Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 25/01/2009
Comentários de assinantes: 1
Hospital Bed System Dimensional and Assessment Guidance to Reduce Entrapment - Guidance for Industry and FDA Staff.
The Hospital Bed Safety Workgroup (HBSW). FDA, 2006. [Link Livre para o Texto]
Durante 20 anos, o FDA recebeu relatos de pacientes que sofreram lesões associadas com camas hospitalares. Ao todo foram relatados 691 eventos, com 413 mortes (cerca de 60% de mortalidade), 120 casos de lesões sérias e 158 casos onde quase ocorreu uma lesão (near-miss). É difícil afirmar que este é o real número de eventos que ocorreram nesses 20 anos, levando em conta que essas foram notificações oficiais ao FDA. Além disso não foi avaliada a incidência de eventos pois não se sabe o número real de pacientes em risco. Apesar desses problemas, os números sugerem uma situação ruim dentro desse campo tão pouco explorado nas diferentes realidades de saúde.
Sendo assim, o FDA, em 1999 fundou um grupo de trabalho para lidar com essa questão. O Grupo de Trabalho para Segurança de Camas Hospitalares (Hospital Bed Safety Workgroup – HBSW)) é uma parceria entre o FDA, a indústria de camas hospitalares, organizações ligadas a saúde pública e agências federais norte-americanas, cujo objetivo é estudar modos de reduzir o risco do paciente relacionado às camas hospitalares.
Este guia que será comentado é o resultado dos trabalhos desse grupo. Ele aponta recomendações aos fabricantes de camas e aos locais que usam camas hospitalares (não só hospitais, como clínicas, etc). Não tendo aspecto legal, segue sendo apenas uma recomendação sobre esse assunto nos EUA.
Este guia fornece informações de segurança sobre camas e acessórios de camas hospitalares. O objetivo é diminuir a chance de o paciente ficar preso ou se machucar na cama, em suas grades e reentrâncias (isso envolve estudos com colchões, grades, cabeceira e base da cama, além de acessórios).
Muitos aspectos estão envolvidos nesse campo: design das camas, como é feita a assistência e a monitorização dos pacientes, necessidades do paciente, dos médicos e dos familiares. É necessário que toda e qualquer instituição realize uma avaliação de sua realidade frente à análise desse guia. Além disso, os fabricantes devem cada vez mais se envolver nesse processo.
O que não está envolvido nesse guia são câmaras hiperbáricas, camas bariátricas, pediátricas e de neonatologia, suportes de centro cirúrgico e de centro obstétrico, aparelhos de radiologia e macas para exame clínico.
O HBSW identificou alguns dados interessantes. Os pacientes de maior risco são idosos e pacientes de longa permanência, principalmente quando apresentam algum grau de confusão mental ou com problemas de controle motor. Os fatores de risco podem ser vistos na Tabela 1.
Tabela 1: Fatores de risco para lesões em camas hospitalares
Problemas de memória |
Controle motor prejudicado |
Problemas de sono |
Dor |
Incontinência |
Levantar da cama e andar sem assistência (quando há necessidade de assistência) |
Idosos |
Confusão mental |
Há 7 potenciais locais que podem gerar dano ao paciente em uma cama hospitalar. Essas lesões podem ocorrer com a cama retificada ou com a cabeceira levantada, com as grades completamente levantadas ou em qualquer outra posição. As Zonas que mais relatos de lesão têm são as de 1 a 4. Veja a Figura 1 e a Tabela 2 para maiores detalhes.
Figura 1: Zonas de risco em camas hospitalares.
Zona 1: no meio da grade. Zona 2: abaixo da grade, entre seus suportes. Zona 3: entre a grade e o colchão. Zona 4: abaixo da borda da grade. Zona 5: entre as grades. Zona 6: entre a grade e a cabeceira. Zona 7: entre a cabeceira e o colchão.
