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Anatomia e Fisiologia da Pele

Última revisão: 14/11/2013

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Versão original publicada na obra Fochesatto Filho L, Barros E. Medicina Interna na Prática Clínica. Porto Alegre: Artmed; 2013.

 

Definição

A pele é o maior órgão do corpo humano. Reveste o organismo preservando a homeostasia do meio interno.

As funções da pele são as seguintes:

•Proteção contra agentes externos (físicos, químicos, mecânicos e biológicos)

•Termorregulação

•Resposta imunológica

•Controle hemodinâmico

•Sensorial

•Produção e excreção de metabólitos

•Endócrino

 

A pele é constituída por três camadas: epiderme, derme e hipoderme (Fig. 12.1).

 

 

Figura 12.1

Representação das camadas da pele.

 

Epiderme

A epiderme constitui-se em um epitélio escamoso estratificado queratinizado composto por queratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel.

 

Epitélios de revestimento

Os epitélios podem ser classificados como de revestimento e glandular. O epitélio de revestimento reveste a superfície externa e as cavidades do corpo. É formado por células unidas entre si e dispostas sobre a membrana basal.

A membrana basal é constituída pelas lâminas basal e reticular. A lâmina basal é uma camada de matriz extracelular em contato direto com as células epiteliais. É composta por laminina, colágeno IV, entactina e pro-teoglicanas.

Já a lâmina reticular é composta por fibras colágenas contínuas com o tecido conectivo.

 

A adesão entre as células é feita por diversos mecanismos. Entre eles estão os seguintes:

 

Caderina: proteína transmembrana que promove aderência entre células contíguas.

 

Zônulas de oclusão: faixas de reentrâncias e saliências de membranas adjacentes.

 

Zônula de adesão: discreta separação entre as membranas em local de acúmulo de material elétrondenso na superfície interna das membranas.

 

Junção comunicante:  estrutura proteica que contém poro hidrofílico central alinhado com o da célula adjacente, formando um canal intercelular.

 

Desmossomo: constituído centralmente por desmogleína, uma estrutura amorfa, que se interpõe entre as membranas plasmáticas de células adjacentes. Na sua porção citoplasmática, é constituído por uma placa densa submembranosa composta por proteínas como desmoplaquinas I e II, paco-globina, desmoioquina, desmocalmina e polipeptídeo da faixa 6. Nessas placas, estão inseridos os tonofilamentos, estruturas filamentosas que formam uma rede que vai de um desmossomo a outro, passando pelo núcleo da célula. O desmossomo é formado também por glicoproteínas transmembranas denominadas caderinas, que podem ser de dois tipos: desmogleína e desmocolina (Fig. 12.2).

 

Hemidesmossomos: estruturas de adesão semelhantes aos desmossomos, no entanto apresentam uma única placa de aderência e unem a membrana das células basais à membrana basal.

 

O tecido conectivo fica abaixo da membrana basal e contém os vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição do epitélio.

O epitélio de revestimento pode ser classificado, de acordo com o número de camadas e a forma das células da camada mais superficial, em epitélio simples e estratificado.

epitélio simples é composto por apenas uma camada de células e subdivide-se de acordo com o tipo celular (Tab. 12.1).

epitélio estratificado é composto por mais de uma camada de células e sua classificação baseia-se na forma das células mais superficiais. Os tipos mais frequentes no organismo são o pavimentoso e o prismático (Quadro 12.1).

epitélio pseudoestratificado é um tipo de epitélio simples que apresenta núcleos em várias alturas, dando a impressão de ser um epitélio estratificado (Quadro 12.2).

epitélio de transição é um epitélio pseudoestratificado, embora tenha a aparência de epitélio estratificado (Quadro 12.3). Todas as células estão em contato com a membrana basal, no entanto, nem todas atingem a superfície.

 

A epiderme e os queratinócitos: os queratinócitos são as células predominantes na epiderme (estão em 80% dela), apresentam origem ectodérmica e produzem queratina – proteína que forma a camada superficial da pele (camada córnea) –, além de unhas e cabelo. São ligados entre si por estruturas de adesão denominadas desmossomos (pontes intercelulares) e com a membrana basal por hemidesmossomos.

 

 

Figura 12.2

Representação de desmossomo e hemidesmossomo.

 

Os queratinócitos originam-se na camada basal e sofrem um processo de diferenciação à medida que atingem a superfície da pele, formando as diferentes camadas da epiderme, que são as seguintes:

a) Camada basal: camada essencialmente germinativa que origina as demais camadas da epiderme por meio de progressiva diferenciação celular. É constituída por células basais, melanócitos e células de Merkel.

As células basais são cuboides, apresentam núcleo grande, alongado e hipercromático.

