Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 01/06/2018
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Contexto Clínico
A administração de cristaloides isotônicos intravenosos é uma das terapias médicas mais comuns, com uso rotineiro em serviços de emergência, enfermarias de hospital, UTIs e salas de cirurgia. No entanto, não se sabe se a composição do líquido cristaloide isotônico tem um efeito sobre os resultados clínicos dos pacientes que não são críticos, que estão sendo tratados fora de UTIs.
O Estudo
Foi realizado um estudo unicêntrico, pragmático e cruzado múltiplo comparando cristaloides balanceados (solução de Ringer lactato ou Plasma-Lyte A) com solução salina entre adultos que foram tratados com cristaloides intravenosos no departamento de emergência e, posteriormente, hospitalizados fora de uma UTI.
O tipo de cristaloide que foi administrado no departamento de emergência foi atribuído a cada paciente com base no mês de calendário, com todo o departamento de emergência cruzando entre cristaloides balanceados e salina mensalmente durante um período de 16 meses. O desfecho primário foram dias sem hospital (dias vivos após a alta antes do 28º dia).
Os desfechos secundários incluíram eventos renais adversos maiores em 30 dias ? um composto de morte por qualquer causa, nova terapia de substituição renal ou disfunção renal persistente (definida como uma elevação do nível de creatinina =200% em relação ao valor basal), todos avaliados na alta do hospital ou em 30 dias, o que ocorresse primeiro.
Um total de 13.347 pacientes foi inscrito, com um volume de cristaloides mediano administrado no departamento de emergência de 1.079mL e 88,3% dos pacientes recebendo exclusivamente o cristaloide designado. O número de dias livres de hospital não diferiu entre os grupos de solução cristaloide balanceada e salina (mediana de 25 dias em cada grupo; odds ratio [OR] ajustada com cristaloides balanceados, 0,98; IC 95% 0,92 a 1,04; P = 0,41). Cristaloides balanceados resultaram em menor incidência de eventos renais adversos maiores em 30 dias do que salina (4,7% versus 5,6%; OR ajustada, 0,82; IC 95%, 0,70 a 0,95; P = 0,01).
Aplicação Prática
É excelente observar um estudo sobre soluções cristaloides sendo aplicado no formato de ensaio clínico e com dedicação a uma população pouco estudada, que é de pacientes não críticos. Ainda que pese o fato de o estudo ser unicêntrico, trata-se, sem dúvida, de evidência significativa.
Segundo as conclusões dos autores do estudo que foi conduzido com adultos não críticos tratados com fluidos intravenosos no pronto-socorro, o tratamento com cristaloides balanceados não resultou em menor tempo até a alta hospitalar (dias sem hospital) em comparação com o tratamento com solução salina.
Os autores destacam que a intervenção resultou em menor incidência de um composto de morte, nova terapia de substituição renal e disfunção renal persistente (eventos renais adversos maiores em 30 dias), porém deve-se levar em conta que foi um desfecho secundário para este estudo. A menor incidência de eventos renais adversos maiores em 30 dias no grupo dos cristaloides balanceados é consistente com os resultados do Smart, que foi conduzido concomitantemente em adultos criticamente doentes.
Talvez ainda seja precoce dizer que vale a pena usar soluções balanceadas em detrimento de salina em doentes não críticos, mesmo com base nos resultados secundários deste estudo, visto que a queda de risco absoluto não é tão alta assim e o consumo dessas soluções é muito grande na prática diária. Diferentemente do que se verificou no caso de doentes críticos, convém deixar ainda em aberto a escolha de cristaloides em adultos não críticos.
Bibliografia
Self WH et al. Balanced Crystalloids versus Saline in Noncritically Ill Adults. N Engl J Med 2018; 378:819-828.
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