refrescos e fast food são principalmente as resultantes dos seus altos teores de gordura e hidratos de carbono. São as principais consequências a obesidade, cáries dentárias, hiperlipidemia e hipercolesterolemia, hiperatividade infantil, diarreia e sobrecarga de fósforo devido às grandes quantidades deste elemento em bebidas à base de cola.

Esses hábitos alimentares podem acarretar desequilíbrio no balanço energético, com aumento do risco para o desenvolvimento de obesidade e morbidades associadas, assim como deficiência de micronutrientes.

A orientação alimentar do adolescente não pode ser rígida e deve ser sempre discutida com ele para que haja melhor adesão às modificações propostas.

A abordagem mais adequada é aquela que considera os aspectos biopsicossociais próprios da adolescência e não se baseia apenas em proibições.

A promoção da alimentação saudável na adolescência, além de suprir as demandas nutricionais desse importante estágio da vida, tem o potencial de conferir significantes benefícios à saúde em longo prazo.

 

EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR NA INFÂNCIA

A revolução que se produziu no modo de vida e nos hábitos alimentares das crianças nos últimos anos pode ser atribuída, em grande parte, às modificações do ambiente familiar e, de modo geral, do ambiente social. Atualmente, de um modo geral, as crianças são mais sedentárias e permanecem por mais tempo na frente de televisões, videogames e computadores.

Um dos fatores de maior impacto sobre o modo de vida e os hábitos alimentares das crianças são as propagandas de alimentos e refrescos veiculadas pela televisão, estimulando as crianças a consumirem principalmente alimentos com elevado grau de processamento, valor nutritivo limitado, alto teor energético e com grandes quantidades de gordura, açúcar, colesterol e sal e com pouco ou nenhum micronutriente. Isto tudo vem associado a uma maior permissividade e tolerância de muitos pais, o que contribui para uma maior tendência no consumo destes alimentos.

É importante considerar que uma proporção significativa de crianças em idade pré-escolar e escolar não é supervisionada de forma adequada pelos pais no tocante ao número de refeições e lanches e à quantidade e à qualidade dos alimentos que consomem.

O grau de educação da família e sua condição socioeconômica têm efeitos consideráveis sobre o modo de vida e os hábitos alimentares das crianças. O grau de educação da mãe é um dos melhores indicadores do tipo e da qualidade da dieta da criança.

Os padrões alimentares da família podem ser parcialmente atribuídos a fatores genéticos, hereditários e culturais. Nas crianças, os padrões alimentares são estabelecidos a partir de 1 a 2 anos de vida e tendem a persistir sem muitas alterações ao longo de toda a vida. Portanto, é importante assegurar às crianças uma dieta tão variada quanto possível a partir dessas idades tão precoces.

Crianças em fase de formação do hábito alimentar não aceitam novos alimentos prontamente. Essa relutância em consumi-los é conhecida como neofobia, isto é, a criança nega-se a experimentar qualquer tipo de alimento desconhecido e que não faça parte de suas preferências alimentares. A melhor forma de “curar” a neofobia é oferecer repetidamente o novo alimento. Normalmente, é indicado oferecer cada novo alimento separadamente, por vários dias consecutivos, até que a criança tenha aceitado o gosto e a textura novos. Após este período, outro alimento pode ser oferecido da mesma maneira. Oferecer novos alimentos acompanhados de alimentos já apreciados pela criança pode facilitar a aceitação. Antes que um novo alimento seja completamente aceito, é necessário oferecê-lo entre 8 a 10 vezes à criança, mesmo que em quantidades mínimas.

Vale lembrar que o apetite é variável, momentâneo e depende de alguns fatores, por exemplo: idade, condição física e psíquica, atividade física, temperatura ambiente e quantidade de alimentos ingerida na refeição anterior. O apetite é regulado pelos alimentos preferidos da criança, sendo estimulado pela forma de apresentação da alimentação (cor, textura, cheiro etc.). Geralmente, os alimentos preferidos pelas crianças são os de sabor doce e muito calóricos. É normal a criança querer comer apenas doces, mas cabe aos pais impor limites quanto ao horário e à quantidade desses alimentos.