Os melanócitos são células dendríticas de origem ectodérmica presentes na camada basal e em folículos pilosos. Apresentam prolongamentos que se comunicam com as células da camada espinhosa, formando a unidade epidermomelânica (Fig. 12.3). Sua principal função é a produção de melanossomos, grânulos ricos em melanina, que são transportados para o interior dos queratinócitos pelos dendritos. O número de melanócitos é igual nas diferentes raças, sendo a cor da pele determinada por morfologia, tamanho e distribuição dos melanócitos.

As células de Merkel apresentam núcleo lobulado e citoplasma claro, contendo grânulos eosinofílicos repletos de neurotransmissores que são liberados mediante pressão. São encontradas principalmente em lábios, dedos, boca e membrana externa dos folículos pilosos e funcionam como mecanorreceptores.

Abaixo da camada basal, encontra-se a membrana basal, que é uma fina estrutura constituída por muco-polissacarídeos.

 

b) Camada espinhosa ou camada de Malpighi: constituída por queratinócitos com aspecto poligonal e por células de Langerhans – células dendríticas com origem na medula óssea. As células de Langerhans reconhecem, processam e apresentam os antígenos aos linfócitos, gerando uma resposta imunológica. Localizam-se na camada espinhosa, na derme, no timo, no baço e nos linfonodos e não apresentam estruturas de adesão.

 

c) Camada granulosa: formada por células granulosas achatadas que se caracterizam pela grande quantidade de grânulos de queratina.

 

d) Camada córnea: ao atingir a superfície, os queratinócitos perdem o núcleo e formam a camada córnea, que é composta por células achatadas, anucleadas e eosinofílicas.

 

e) Zona da membrana basal: a junção dermoepidérmica ocorre através de uma estrutura denominada zona da membrana basal, que funciona como suporte mecânico, orienta o crescimento dos queratinócitos em direção à superfície, estimula a atividade mitótica na camada basal, além de atuar como barreira. É formada por quatro componentes:

 

•Membrana plasmática das células basais: hemi-desmossomos.

•Lâmina lúcida: local por onde passam as fibrilas de ancoragem que ligam os hemidesmossomos à lâmina densa abaixo. Essa lâmina é composta por glicoproteínas.

•Lâmina densa: componente fibrilar imerso em material amorfo granuloso. O principal constituinte dessa lâmina é o colágeno IV.

•Sublâmina densa: composta por fibrilas de ancoragem, feixes de microfibrilas e fibras colágenas.

 

 

 

Derme

A derme é constituída por fibras elásticas e colágenas em meio a substância fundamental. As principais células são fibroblastos, histiócitos, mastócitos e células dendríticas. As células sanguíneas, linfócitos, plasmócitos, eosinófilos e neutrófilos, podem estar presentes em graus variados. A derme divide-se nas seguintes partes:

 

 

Figura 12.3

Representação da unidade epidermomelânica.

 

a) Derme papilar: fibras colágenas mais finas e dispostas verticalmente. Essas fibras formam as papilas dérmicas, que se moldam aos cones epiteliais da epiderme. A derme papilar apresenta maior celularidade.

 

b) Derme reticular: composta por fibras colágenas mais espessas e onduladas dispostas paralelamente à epiderme.

 

c) Derme perianexial: semelhante à derme papilar com disposição em torno dos anexos.

A derme aloja as estruturas anexiais: glândula sudorípara écrina e apócrina, unidade pilossebácea e músculo eretor do pelo, além de estruturas nervosas e vasculares (Fig. 12.4).

 

Glândula sudorípara écrina. Esse tipo de glândula está presente em toda a superfície do corpo, sendo maior a concentração nas regiões palmoplantar e axilar. Origina-se de brotamentos da epiderme. A porção secretora (ácino) localiza-se na junção dermo-hipodérmica ou na porção inferior da derme. O ducto sudoríparo desemboca diretamente na superfície da pele, e o hipotálamo estimula as glândulas através de terminações simpáticas colinérgicas. A acetilcolina é o neurotransmissor responsável pela sudorese. O fluido precursor, produzido pela porção secretora da glândula, tem características semelhantes às do plasma, porém, sem proteínas. Há modificações no fluido precursor à medida que percorre o ducto, sendo os íons sódio e cloreto reabsorvidos. A reabsorção depende do fluxo da secreção através do ducto. Quando esse fluxo é lento, ocorre maior absorção de íons sódio e cloreto, resultando na diminuição da pressão osmótica no interior do ducto. Ocorre também maior reabsorção de água, tornando o fluido mais concentrado. Os principais constituintes do suor são sódio, cloreto, potássio, ureia, lactato e glicose, e a principal função das glândulas sudoríparas écrinas é a termorregulação (Fig. 12.5).

 

 

 

Figura 12.4

Representação de estruturas anexiais.