Tabela 2: Zonas de risco e forma do paciente sofrer lesão
Zona 1 |
Qualquer espaço aberto dentro da grade |
|
Zona 2 |
Abaixo da grade, entre seu limite inferior e o colchão |
|
Zona 3 |
Qualquer ponto entre a grade e o colchão |
|
Zona 4 |
Entre a extremidade da grade e o colchão |
|
Zona 5 |
Entre as grades superior e inferior de um lado da cama |
|
Zona 6 |
Entre o final da grade e a cabeceira (ou parte inferior) da cama |
|
Zona 7 |
Entre o colchão e a cabeceira (ou parte inferior) da cama |
|
Quanto ao paciente, há três regiões do corpo de alto risco para sofrerem lesões: a cabeça, o pescoço e o tórax (Tabela 3).
Tabela 3: Áreas do corpo de maior risco
Cabeça |
Leva-se em conta o diâmetro medido através da face, de orelha a orelha para considerar que a cabeça não passe por uma estrutura. O percentil 5 de medidas de cabeças femininas (que são menores) é de 120 mm nesse local. Nenhuma abertura ou região deve permitir que esse diâmetro da cabeça se encaixe em uma cama hospitalar. |
Dimensão considerada: 120 mm |
Pescoço |
O pescoço não deve ficar preso em nenhuma região da cama. Muitos fatores alteram o diâmetro do pescoço: idade, massa muscular, compressibilidade dessa região. O diâmetro no percentil 1da população feminina é de 79 mm. O valor levado em conta é 25% menor: 60 mm. Leva-se em conta também locais que formam ângulo em “V”, onde a angulação não pode ser muito aguda para evitar riscos (Figura 2). |
Dimensão considerada: 60 mm e angulação maior que 60° |
Tórax |
As aberturas entre as grades devem ser largas o suficiente para que o tórax passe entre elas. O tórax masculino no percentil 95 é de 318 mm, na região da altura dos mamilos. O tórax feminino não foi considerado pois as estruturas da mama são compressíveis e tendem a diminuir de volume com a idade avançada. |
Dimensão considerada: 318 mm |
Figura 2: Angulação e lesão em pescoço.
Um resumo das recomendações do FDA publicada nesse guia, quanto às camas hospitalares, está na Tabela 4.
Zona 1 |
Cabeça |
Espaços < 120 mm |
Zona 2 |
Cabeça |
Influenciada pela compressibilidade do colchão Espaços < 120 mm |
Zona 3 |
Cabeça |
Influenciada pela compressibilidade do colchão Espaços < 120 mm |
Zona 4 |
Pescoço |
Influenciada pela compressibilidade do colchão Espaços < 60 mm e ângulo > 60º |
Zona 5 |
Pescoço Tórax |
Em estudo – sem recomendações A angulação em “V” pode representar um risco |
Zona 6 |
Pescoço Tórax |
Em estudo – sem recomendações A angulação em “V” pode representar um risco |
Zona 7 |
|
Em estudo – sem recomendações Compressibilidade e tamanho do colchão podem influenciar |
1. Hospital Bed Safety - FDA [Link livre]
"O que mais me deixa intrigado quanto às camas hospitalares é a questão da prevenção de escaras. Pacientes que ficam acamados por muito tempo na maioria das vezes desenvolvem escaras. Não seria possível, já com os avanços tecnológicos disponíveis, ter se desenvolvido um modelo de cama que automaticamente fizesse modificações nas suas inclinações, curvaturas, etc, de modo a se prevenir o surgimento de escaras. Confiar apenas nos cuidados de enfermagem, para prevenir o surgimento de escaras,nem sempre é suficiente."
O MedicinaNET é o maior portal médico em português. Reúne recursos indispensáveis e conteúdos de ponta contextualizados à realidade brasileira, sendo a melhor ferramenta de consulta para tomada de decisões rápidas e eficazes.
Medicinanet Informações de Medicina S/A Cnpj: 11.012.848/0001-57 | info@medicinanet.com.br |
MedicinaNET - Todos os direitos reservados.
Em função da pandemia do Coronavírus informamos que não estaremos prestando atendimento telefônico temporariamente. Permanecemos com suporte aos nossos inscritos através do e-mail info@medicinanet.com.br.