A criança possui mecanismos internos de saciedade que determinam a quantidade de alimentos que ela necessita, por isso deve ser permitido seu controle de ingestão. Também é necessário respeitar as preferências alimentares individuais tanto quanto possível. Quando houver recusa insistente de um determinado alimento, este deve ser substituído por outro com os mesmos nutrientes ou variar o modo de preparo.

Devem-se evitar comportamentos como recompensas, chantagens, punições, subornos ou castigos para forçar a criança a comer.

 

PROBLEMAS NUTRICIONAIS MAIS FREQUENTES

Anemia, constipação e obesidade, por exemplo, devem ser criteriosamente avaliados nestas faixas etárias, não apenas por sua magnitude, mas, sobretudo por suas consequências no desenvolvimento infantil.

A anemia ferropriva é o problema nutricional de maior prevalência em todo o mundo, afetando cerca de 30% da população dos países em desenvolvimento e atingindo, no Brasil, entre 50 e 65% de lactentes e pré-escolares, conforme a área geográfica e fatores socioeconômicos. Em diversas regiões do país, crianças menores de 5 anos apresentam uma alimentação monótona e pouco diversificada, constituída basicamente por uma dieta láctea, com consumo elevado de açúcar e gordura e reduzida ingestão de frutas e verduras.

A constipação crônica funcional é muito frequente entre as crianças, afetando cerca de 12 a 40% desta faixa etária. O tratamento dietético prevê uma dieta variada, que desencoraja a substituição das refeições (almoço e jantar) por preparações ou fórmulas lácteas, estimula o consumo de frutas, legumes e verduras em todas as refeições, substitui alimentos refinados por similares integrais e aumenta a ingestão de líquidos.

A prevalência do sobrepeso em crianças vem aumentando nos últimos anos, sendo considerada atualmente um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde. Com relação à obesidade infantil, é preciso destacar o papel da família, da escola e a influência exercida pela mídia na aquisição e no consumo dos alimentos.

 

ELABORAÇÃO DE UMA ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA

O primeiro passo para elaborar uma alimentação saudável em crianças nessa faixa etária é a seleção de alimentos que compõem a dieta. Ela deve satisfazer as necessidades nutricionais com elevada quantidade de energia por peso corpóreo e com proporção correta entre proteínas, carboidratos e gorduras. É importante ainda incluir vitaminas, minerais e água. O sal, no entanto, deve ser controlado.

Os carboidratos são a base da alimentação, pois, do total das calorias que uma criança com mais de 1 ano ingere, pouco mais da metade deve ser oriundo dos carboidratos. Além disso, os carboidratos poupam as proteínas, evitando que elas sejam desviadas para a produção de energia. Para tanto, é impossível elaborar uma dieta infantil equilibrada sem doses adequadas de carboidratos. As melhores fontes são cereais, raízes, tubérculos, açúcar e cereais infantis fortificados; por exemplo: arroz, farinha, açúcar, frutas, milho, aveia, inhame, pão, batata, macarrão, trigo, cará, mandioca e cereais matinais.

Outra fonte de energia é a gordura. Esse nutriente dá sabor à dieta e aumenta a saciedade, por ter a digestão mais lenta. Além disso, também é importante na absorção de vitaminas lipossolúveis e na síntese de hormônios esteroides. As principais fontes de gordura na dieta infantil são o leite integral e seus derivados, os óleos, os cremes vegetais, as carnes e a gema dos ovos.

As proteínas completam as necessidades calóricas da dieta. Sua principal função é estrutural, e não energética. Elas auxiliam na formação da estrutura dos órgãos e tecidos e têm participação direta no crescimento da criança. Deve-se tomar cuidado para não exagerar na sua quantidade, pois muitos ainda acreditam que as fontes de proteínas são os alimentos mais importantes. No entanto, quando as proteínas são desviadas de sua função essencial, o resultado pode ser a desnutrição proteica. As proteínas de melhor qualidade e maior quantidade estão nos alimentos de origem animal. Contudo, as leguminosas (feijão, soja, ervilha e grão de bico) também contêm proteínas, mas de qualidade inferior às de origem animal. Para melhorar a qualidade das proteínas das leguminosas, recomenda-se misturá-las com cereais na mesma refeição, como o arroz com feijão, numa proporção de três partes de cereal para uma de leguminosa. As melhores fontes de proteína são leite e seus derivados, clara de ovo, carnes e vísceras.