 

Glândula sudorípara apócrina. Desenvolve-se a partir da porção infundibular ou superior do folículo piloso. Está presente nas regiões axilar, genital e periareolar. O ducto sudoríparo desemboca acima do ducto da glândula sebácea. A porção secretora (ácino) localiza-se na junção dermo-hipodérmica ou na derme. É composta por uma camada de células, que varia em aparência do cuboide ao colunar, circundada por células mioepiteliais. Os ápices das células colunares projetam-se para o interior do lúmen da glândula e, nos cortes histológicos, aparecem como se tivessem sido expelidos (secreção por decapitação). Estímulos nervosos e hormonais são correspondidos. A composição da secreção é parcialmente conhecida, sendo encontrados proteína, amônia, carboidratos e ácidos graxos. O odor forte decorre do processamento da secreção por bactérias.

 

 

Figura 12.5

Glândula sudorípara écrina.

 

Folículo piloso. Forma-se a partir de projeções da epiderme para o interior da derme durante a embriogênese. Os pelos finos que recobrem a maior parte do corpo são denominados vellus, e os pelos mais longos e espessos, presentes em couro cabeludo, barba, cílios, região pubiana e axilas, são denominados pelos terminais.

O folículo é dividido em segmento superior e inferior. O segmento superior constitui-se em infundíbulo – porção que vai da abertura do folículo na superfície até a inserção da glândula sebácea – e istmo – fica entre o ducto sebáceo e vai até a inserção do músculo eretor do pelo. O segmento inferior é formado pela haste, segmento que vai do istmo ao bulbo, e pelo bulbo, porção mais inferior do folículo.

O folículo piloso é composto por haste pilosa, bainha folicular interna e externa e bulbo germinativo. A matriz, no interior do bulbo, é constituída por células epiteliais e melanócito, e sua base envolve a papila, formada por tecido conectivo e vasos. As células do bulbo se multiplicam e dão origem à haste pilosa, que é formada por células queratinizadas cobertas por cutícula (Fig. 12.6).

Os pelos passam por três fases evolutivas, que são as seguintes (Fig. 12.7):

 

Anágena: fase de intensa atividade mitótica no bulbo. Ela pode durar de 3 a 6 anos.

Catágena: nessa fase, as mitoses são interrompidas e a apoptose das células da matriz e da bainha interna é iniciada, ocasionando retração da porção inferior do folículo até o nível da inserção do músculo eretor do pelo. A duração da fase catágena é de duas semanas.

Telógena: fase de repouso. As células da papila emitem sinais para promover a atividade mitótica das células-tronco para iniciar nova fase anágena. Essa fase tem duração de três meses.

 

 

 

Figura 12.6

Representação de corte longitudinal de folículo piloso.

 

 

Figura 12.7

Fases evolutivas dos cabelos.

 

Unhas

A unidade ungueal é composta por seis componentes: matriz ungueal, que origina a lâmina ungueal e está localizada abaixo da borda ungueal proximal; lâmina ungueal, que está aderida ao leito ungueal; sistema cuticular, que é composto, na porção proximal, pela cutícula e, na porção distal, pelo hiponíquio; leito ungueal; sistema de ligamentos de ancoragem, entre o osso e a matriz proximalmente e entre o osso e o sulco distalmente; prega ungueal proximal, lateral e distal.

A lúnula é uma área esbranquiçada em formato decrescente, distal à prega ungueal proximal, que delimita o epitélio da matriz.

As unhas crescem 0,1 mm/dia nas mãos (Fig. 12.8) e metade ou um terço dessa medida nos pés.

 

 

 

Figura 12.8

Representação de corte longitudinal da unha.

 

Hipoderme

A hipoderme é formada por lóbulos de adipócitos delimitados por septos de tecido conectivo vascularizados e inervados. Ela funciona como isolante térmico e mecânico, depósito de calorias e ainda favorece a mobilidade da pele sobre os músculos. É considerada um importante local de produção e conversão hormonal.

 

Leituras Recomendadas

Chu DH. Overview of biology, development, and structure of skin. In: Wolff K, Goldsmith LA, Katz SI, Gilchrest, Paller AM, Leffell DJ, editors. Fitzpatrick’s dermatology in general medicine. 7th ed. New York:McGraw-Hill; 2008. p. 57-72.

Kierszenbaum AL. Histologia e biologia celular: uma introdução à patologia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2004.

Murphy GF. Histology of the skin. In: Elder DE, Elenitsas R, Johnson BL, Murphy G, editors. Lever´s histopathology of the skin. 9th ed. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins; 2004. p. 7-58.

Sampaio AS, Rivitti EA. Dermatologia. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas; 2007.

Tosti A, Piraccini BM. Biology of nails and nail disorders. In: Wolff K, Goldsmith LA, Katz SI, Gilchrest, Paller AM, Leffell DJ, editors. Fitzpatrick’s dermatology in general medicine. 7th ed. New York:McGraw-Hill; 2008. p. 1028-36

 

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