As vitaminas e os minerais estão distribuídos nos alimentos em quantidades pequenas, mas com a função essencial de regular o metabolismo. A falta desses nutrientes ou o fornecimento inadequado deles levam a criança a crescer menos e aumenta o risco de aparecimento de doenças, principalmente as infecciosas, e também a incidência de apatia. As melhores fontes de vitaminas e minerais são os legumes (cenoura, abobrinha, pepino, tomate, beterraba, chuchu, vagem, abóbora, ervilha, palmito etc.), as verduras e as frutas.

A dieta equilibrada é aquela que fornece energia, nutrientes (proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais) e água em quantidades suficientes para o crescimento e desenvolvimento infantil. O fornecimento energético para a criança a partir de uma dieta equilibrada é essencial para garantir toda sua nutrição, inclusive a digestão, a absorção e a utilização de todos os nutrientes.

 

NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO ADOLESCENTE

Energia

As necessidades energéticas estão aumentadas e guardam estreita relação com a velocidade de crescimento e a atividade física. Os requerimentos energéticos aumentam de acordo com a velocidade de crescimento estatural, o que permite afirmar que os incrementos de estatura refletem melhor o período de crescimento. As diferenças entre os sexos masculino e feminino, evidentes no início da puberdade, acentuam-se ao longo da adolescência e estão de acordo com a atividade física.

 

Proteínas

O rápido crescimento muscular durante o estirão pubertário exige elevada oferta proteica, influenciada pela velocidade de crescimento, estado nutricional prévio, qualidade proteica da dieta e a oferta energética.

 

Vitaminas

As hidrossolúveis (tiamina, niacina e riboflavina) cumprem importantes funções no metabolismo energético e as recomendações sobre sua ingestão devem ter como base a ingestão energética. Em relação às recomendações, deve-se levar em conta que as necessidades de tiamina aumentam com o consumo de grandes doses de açúcares refinados, padrão alimentar comum na adolescência. Alguns adolescentes, principalmente os fumantes e os que utilizam contraceptivos orais, podem apresentar deficiência de vitamina C. As necessidades de vitamina B12 também são elevadas e o risco de carência é especialmente alto nos casos de dietas radicais e vegetarianos exclusivos. O ácido fólico é importante durante os períodos de grande replicação celular e crescimento. Entre as vitaminas lipossolúveis, as necessidades de vitamina A aumentam consideravelmente nos períodos de crescimento acelerado. A vitamina D está envolvida no metabolismo do cálcio, fósforo e na mineralização óssea, sendo necessários até 10 mcg no período de maior velocidade do crescimento ósseo.

 

Minerais

A oferta de minerais é imprescindível para o correto funcionamento de numerosos sistemas enzimáticos e para permitir a expansão dos tecidos metabolicamente ativos, que sofrem notável incremento durante este período.

 

Cálcio

Aproximadamente 99% do cálcio do organismo encontram-se na massa óssea. Como o adolescente apresenta aumento dessa massa, as necessidades dietéticas do cálcio nesta fase são significativas. A maioria dos adolescentes tem dieta pobre em cálcio e a quantidade deste mineral absorvida de diferentes tipos de dieta é muito variada. Certos nutrientes, como o fósforo, proteínas e fatores antinutricionais, interferem na sua absorção. A resposta positiva à ingestão de cálcio parece ser melhor com leite ou sais de fosfato de cálcio de extratos do leite do que com carbonato ou citrato de cálcio. Portanto, recomenda-se que 60% das necessidades de cálcio sejam fornecidas sob a forma de produtos lácteos, em razão da alta biodisponibilidade deste, pois se apresenta organicamente ligado à caseína. A necessidade diária estimada para o adolescente é de 1.300 mg.

 

Ferro

No período da adolescência, há aumento das necessidades de ferro devido à expansão do volume plasmático para disposição de maior massa eritrocitária e de maior quantidade de mioglobina, importantes no desenvolvimento da massa muscular, principalmente em meninos durante o pico de crescimento pubertário e nas meninas após a menarca. A deficiência de ferro na adolescência é muito frequente. Neste período, há elevada prevalência de anemia por inadequação de ferro na dieta e pelo aumento das necessidades desse mineral. Ressalta-se a maior biodisponibilidade do ferro heme em alimentos de origem animal, devendo-se monitorar a ingestão de carnes (bovina, suína, de pescado e de aves) pelo adolescente, principalmente o adepto à dieta vegetariana.

As recomendações diárias são de 8 mg/dia para ambos os sexos nas idades entre 9 e 13 anos e 11 mg/dia e 15 mg/dia, respectivamente, para meninos e meninas entre 14 e 18 anos.

 

Zinco

Este oligoelemento tem adquirido importância na nutrição por estar relacionado à regeneração óssea e muscular, desenvolvimento ponderal e maturação sexual. Atraso de crescimento e hipogonadismo têm sido relatados em adolescentes do sexo masculino com deficiência de zinco.

As recomendações diárias são de 8 a 11mg/dia.

 

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA UMA CONDUTA ALIMENTAR SAUDÁVEL E FORMAÇÃO ADEQUADA DO HÁBITO ALIMENTAR

Em Relação aos Pré-escolares

1.    Fixar horários para refeições e lanches de modo que a criança sinta fome na próxima refeição. Na fase pré-escolar, o esquema alimentar deve ser composto por 5 ou 6 refeições diárias com horários regulares: café da manhã, lanche matinal, almoço, lanche vespertino, jantar e, algumas vezes, lanche antes de dormir.

2.    Estabelecer tempo definido e suficiente para cada refeição. Se a criança não se alimentar nesse período, a refeição deve ser encerrada e oferecido algum alimento apenas na próxima.

3.    O tamanho das porções dos alimentos deve estar de acordo com o grau de aceitação da criança.

4.    Não utilizar a sobremesa como recompensa ao consumo dos demais alimentos, e sim como mais um item da refeição.

5.    Controlar a oferta de líquido nos horários das refeições, evitando a distensão do estômago, o que pode causar estímulo de saciedade precocemente. Oferecer os líquidos após as refeições e, de preferência, água ou sucos naturais.

6.    Salgadinhos, balas e doces não devem ser proibidos (para não estimular ainda mais o interesse da criança), mas devem ser consumidos em horários e quantidades adequados para não atrapalhar o apetite da próxima refeição.

7.    A criança deve sentar à mesa com os outros membros da família. A família é o modelo para o desenvolvimento de preferências e hábitos alimentares. O ambiente na hora da refeição deve ser calmo e tranquilo, sem a televisão ligada ou outras distrações, como brincadeiras e jogos. Deve-se centrar a atenção no ato de se alimentar.

8.    Envolver a criança nas tarefas de realização da alimentação (escolha e compra dos alimentos e seu preparo).

9.    Variar tipos, cores, texturas e formas de apresentação dos alimentos.

10. Limitar a ingestão de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar.

11. Limitar o uso de gorduras trans e saturadas, estimulando o consumo de gorduras monossaturadas e poli-insaturadas, principalmente na forma de ômega 3.

12. Oferecer alimentos ricos em ferro, cálcio, vitaminas A e D e zinco, essenciais nessa fase da vida.

13. Respeitar as “Leis de Scudero” na alimentação:

1ª Lei – Quantidade do alimento: deve ser suficiente para cobrir as exigências energéticas do organismo e mantê-lo em equilíbrio.

2ª Lei – Qualidade: o regime alimentar deve ser completo em sua composição, ou seja, incluir todos os nutrientes que devem ser ingeridos diariamente.

3ª Lei – Harmonia: quantidades dos diversos nutrientes que integram a alimentação devem guardar uma relação de proporção entre si.

4ª Lei – Adequação: a finalidade da alimentação está subordinada a sua adequação no organismo. A adequação está subordinada ao momento biológico da vida, aos hábitos individuais e à situação socioeconômica do indivíduo. Na vigência de doenças, considerar o órgão ou sistema alterado pela enfermidade.

 

Em Relação aos Escolares e Adolescentes

1.    Ingerir nutrientes em quantidade e qualidade adequadas ao crescimento, ao desenvolvimento e à prática de atividades físicas em cada faixa etária.

2.    Variar a alimentação incluindo todos os grupos alimentares e evitar o consumo de refrigerantes, balas e outras guloseimas.

3.    Priorizar o consumo de carboidratos complexos em detrimento dos simples (inferior a 25% do valor energético total).

4.    Consumo diário e variado de frutas, verduras e legumes – ótimas fontes de calorias, minerais, vitaminas hidrossolúveis e fibras.

5.    Restringir o consumo de gorduras trans e saturadas para profilaxia de aterosclerose e doença coronariana na vida adulta.

6.    Estimular o consumo de peixes marinhos 2 vezes/semana.

7.    Controlar a ingestão de sal para prevenir hipertensão arterial.

8.    Consumo adequado de cálcio para formação adequada de massa óssea e profilaxia da osteoporose na vida adulta.

9.   Controle do ganho excessivo de peso adequando-se a ingestão de alimentos ao gasto energético e ao desenvolvimento de atividade física regular.

10. Orientar o escolar e sua família sobre a importância de ler e interpretar corretamente os rótulos dos alimentos industrializados.

11. Evitar a substituição de refeições por lanches.

12. Estimular a prática de atividades físicas.

13. Reduzir e limitar o tempo gasto com atividades sedentárias (TV, videogame e computador).

14. Incentivar hábitos alimentares e estilo de vida adequados para toda a família.

 

TÓPICOS IMPORTANTES

      A prevenção é fator fundamental na alimentação infantil, uma vez que a obesidade aumenta a cada dia, inclusive entre as crianças, geralmente em função das mudanças de hábitos e comportamentos.

      O excesso de calorias consumidas e a redução da atividade física, tanto na prática de esportes quanto nas brincadeiras, devem ser os principais pontos de mudança na rotina das crianças.

      O padrão alimentar do adulto depende daquele aprendido no desmame e durante a infância. A preocupação é com a introdução de novos alimentos, o que deve ser feito com muita cautela e cuidado.

      Crianças que aprendem a se alimentar corretamente, ou seja, com bons hábitos, têm menor risco de desenvolverem várias doenças e uma maior expectativa de vida.

      A prevenção destas doenças pode ser feita pela adoção de estilo de vida e hábitos alimentares mais saudáveis, com aumento do consumo de verduras, legumes, frutas, leguminosas, cereais integrais, associado à redução da ingestão de alimentos ricos em gorduras saturadas e trans, colesterol, sal e açúcar.

      A promoção da alimentação saudável na infância e adolescência, além de suprir as demandas nutricionais de cada estágio da vida, tem o potencial de conferir significantes benefícios à saúde em longo prazo.

 

BIBLIOGRAFIA

1.    Andrade AS. Alimentação do pré-escolar e escolar. Curso Nestlé de Atualização em Pediatria. Setembro/2009.

2.    Ganglione CP, Lopez FA, Brasil ALD. Alimentação no segundo ano de vida, pré-escolar e escolar –Nutrição e dietética em clínica pediátrica. São Paulo: Atheneu; 2003. p.61-72.

3.    Escrivão MAMS. Alimentação saudável na adolescência. Curso Nestlé de Atualização em Pediatria. Setembro/2009.

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5.    Conceição JA. Saúde escolar – A criança, a vida e a escola. São Paulo: Sarvier; 1994. p.37;73-86.

6.    Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Manual de Orientação – Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

7.    Pierre R. Guesry – Papel nutricional dos refrescos na infância e adolescência. 37º Nestlé Nutrition; 1995.

8.    Tojo R, Leis R, Recarey MD, Pavon P. Hábitos alimentares das crianças em idade pré-escolar e escolar: riscos para a saúde e estratégias para a intervenção. 37º Nestlé Nutrition; 1995.

9.    Rask-Nissila l, Jokinen E, Terho P, Tammi A, Hakanen M, Ronnemaa T, et al. Effects of diet on the neurologic development of children at 5 years of age. J Pediatr 2002;140(3):328-33.

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